Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Vivo ou morto, terrorista vale voto

Agora, que o gosto de pólvora se dissipou nos paladares dos norte-americanos, é preciso pensar friamente: a quem interessaria a esconder o corpo do terrorista Osama bin Laden? Se fosse no Brasil, as tropas americanas responderiam processo pelo crime de ocultação de cadáver. Ou então, teríamos um vídeo feito com celular mostrando o corpo do Osama em todos os programas de notícias do meio-dia. Mas nos EUA tudo virou uma grande festa e a missa de corpo ausente não incomodou a ninguém…

Pensando em termos de mídia, foi a operação de guerra mais constrangedora de todos os tempos. A imprensa se debatia em tentar justificar a não-apresentação das imagens do terrorista assassinado. As desculpas foram inúmeras: não atiçar a ira dos seguidores da al Qaida; respeito à dignidade do defunto; as fotos eram muito chocantes; respeito aos costumes religiosos do Osama, que deveria ter seu corpo jogado ao mar… Enfim, um conjunto de desculpas desencontradas ao longo da semana seguinte à morte e, a cada dia, uma nova revelação contraditória.

Para tentar nos fazer crer sobre o sucesso da operação foi mostrado de tudo. Grupo especial secreto de operações (DEVGRU), imagens via satélites divulgadas, maquetes de uma casa em tamanho real, corpos deitados sobre sangue etc. Até na internet apareceu uma foto falsa de Bin Laden morto. Só não mostraram o corpo do homem mais procurado do mundo nos últimos 10 anos.

Uma mentira contada mil vezes…

É difícil acreditar, por mais crédulos que sejamos. Os presidentes americanos têm um histórico complicado de tentativas de levantar a sua própria popularidade. Richard Nixon estava em baixa, envolvido no Caso Watergate e perdendo a guerra espacial para os russos (que haviam lançado o primeiro homem ao espaço), quando, de repente, o presidente americano surge como o único herói que mandou o homem seis vezes à lua em apenas três anos de mandato. Depois de Nixon, nenhum homem voltou a pisar na lua.

Geroge Bush (pai) estava com a popularidade em baixa por conta de uma crise econômica nos EUA, em 1990. Resolveu criar uma coalizão entre as Nações Unidas para frear o avanço do presidente iraquiano Saddam Hussein no Kuwait. Sua popularidade voltou a subir no período de guerra.

Bill Clinton não teve nada com Monica Lewinsky…

George W. Bush foi quem mais aproveitou o atentado de 11 de setembro. Nem Bin Laden gozou de tanto prestígio. Após as quedas das Torres Gêmeas do World Trade Center, sua popularidade chegou a 90% nos EUA. E ele não pegou o Osama bin Laden… Como a popularidade começou a cair por causa do início da recessão econômica, o presidente ‘descobriu’ que o Iraque de Saddam estava produzindo ‘armas de destruição em massa’. Alertou a ONU e exigiu uma devassa nos planos do ditador iraquiano. A ONU foi, procurou, não encontrou nada e disse que não precisava invadir o Iraque. Mesmo assim, talvez tomando as dores de seu pai, ‘W’ caçou e prendeu Saddam. Como não achou nenhuma arma de destruição em massa no Iraque, destruiu em massa o país e milhares de iraquianos.

Agora, Mr. president Barack Obama, às vésperas da eleição e com a popularidade em baixa, encontrou e matou Bin Laden. Porém, não vai mostrar o corpo porque ‘existe o risco de inflamar a opinião pública do Oriente Médio’.

Ou seja, tudo é uma questão de fé nas palavras de um presidente americano que eu, particularmente, não tenho. O certo é que Bin Laden vai decidir mais uma eleição para presidente nos EUA. Vivo ou morto, terrorista vale voto.

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Analista de marketing, Salvador, BA