
(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
A qualidade de uma boa foto depende da sensibilidade, acuidade e, é claro, de uma bela oportunidade.
Uma foto jornalística vai além: tem que trazer ainda informações importantes, que a diferencie de uma selfie ou mesmo de uma imagem genérica. A foto jornalística não é uma foto posada. Ela tem que pegar o acontecimento em flagrante.
Por isso mesmo, quem as produz é denominado REPÓRTER-FOTOGRÁFICO. Precisa ter o olhar atento de um felino. Não pode perder o bote, digo o click. E ainda tem que ter o foco certo, o enquadramento e a luz adequada, sem o uso de recursos comuns a um estúdio ou ambiente pré-preparados para serem fotografados. O fato está acontecendo diante dos olhos do profissional, ele tem que raciocinar rápido e agir mais rapidamente. A falha de um desses quesitos pode jogar por terra todo o esforço. Essas características é que diferenciam um REPÓRTER-FOTOGRÁFICO de um fotógrafo tradicional.
A foto do repórter-fotográfico Alex Cassiano (@alexcassiano), do jornal O Globo, registrando, dia 16/3, a passagem do ex-presidente Jair Bolsonaro em Copacabana, tendo às costas um mosaico de letras contra a anistia dos condenados da tentativa de golpe, em 8 de janeiro, é um exemplo do click certeiro.
Tinha tudo para correr mundo. Estampar a capa dos principais jornais do país e do exterior, em especial aqueles de língua portuguesa.
A imagem “viralizou” nas redes. Caiu no gosto popular, virou trending topic.
Sua importância foi aferida pelos medidores das redes sociais, conforme registrou a coluna Sonar – a escuta das redes, da versão digital de O Globo.
O jornal O Globo, contudo, em sua versão impressa, ignorou a dimensão da imagem de seu profissional. A principal foto de capa foi a do Flamengo, vencedor de um torneio estadual, cujos times já não têm a mesma importância d’outrora. A foto que foi destaque nas redes sociais foi parar num pé de página, na quarta página do jornal. “Escondida”, diriam alguns, no jargão jornalístico.
O evento, que segundo o jornal contou com 18,3 mil manifestantes, contra o um milhão prometido pelos organizadores, foi contemplado também com uma foto na capa. Mas uma foto sem arte, uma foto aérea, tipo drone, tirada de longe, sem qualquer elemento que a transformasse em algo especial.
Porque O Globo não usou a foto mais criativa – e que certamente vai ganhar prêmios ali na frente? A resposta só pode ser dada pelos diretores das Organizações Globo.
Aqui, contudo, queremos externar nossas felicitações a Alex Cassiano. Que o seu olhar perspicaz continue nos brindando com belas imagens fotojornalísticas e inspire as futuras gerações de fotojornalistas.
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Chico Sant’Anna é jornalista profissional, Mestre em Comunicação pela UnB e Doutor em Ciências da Informação e Comunicação, pela Universidade de Rennes 1 – França.