Khalil ur Rehman, filho de imigrantes paquistaneses, não possui estratégia digital. No porão de uma lojinha no Queens, distrito de Nova York, Rehman administra o jornal “Urdu Times” há duas décadas, imprimindo 100 mil cópias semanalmente. Seu veículo é qualificado de étnico, ou seja, a serviço de uma comunidade de imigrantes.
O jornal possui hoje edições em nove cidades dos EUA e também no Reino Unido e Canadá. “No início de julho estarei no Oriente médio para tentar começar uma edição lá”, disse Rehman.
Enquanto a morte da mídia impressa é profetizada diariamente, o “Urdu Times” se fortalece.
E ele não é o único: centenas de jornais étnicos somente na cidade de Nova York já possuem juntos mais de 2,94 milhões de leitores, um terço da população da cidade. Mais de 270 publicações comunitárias e étnicas em 36 idiomas circulam em Nova York.
Esperança acesa
Javier Castaño comanda uma delas. Colombiano, o jornalista começou como repórter do mais antigo jornal espanhol de Nova York, o “El Diario de La Prensa”. Quando foi demitido de outro jornal, o “Hoy Nueva York”, Castaño decidiu lançar sua própria publicação.
Começou com um site focado na comunidade latino-americana do Queens. Poucos meses depois, o “The Queens Latino” se tornou um jornal mensal, que hoje imprime 15 mil cópias mensalmente. “Não acho que meu público esteja se informando através da Internet. Um jornal impresso é necessário”, disse Castaño.
O público cativo é o alicerce dos jornais étnicos, que procuram atrair a comunidade de imigrantes. Eles sabem que há mais valor nos anúncios destas publicações do que na grande mídia. O resultado é que muitos deles ainda podem financiar suas operações somente com a renda de publicidade.
Castaño, por exemplo, faz 90% do seu dinheiro com anúncios impressos, a maior parte do comércio local. Como o jornal possui apenas um funcionário, o próprio Castaño, a publicação foi lucrativa desde o início.
Já a maior parte das operações do “Urdu Times” acontecem no Paquistão, não em Nova. Lá, 18 pessoas escrevem o jornal, que é lido por Rehman e então impresso nos EUA.
É esse tipo de empreendimento de baixo custo que faz Ken Akulin, gerente da maior gráfica de jornais impressos de Nova York, acreditar que nunca houve tempo mais fácil para se ter uma publicação. “É uma indústria caseira: alguém diagrama os textos, adiciona dois ou três anúncios, imprime aqui e distribui localmente” disse Akulin.
Entretanto, há desafios para a imprensa étnica. A crise financeira afetou duramente os imigrantes dos EUA. Entre 2007 e 2009, a receita de impostos vinda de imigrantes caiu 12%.
Os pequenos comerciantes, fundamentais para os jornais étnicos, começaram a diminuir seus investimentos, assim como grandes empresas que antes queriam atrair as comunidades de imigrantes.
O jornal “New York Magazin”, dirigido por Grigore Culian para imigrantes romenos, hoje enfrenta uma queda no número de leitores e na receita publicitária.
No entanto, apesar da pressão, ainda há esperança para os jornais étnicos. “Sei que a Internet é o futuro”, aposta Culian. Castaño, do “Queens Latino”, já seguiu o exemplo e ganha cerca de mil dólares mensais somente com os anúncios de seu site.