Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ovos de ouro: questões latentes ao jornalismo

(Foto: Foto de Markus Winkler / Pexels)

Fui despretensiosamente ao supermercado comprar ovos. Mais especificamente procurava a bandeja com meia dúzia. Ao não encontrá-la de imediato, me dirigi ao funcionário do estabelecimento. Ele prontamente indicou a gôndola onde estava o produto. Agradeci pela presteza no atendimento. Ele perguntou meu nome e se eu era jornalista. Confirmei. E lascou: O que você pensa do jornalismo atualmente?

Tomei ar, organizei o turbilhão de palavras em minha mente em poucos segundos. Respondi que é uma profissão que sofreu uma brutal transformação com o avanço tecnológico e que se tornou vital nessa profusão de informação que somos bombardeados, principalmente, para curadoria e para a separação de verdades e mentiras. Não deixei de fazer uma autocritica profissional: temos como desafio separar informação e opinião, mas, principalmente, delimitar informação e entretenimento.

Se o jornalista produz conteúdo para o seu público, nichado ou diverso, é por ele, e para ele, que deve se pautar e, também, pautá-lo, entregando o que ele gostaria de saber e o que ele precisa saber, agradando-o ou não. Isso vale para mostrar soluções, denunciar injustiças e irregularidades, interpretar acontecimentos e traduzir fenômenos.

A última pergunta que recebi antes de seguir pelo supermercado: Qual o futuro do jornalismo? Disse que a resposta certa valia de milhões de dólares, ovos de ouro. O pêndulo do jornalismo oscila entre um volume imenso de dados e a dimensão humana, ancorados em atmosferas multitela, imersiva, interativa e personalizada. Aposto: somente com a construção de conteúdo feito com DNA de novidade, propósito e veracidade é que conseguiremos ter pertencimento na vida das pessoas.

Enxergo a profissão como jornalismos. Sim, no plural. Com diferentes horizontes e possibilidades, sem, contudo, abrir mão da capacidade de promover o impacto social. Afinal, democracia, cidadania e jornalismo são faces e borda da mesma moeda: a sociedade.

***

Leandro Olegário é jornalista, professor, doutor em Comunicação e II Vice-presidente da ARI – leandro@olegario.jor.br | https://www.instagram.com/arimprensa/