‘O novo programa da Globo, ‘A Diarista’, nascido de um especial de fim de ano, está bem abaixo da linha de humor da casa. Não tem experimentos, como o enxerido ‘Sexo Frágil’, e não segura a onda do humorzão mais popular, que tem à esquerda a turma do Casseta e à direita o ‘Zorra Total’.
‘A Diarista’ tem a sua matriz, talvez involuntária, no filme ‘Domésticas’, de Fernando Meirelles e Nando Olival. Repete os mesmos esquemas da folclorização dos personagens -como os pobres são engraçados, espertos, devassos e ignorantes!-, mas com um texto ainda forçado na caricatura.
No programa da estréia, Marinete (Cláudia Rodrigues) vai prestar serviço a um artista plástico gay e enlouquece com as suas obras. Vive o típico e velho dilema burguês: isso é arte ou apenas objetos que poderiam ir para o lixo? Manda pra lixeira as instalações do patrão. A ‘bicha’ enfarta no final. ‘Nooossa!’, diria o velho comediante Costinha, esse sim um mestre do humor caricato.
No primeiro episódio, o humorístico deu-se ao luxo de contar com ótimos atores, casos de Sérgio Mamberti, que fez o marchand, e Dira Paes, que salvou a sua personagem Solineuza, dando-lhe algum cheiro de Macabéa -pobre também tem seus ares metafísicos.
Ao final, uma diarista-verdade deixa um depoimento sobre a sua ignorância no trato com lagostas. Fazia o prato pela primeira vez e agoniou-se. Aqui o programa flerta rapidamente com o ‘Retrato Falado’, que acerta nas suas historinhas, mesmo com um ou outro exagero teatral de Denise Fraga. Entrelaçar mais depoimentos e ficção, matéria que Jorge Furtado e Guel Arraes têm a manha e o dom, pode render melhores dias ao novo programa.
Perguntei a Maria, diarista lá de casa, o que achou de ‘A Diarista’ da TV. Cismada, respondeu: ‘Vi muita graça não, seu Francisco’. E nada mais foi dito nem perguntado.’
CÓCEGAS
‘Hora de fazer cócegas na TV’, copyright O Globo, 14/04/04
‘Tinha tudo para ninguém mais querer ver Ingrid Guimarães e Heloísa Périssé nem pintadas de ouro. Elas estão há três anos em cartaz com ‘Cócegas’, fizeram ‘Cosquinha’, estão em capa de livro, em CD e em programa de rádio. Como se não bastasse, vão virar filme este ano, sob a direção de Domingos Oliveira, e lançar um DVD. Ou seja, ninguém agüenta mais a dupla, certo? Errado. Elas estão mais queridinhas do que nunca. O especial de fim de ano ‘Sob nova direção’, estrelado por elas, foi um dos que mais agradaram à cúpula da Rede Globo e, por isso, entrará na grade de programação a partir deste domingo. Que horas? Logo após o ‘Fantástico’, faixa que já abrigou sucessos como ‘Sai de baixo’ e fracassos como ‘Casa do terror’. Mas não pensem que elas se descabelam com o peso da responsabilidade.
– Eu fiz uma participação no ‘Sai de baixo’ como diarista no lugar da Cláudia Jimenez – lembra Ingrid. – Se conseguirmos preencher a lacuna que aquele programa deixou, vai ser uma grande felicidade. Mas não pode ser uma sangria desatada, vai ser aos poucos. As pessoas não estão mais acostumadas a rir àquela hora.
Heloísa, Lolô para os amigos, fala menos do que Ingrid e fica mais em cima do muro:
– O pessoal do ‘Sai de baixo’ fez um gol bonito, as pessoas esperam dali para melhor. Não dá para definir o sucesso. Se tivesse uma fórmula, todo mundo ia querer.
Roberto Farias, que dirige o humorístico ao lado do filho, Mauro Farias, prefere não fazer comparações. O importante, para ele, é fazer o trabalho da melhor maneira possível:
– Vamos encher o horário e sei que as pessoas vão gostar. Será melhor do que o episódio de fim de ano.
A grife que Ingrid e Heloísa criaram, que começou com ‘Cócegas’, é forte o suficiente para chamar público. Num piscar de olhos, elas passaram de atrizes quase desconhecidas a namoradinhas do humor nacional.
– Eu, com meu espírito de Pollyana, acho que as pessoas vão ver o programa. ‘Cócegas’ ajuda muito. Recebemos e-mails no site da peça de pessoas pedindo que fôssemos logo para a TV – conta Ingrid.
Um projeto apresentado ao vivo
O caminho para botar ‘Sob nova direção’ no ar foi menos árduo do que para emplacar ‘Cócegas’. Com a idéia na cabeça, a dupla conversou com Mauro e Roberto Farias, respectivamente namorado e sogro de Heloísa. Quem passou pela porta da sala de reuniões da Globo no momento em que as duas vendiam o projeto deveria ter pago ingresso.
– Fomos muito caras-de-pau – conta Ingrid, às gargalhadas. – Levantamos no meio da reunião e começamos a encenar. Literalmente, mostramos o projeto fazendo. No fim, eles nem precisaram ler o texto.
A história do programa, aliás, bem poderia ser a delas. Amigas há 12 anos, Ingrid e Lolô passaram por poucas e boas no caminho para o reconhecimento profissional. Com o projeto de ‘Cócegas’ debaixo do braço e com zero de capital para começar, elas se mandaram para o Piauí, onde o então marido de Lolô, Lug de Paula, faria um show.
– Como sou detalhista, acabei fazendo as vezes de camareira da Lolô. Espalhei pelo palco pedacinhos de papel com a lista de todas as trocas de roupa dela. Tinha pouca gente na platéia, ficamos péssimas! – lembra Ingrid. – Bem na hora estava acabando um show de música ao lado e eu e Lolô chamávamos as pessoas que saíam de lá para ver nossa apresentação. Foi um sufoco e não deu para ganhar um centavo sequer!
Mas não desistiram. A irmã de Heloísa emprestou dinheiro e elas convenceram os diretores – Luiz Carlos Tourinho, Marcelo Saback, Régis Faria, Sura Berditchevsky e Aloísio de Abreu – a trabalhar de graça.
– Cansei de descer a rua da TV Globo, no Rio, chorando por não ter passado em testes – conta Lolô.
– Hoje estamos recebendo o retorno financeiro e profissional – diz Ingrid. – Na época, chamamos uma porção de gente que se negou a trabalhar conosco.
‘Sob nova direção’ conta as peripécias de uma turma de amigos para reerguer um bar decadente. No elenco estão também Luiz Carlos Tourinho, Luís Miranda e Otávio Müller (quem apostou que Queiroz, seu personagem em ‘Celebridade’, é o assassino de Lineu perdeu. Ele morrerá nos próximos capítulos). Mostra como alguns brasileiros têm que rebolar para sobreviver.
– Queríamos falar de amizade e da luta pela sobrevivência do brasileiro, que é criativo, vive de bicos e é feliz. Já fui animadora de festas infantis e a Lolô, garçonete e vendedora. Nosso humor é de circo – diz Ingrid.
Enquanto Ingrid é detalhista, Heloísa é desligada; Heloísa é ótima para lembrar datas, Ingrid é péssima neste ponto. E Ingrid também é madrinha de Luísa, filha de Heloísa. Céus, será que a convivência é um mar de rosas e elas nunca brigam? Nem uma invejazinha boa de vez em quando?
– Já brigamos, sim – confessa Ingrid. – Convivo mais com a Lolô do que com meu namorado! Quando nos desentendemos, trancamos a porta do quarto e resolvemos rápido. E ai de quem nos interromper!
Dinheiro as atrizes ganharam. O suficiente para comprar umas coisinhas aqui, outras ali. Mas nenhuma delas fica à vontade ao tocar neste assunto.
– Melhorei de vida, é claro. Deu para aumentar a conta bancária – diz uma Heloísa contida.
– Ganhamos menos do que dizem por aí – garante Ingrid. – Comprei um apartamento melhor, troquei de carro. Quero fazer meu pé-de-meia. Mas ‘Cócegas’ é uma empresa, somos patroas. Se cair um temporal e o teatro ficar vazio, temos que arcar com o prejuízo.
A peça também está sendo encenada na Argentina por duas comediantes locais.
– ‘Cócegas’ foi uma peça vista no eixo Rio-São Paulo, mas o resto do Brasil não nos conhece – destaca Heloísa. – O programa de TV, neste sentido, é um upgrade . E é para toda a família. Já vi criança dizendo: ‘Oba, vou assistir’. E, logo depois, a mãe mandar: ‘Nada disso, vai dormir’.’
CARGA PESADA
‘O sono vai ter que esperar…’, copyright O Globo, 14/04/04
‘Mexer nesse time, nem pensar. Na nova programação da Rede Globo, a bola vai continuar rolando às quartas-feiras à noite, quando a emissora mostra os jogos de futebol. ‘A grande família’ também reconquistou seu espaço às quintas-feiras, após a novela das 21h. Amanhã, o seriado, que entra em seu quarto ano de exibição, voltará ao ar com o episódio ‘O Rei Leão’. Nele, Agostinho (Pedro Cardoso) ganhará R$ 5 mil numa ‘raspadinha’ e passará a se sentir o dono da casa (do sogro!) ao pagar o conserto do encanamento do banheiro. Mas, nesta fase, Agostinho e Bebel (Guta Stresser) terão seu próprio teto e Nenê (Marieta Severo) e Lineu (Marco Nanini) passarão pela crise da meia-idade. Após ‘A grande família’, o ‘Linha direta’ voltará com casos policiais inéditos. O primeiro será o de uma dona de casa, de 63 anos, que foi assassinada pelo namorado de sua filha, um rapaz de 29 anos. O crime ocorreu em 2001, em Pelotas (RS).
Já os caminhoneiros Pedro (Antonio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) voltarão à estrada nesta sexta-feira, depois do ‘Globo repórter’. O primeiro dos 16 episódios de ‘Carga pesada’ será ‘A gente chega lá’.
– Nesta temporada, vamos falar muito sobre a amizade – diz o ator Stênio Garcia. – Vamos enfatizar como dois homens, no caso os personagens inseparáveis Pedro e Bino, podem ser irmãos, companheiros, sem qualquer traço de preconceito.
As novidades não param. Aos sábados, o ‘Zorra total’ mostrará quatro novos quadros. Aos domingos, ‘A turma do Didi’ terá edições inéditas. E, depois de ‘Sob nova direção’, a emissora lançará o segundo ano da série americana ‘24 horas’.
A grade modificada entrou no ar anteontem. Entre histórias do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ gravadas na Amazônia e o cenário repaginado do programa de Ana Maria Braga, a emissora exibiu ‘A diarista’. Protagonizado por Cláudia Rodrigues, o humorístico é apresentado após o ‘Casseta & Planeta, urgente!’, que voltou a dar o ar de sua graça ontem.’
BAIXARIA NA TV
‘Censores com S’, copyright Jornal do Brasil, 13/04/04
‘Quando a notícia sobre uma guerra de traficantes, como a que acaba de acontecer no Rio, vira exploração em busca de mais audiência? A questão será debatida hoje na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, no seminário A Ética na Televisão em Países Democráticos, por especialistas brasileiros e convidados do Parlamento Europeu. Laurindo Leal Filho, da ONG TVER, professor da USP, vai defender um conselho de sensores, com sensibilidade capaz de captar as aspirações da sociedade. Agiria a posteriori, para evitar censura, deixando às emissoras, que são concessões, arcarem com as conseqüências. Serão analisados o projeto de lei do deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), que cria o Código de Ética da programação da TV brasileira e a engavetada Lei da Comunicação Eletrônica de Massa, que poderia enterrar a anacrônica Lei da Radiodifusão, de 1962.
– Quando um ônibus atrasa ou falta água, a pessoa sabe onde reclamar. Quando fica atônita com a TV, não tem idéia do que fazer – diz o professor, lembrando que até hoje não foi regulamentado o Artigo 220 da Constituição que diz que a sociedade tem direito de se defender da televisão.’