Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A luta das mulheres que fortaleceram o Jornalismo Ambiental

Foto Jorge Araújo/Fotos Públicas

Se vocês me dão licença, hoje vou tomar conta deste espaço para recuperar a trajetória de luta de algumas mulheres jornalistas pelas causas ambientais. Neste Dia Internacional da Mulher, apresento um pouco de história e de lembranças das nossas desbravadoras com o objetivo também de homenageá-las.

É importante ressaltar que as mulheres jornalistas, ao longo da história, têm contribuído para a formação de núcleos de ecojornalismo pelo Brasil (como é o caso do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul – NEJ-RS), para a criação da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA), em 1998, e da Rede de Comunicação Ambiental da América Latina e do Caribe, em 2000. No entanto, antes mesmo destes movimentos e, em paralelo a eles, tivemos uma série de jornalistas que foram pioneiras em dar repercussão para a temática ambiental.

Este é o caso da paranaense Teresa Urban, que se formou em jornalismo pela Universidade Federal do Paraná em 1967. Considerada uma combatente do regime militar, Teresa foi presa, exilou-se no Chile e depois voltou ao Brasil onde passou a atuar no jornal A Voz do Paraná no final da década de 1970. Teve participações nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, e na revista Veja, entre outros, consolidando-se como uma pioneira no jornalismo ambiental. Teve a oportunidade de escrever diversas obras, contando com 21 títulos. Aderiu aos projetos das ONGs SOS Mata Atlântica e Mater Natura. Contribuiu para o mapeamento dos remanescentes da floresta de araucária no estado do Paraná e ajudou a desenvolver a Rede Verde de Informações Ambientais, além de atuar também no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). É uma das criadoras da Rede Verde, que transmite pelo rádio informações ambientais para todo o Paraná. Teresa Urban faleceu em 2013.

Mara Régia Di Perna é carioca, radicada em Brasília e tem uma história de mais de quatro décadas ligada ao radiojornalismo ambiental brasileiro e à Amazônia. A jornalista é profissional da Rádio Nacional, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), onde dirige o programa Viva Maria (40 anos) e Natureza Viva (26 anos). Já recebeu o Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente e teve grande visibilidade com a reportagem sobre o desaparecimento de abelhas e outros polinizadores no oeste do Pará. A grande reportagem ‘A morte dos polinizadores’ contém 17 páginas e pode ser lida no portal Amazônia Latitude e também ouvida nas plataformas digitais.

A gaúcha Ilza Maria Tourinho Girardi começou a se envolver com a questão ambiental há mais de 40 anos, quando se tornou sócia da Cooperativa Ecológica Colméia (1979). Ela esteve presente na criação do NEJ-RS em 1990 (único núcleo ainda ativo no país), criou a primeira disciplina de Jornalismo Ambiental no Brasil em 2004, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental, em 2008, sendo mobilizada sempre pela qualificação da informação ambiental. Em 2015, Ilza recebeu o prêmio Pioneiras da Ecologia por seu ativismo ecológico e trabalho acadêmico na área, contribuindo para a formação de jornalistas conscientes, críticos e engajados em prol de um mundo sustentável. Até hoje ela foi a única jornalista mulher premiada.

A ideia que resultou na formação, em 1998, da RBJA também surgiu de uma mulher: Liana John. A jornalista especializada em ciência e em meio ambiente sugeriu que deveríamos “[…] nacionalizar alguns temas que sejam locais e que mereçam uma cobertura mais global de toda a imprensa” (BELMONTE, 2020). Ela recomendou, na época, a formação de clubes que, na verdade, se tornam núcleos. Destaca-se que muitas jornalistas faziam parte das listas de debates ambientais que existiam na década de 1990. Estas listas, conforme Belmonte, reuniam integrantes de todo o país, como Regina Scharf, do jornal Gazeta Mercantil, e Maria Zulmira, do Repórter Eco, da TV Cultura. Patrícia Palumbo, da Rádio Eldorado, também foi pioneira na época abordando temas ambientais no radiojornalismo de São Paulo, assim como Lúcia Chayb, da Revista Eco 21.

Muitas outras jornalistas foram fundamentais para ampliar a visibilidade que a pauta ambiental tem hoje no Brasil e merecem nosso reconhecimento. Junto à homenagem, registro a lacuna existente na literatura na área sobre o papel das mulheres na construção do Jornalismo Ambiental. Que possamos resgatar esse legado e preservar a memória dessas mulheres, que nos inspiram até hoje.

Texto publicado originalmente pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (GPJA).

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Carine Massierer é jornalista, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS e integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

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Referência

BELMONTE, Roberto Villar. Uma breve história do jornalismo ambiental brasileiro. Revista Brasileira de História da Mídia, vol. 6, nº 2, 110-125.