Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mídia local, transformações e desafios

Dezenas, ou centenas, de médios e pequenos jornais impressos do interior do país, representativos em suas comunidades e com longa história de lutas, enfrentam hoje dificuldades para sobreviver. A internet e a tecnologia mudaram a forma de fazer comunicação. A notícia está ao alcance dos dedos em uma infinidade de aparelhos móveis. Quanto maior a crise, menor a força desses diários para manter a independência e fugir às pressões de grupos políticos econômicos.

A realidade é mais dura do que pode parecer. A falência de um jornal comunitário com trinta, cinquenta ou mais de um século de vida representa um perda de referências para a comunidade e região em que circula. Pode ser substituído por uma boa rádio, por um bom portal de notícias, pelo jornalismo de um canal de TV? Pode. Mas, no geral, essas mídias ainda não carregam plenamente a principal característica de um diário independente: a de apresentar a informação de forma organizada, com análises, comentários e diferentes opiniões. Desde que preservada, cada vez menos importará se essa característica continuar no impresso tradicional – distribuído a assinantes ou vendido em bancas – ou estiver disponível na versão digital do jornal na web.

O que não pode morrer é o conteúdo de qualidade, o jornalismo isento e imparcial, a cobertura que atende aos interesses do leitor local. Boa informação ajuda na formação de cidadãos esclarecidos e conscientes – condição vital para a consolidação da democracia e o desenvolvimento sustentado do país.

Foi com base nessa convicção que o Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo lançou o Projeto Grande Pequena Imprensa. A ideia original é de Alberto Dines. Com patrocínio da Fundação Ford, Google, Odebrecht e outras entidades, está levando apoio técnico a jornais do interior nas áreas de redação, mercado publicitário, tecnologia da informação, gestão financeira e administrativa, logística e circulação. Neste ano de 2014, o GPI está beneficiando cinco diários de regiões economicamente importantes.

Sobrevivência com qualidade

O primeiro desafio é segurar o leitor, manter a base de assinantes e a venda avulsa, através do bom conteúdo. Ou, de acordo com o perfil de cada região, estimular a assinatura da versão digital do jornal dentro de um portal atrativo, uma tendência que, de forma gradual, mas inexorável, é a de toda a mídia impressa. Ou ainda, como afirma o jornalista e professor Caio Túlio Costa ao se referir à atuação das empresas jornalísticas no meio digital, elas precisam “recomeçar do zero – mesmo na produção de conteúdo”. Para ele, “o digital é outra coisa, com outras leis e outras formas de consumo”. O segundo desafio é manter o interesse dos anunciantes das médias e pequenas cidades e das grandes agências, criando um círculo virtuoso em que o mercado publicitário, na busca por resultados, se manterá fiel aos veículos de qualidade, impressos ou digitais. Nesse mercado está incluída a publicidade oficial, em seus mais diferentes formatos.

O cenário é de profundas transformações, quase diárias. Sobreviver nele é uma batalha permanente, como acontece com a maioria das empresas. Exige criatividade, adequação a novas técnicas e ferramentas, profundo conhecimento do público-alvo e da região de atuação. A reinvenção constante precisa envolver a empresa jornalística como um todo – da gestão à linguagem usada pela redação, da abordagem dos anunciantes ao lançamento de novos produtos.

Um dos jornais atendidos pelo GPI está obtendo grande sucesso com o lançamento de encartes específicos para pequenos anunciantes do setor de serviços, sempre enriquecidos com uma reportagem sobre o seu desempenho. Outro transformou o lançamento de uma revista segmentada em rodada de negócios para os anunciantes. Resultado: agradou ao leitor, fidelizou o anunciante e tornou a revista um sucesso.

Um dos grandes objetivos do GPI é fazer com que os pequenos e médios jornais do interior compartilhem as boas experiências e soluções. Busca-se ainda, através da união de forças de todas as entidades representativas da área da comunicação, oferecer apoio na solução de outros problemas recorrentes como sucessão familiar, processos por dano moral, relacionamento com os sindicatos etc. Para o Projor, também responsável pelo Observatório da Imprensa, é fundamental buscar formas de fazer com que os veículos de comunicação – jornais, rádios, revistas, TVs situados fora dos eixos mais ricos – consigam sobreviver economicamente e oferecer produtos de qualidade.

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Celestino Vivian é jornalista