Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Festival de Berlim não será online e acaba com prêmios de ator e atriz

(Foto: Jake Hill/Unsplash)

O Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, ousou fazer o que ninguém imaginava: acabar com os prêmios de melhor ator (homem) e melhor atriz (mulher) em nome do respeito ao gênero. A partir da próxima edição, em fevereiro, vai valer a neutralidade no desempenho: serão os prêmios de Melhor Interpretação e de Melhor Coadjuvante.

Uma decisão radical, veremos se outros festivais e concursos também adotarão, com o objetivo de promover a igualdade entre homens e mulheres no cinema. Decisão tomada pela dupla que dirige o Festival, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian: “nós achamos que não diferenciar as recompensas em termos de gênero constitui um sinal para uma tomada de consciência favorecendo a igualdade entre homens e mulheres na indústria do cinema”.

Portanto, o último prêmio de Melhor Ator foi no ano passado, na 70º Berlinale, para o ator italiano Elio Germano, no filme Hidden Away, e o último prêmio de Melhor Atriz foi para a alemã Paula Beer, no filme Ondine. Já houve um precedente em 2017, quando MTV Movie e TV awards concederam o prêmio de melhor interpretação, englobando melhor atriz e ator, para Emma Watson, em A Bela e a Besta, e a Millie Bobbie Brown por Coisas Estranhas. Agora é esperar que o Oscar adote a mesma medida.

Outra decisão, já tomada no começo deste ano, foi a de acabar com o prêmio Alfred Bauer, nome do primeiro diretor do Festival, depois de terem sido reveladas as relações de Bauer com o partido nacional-socialista alemão, o partido nazista. As revelações vieram a público em janeiro deste ano, pelo jornal alemão Die Zeit. Bauer teria sido muito próximo os nazistas durante a Segunda Guerra.

Estranho como demorou para se saber isso, tendo-se em conta que Alfred Bauer foi diretor da Berlinale por 25 anos e trabalhava com cinema durante o nazismo. Enfim, Die Zeit descobriu que Bauer vigiava atores, realizadores e membros da indústria do cinema, controlada na época por Goebbels.

Terminada a Segunda Guerra, Bauer procurou apagar seu passado e chegou mesmo a se impor como se tivesse sido um opositor ao regime nazista. Com base nisso, foi nomeado primeiro diretor da Berlinale em 1951.

O Observatório da Imprensa estará em Berlim, de 11 a 21 de fevereiro.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.