Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Xico Sá

‘O novo programa da Globo, ‘A Diarista’, nascido de um especial de fim de ano, está bem abaixo da linha de humor da casa. Não tem experimentos, como o enxerido ‘Sexo Frágil’, e não segura a onda do humorzão mais popular, que tem à esquerda a turma do Casseta e à direita o ‘Zorra Total’.

‘A Diarista’ tem a sua matriz, talvez involuntária, no filme ‘Domésticas’, de Fernando Meirelles e Nando Olival. Repete os mesmos esquemas da folclorização dos personagens -como os pobres são engraçados, espertos, devassos e ignorantes!-, mas com um texto ainda forçado na caricatura.

No programa da estréia, Marinete (Cláudia Rodrigues) vai prestar serviço a um artista plástico gay e enlouquece com as suas obras. Vive o típico e velho dilema burguês: isso é arte ou apenas objetos que poderiam ir para o lixo? Manda pra lixeira as instalações do patrão. A ‘bicha’ enfarta no final. ‘Nooossa!’, diria o velho comediante Costinha, esse sim um mestre do humor caricato.

No primeiro episódio, o humorístico deu-se ao luxo de contar com ótimos atores, casos de Sérgio Mamberti, que fez o marchand, e Dira Paes, que salvou a sua personagem Solineuza, dando-lhe algum cheiro de Macabéa -pobre também tem seus ares metafísicos.

Ao final, uma diarista-verdade deixa um depoimento sobre a sua ignorância no trato com lagostas. Fazia o prato pela primeira vez e agoniou-se. Aqui o programa flerta rapidamente com o ‘Retrato Falado’, que acerta nas suas historinhas, mesmo com um ou outro exagero teatral de Denise Fraga. Entrelaçar mais depoimentos e ficção, matéria que Jorge Furtado e Guel Arraes têm a manha e o dom, pode render melhores dias ao novo programa.

Perguntei a Maria, diarista lá de casa, o que achou de ‘A Diarista’ da TV. Cismada, respondeu: ‘Vi muita graça não, seu Francisco’. E nada mais foi dito nem perguntado.’



CÓCEGAS
Simone Mousse

‘Hora de fazer cócegas na TV’, copyright O Globo, 14/04/04

‘Tinha tudo para ninguém mais querer ver Ingrid Guimarães e Heloísa Périssé nem pintadas de ouro. Elas estão há três anos em cartaz com ‘Cócegas’, fizeram ‘Cosquinha’, estão em capa de livro, em CD e em programa de rádio. Como se não bastasse, vão virar filme este ano, sob a direção de Domingos Oliveira, e lançar um DVD. Ou seja, ninguém agüenta mais a dupla, certo? Errado. Elas estão mais queridinhas do que nunca. O especial de fim de ano ‘Sob nova direção’, estrelado por elas, foi um dos que mais agradaram à cúpula da Rede Globo e, por isso, entrará na grade de programação a partir deste domingo. Que horas? Logo após o ‘Fantástico’, faixa que já abrigou sucessos como ‘Sai de baixo’ e fracassos como ‘Casa do terror’. Mas não pensem que elas se descabelam com o peso da responsabilidade.

– Eu fiz uma participação no ‘Sai de baixo’ como diarista no lugar da Cláudia Jimenez – lembra Ingrid. – Se conseguirmos preencher a lacuna que aquele programa deixou, vai ser uma grande felicidade. Mas não pode ser uma sangria desatada, vai ser aos poucos. As pessoas não estão mais acostumadas a rir àquela hora.

Heloísa, Lolô para os amigos, fala menos do que Ingrid e fica mais em cima do muro:

– O pessoal do ‘Sai de baixo’ fez um gol bonito, as pessoas esperam dali para melhor. Não dá para definir o sucesso. Se tivesse uma fórmula, todo mundo ia querer.

Roberto Farias, que dirige o humorístico ao lado do filho, Mauro Farias, prefere não fazer comparações. O importante, para ele, é fazer o trabalho da melhor maneira possível:

– Vamos encher o horário e sei que as pessoas vão gostar. Será melhor do que o episódio de fim de ano.

A grife que Ingrid e Heloísa criaram, que começou com ‘Cócegas’, é forte o suficiente para chamar público. Num piscar de olhos, elas passaram de atrizes quase desconhecidas a namoradinhas do humor nacional.

– Eu, com meu espírito de Pollyana, acho que as pessoas vão ver o programa. ‘Cócegas’ ajuda muito. Recebemos e-mails no site da peça de pessoas pedindo que fôssemos logo para a TV – conta Ingrid.

Um projeto apresentado ao vivo

O caminho para botar ‘Sob nova direção’ no ar foi menos árduo do que para emplacar ‘Cócegas’. Com a idéia na cabeça, a dupla conversou com Mauro e Roberto Farias, respectivamente namorado e sogro de Heloísa. Quem passou pela porta da sala de reuniões da Globo no momento em que as duas vendiam o projeto deveria ter pago ingresso.

– Fomos muito caras-de-pau – conta Ingrid, às gargalhadas. – Levantamos no meio da reunião e começamos a encenar. Literalmente, mostramos o projeto fazendo. No fim, eles nem precisaram ler o texto.

A história do programa, aliás, bem poderia ser a delas. Amigas há 12 anos, Ingrid e Lolô passaram por poucas e boas no caminho para o reconhecimento profissional. Com o projeto de ‘Cócegas’ debaixo do braço e com zero de capital para começar, elas se mandaram para o Piauí, onde o então marido de Lolô, Lug de Paula, faria um show.

– Como sou detalhista, acabei fazendo as vezes de camareira da Lolô. Espalhei pelo palco pedacinhos de papel com a lista de todas as trocas de roupa dela. Tinha pouca gente na platéia, ficamos péssimas! – lembra Ingrid. – Bem na hora estava acabando um show de música ao lado e eu e Lolô chamávamos as pessoas que saíam de lá para ver nossa apresentação. Foi um sufoco e não deu para ganhar um centavo sequer!

Mas não desistiram. A irmã de Heloísa emprestou dinheiro e elas convenceram os diretores – Luiz Carlos Tourinho, Marcelo Saback, Régis Faria, Sura Berditchevsky e Aloísio de Abreu – a trabalhar de graça.

– Cansei de descer a rua da TV Globo, no Rio, chorando por não ter passado em testes – conta Lolô.

– Hoje estamos recebendo o retorno financeiro e profissional – diz Ingrid. – Na época, chamamos uma porção de gente que se negou a trabalhar conosco.

‘Sob nova direção’ conta as peripécias de uma turma de amigos para reerguer um bar decadente. No elenco estão também Luiz Carlos Tourinho, Luís Miranda e Otávio Müller (quem apostou que Queiroz, seu personagem em ‘Celebridade’, é o assassino de Lineu perdeu. Ele morrerá nos próximos capítulos). Mostra como alguns brasileiros têm que rebolar para sobreviver.

– Queríamos falar de amizade e da luta pela sobrevivência do brasileiro, que é criativo, vive de bicos e é feliz. Já fui animadora de festas infantis e a Lolô, garçonete e vendedora. Nosso humor é de circo – diz Ingrid.

Enquanto Ingrid é detalhista, Heloísa é desligada; Heloísa é ótima para lembrar datas, Ingrid é péssima neste ponto. E Ingrid também é madrinha de Luísa, filha de Heloísa. Céus, será que a convivência é um mar de rosas e elas nunca brigam? Nem uma invejazinha boa de vez em quando?

– Já brigamos, sim – confessa Ingrid. – Convivo mais com a Lolô do que com meu namorado! Quando nos desentendemos, trancamos a porta do quarto e resolvemos rápido. E ai de quem nos interromper!

Dinheiro as atrizes ganharam. O suficiente para comprar umas coisinhas aqui, outras ali. Mas nenhuma delas fica à vontade ao tocar neste assunto.

– Melhorei de vida, é claro. Deu para aumentar a conta bancária – diz uma Heloísa contida.

– Ganhamos menos do que dizem por aí – garante Ingrid. – Comprei um apartamento melhor, troquei de carro. Quero fazer meu pé-de-meia. Mas ‘Cócegas’ é uma empresa, somos patroas. Se cair um temporal e o teatro ficar vazio, temos que arcar com o prejuízo.

A peça também está sendo encenada na Argentina por duas comediantes locais.

– ‘Cócegas’ foi uma peça vista no eixo Rio-São Paulo, mas o resto do Brasil não nos conhece – destaca Heloísa. – O programa de TV, neste sentido, é um upgrade . E é para toda a família. Já vi criança dizendo: ‘Oba, vou assistir’. E, logo depois, a mãe mandar: ‘Nada disso, vai dormir’.’



CARGA PESADA
Elizabete Antunes

‘O sono vai ter que esperar…’, copyright O Globo, 14/04/04

‘Mexer nesse time, nem pensar. Na nova programação da Rede Globo, a bola vai continuar rolando às quartas-feiras à noite, quando a emissora mostra os jogos de futebol. ‘A grande família’ também reconquistou seu espaço às quintas-feiras, após a novela das 21h. Amanhã, o seriado, que entra em seu quarto ano de exibição, voltará ao ar com o episódio ‘O Rei Leão’. Nele, Agostinho (Pedro Cardoso) ganhará R$ 5 mil numa ‘raspadinha’ e passará a se sentir o dono da casa (do sogro!) ao pagar o conserto do encanamento do banheiro. Mas, nesta fase, Agostinho e Bebel (Guta Stresser) terão seu próprio teto e Nenê (Marieta Severo) e Lineu (Marco Nanini) passarão pela crise da meia-idade. Após ‘A grande família’, o ‘Linha direta’ voltará com casos policiais inéditos. O primeiro será o de uma dona de casa, de 63 anos, que foi assassinada pelo namorado de sua filha, um rapaz de 29 anos. O crime ocorreu em 2001, em Pelotas (RS).

Já os caminhoneiros Pedro (Antonio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) voltarão à estrada nesta sexta-feira, depois do ‘Globo repórter’. O primeiro dos 16 episódios de ‘Carga pesada’ será ‘A gente chega lá’.

– Nesta temporada, vamos falar muito sobre a amizade – diz o ator Stênio Garcia. – Vamos enfatizar como dois homens, no caso os personagens inseparáveis Pedro e Bino, podem ser irmãos, companheiros, sem qualquer traço de preconceito.

As novidades não param. Aos sábados, o ‘Zorra total’ mostrará quatro novos quadros. Aos domingos, ‘A turma do Didi’ terá edições inéditas. E, depois de ‘Sob nova direção’, a emissora lançará o segundo ano da série americana ‘24 horas’.

A grade modificada entrou no ar anteontem. Entre histórias do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ gravadas na Amazônia e o cenário repaginado do programa de Ana Maria Braga, a emissora exibiu ‘A diarista’. Protagonizado por Cláudia Rodrigues, o humorístico é apresentado após o ‘Casseta & Planeta, urgente!’, que voltou a dar o ar de sua graça ontem.’



BAIXARIA NA TV
Belisa Ribeiro

‘Censores com S’, copyright Jornal do Brasil, 13/04/04

‘Quando a notícia sobre uma guerra de traficantes, como a que acaba de acontecer no Rio, vira exploração em busca de mais audiência? A questão será debatida hoje na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, no seminário A Ética na Televisão em Países Democráticos, por especialistas brasileiros e convidados do Parlamento Europeu. Laurindo Leal Filho, da ONG TVER, professor da USP, vai defender um conselho de sensores, com sensibilidade capaz de captar as aspirações da sociedade. Agiria a posteriori, para evitar censura, deixando às emissoras, que são concessões, arcarem com as conseqüências. Serão analisados o projeto de lei do deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), que cria o Código de Ética da programação da TV brasileira e a engavetada Lei da Comunicação Eletrônica de Massa, que poderia enterrar a anacrônica Lei da Radiodifusão, de 1962.

– Quando um ônibus atrasa ou falta água, a pessoa sabe onde reclamar. Quando fica atônita com a TV, não tem idéia do que fazer – diz o professor, lembrando que até hoje não foi regulamentado o Artigo 220 da Constituição que diz que a sociedade tem direito de se defender da televisão.’