Uma criança de seis anos sabe mais sobre tecnologia digital do que um adulto de 45 anos, afirma o órgão regulador de mídia do Reino Unido, Ofcom, em seu relatório anual sobre os consumidores britânicos, lançado no começo de agosto.
“Estas crianças estão moldando as comunicações”, disse Jane Rumble, chefe de pesquisa de mídia no Ofcom. “Por terem crescido na era digital, eles estão desenvolvendo hábitos de comunicação completamente diferentes de gerações mais velhas, mesmo comparado com os jovens entre 16 e 24 anos”.
O Ofcom criou um “coeficiente digital”, um teste que analisou como 800 crianças e 2 mil adultos do Reino Unido usam diversos dispositivos digitais, como tablets e smartphones, e qual o conhecimento deles sobre tecnologia.
As crianças de 6 a 7 anos se saíram melhor nos testes que adultos entre 45 e 49 anos, com um coeficiente médio de 98 contra 96. O auge de entendimento digital se dá nos jovens entre 14 e 15 anos, com um coeficiente médio de 113, e esse número cai gradualmente nas faixas mais velhas, sofrendo bruscas quedas ao chegar na faixa dos idosos.
A forma como as crianças deste milênio se comunicam entre si e consomem entretenimento é tão diferente das gerações anteriores que analistas agora consideram as crianças melhores indicadores do futuro da comunicação do que os adolescentes e os jovens adultos.
Longe da TV
A maior mudança se dá no tempo gasto ao telefone. Se décadas atrás os adolescentes se comunicavam principalmente por meio do telefone, hoje ligações telefônicas correspondem a só 3% do tempo gasto com meios de comunicação por um britânico de 12 a 15 anos. Para adultos, a porcentagem é de 20%.
Hoje, 90% das conversas a distância dos jovens de 12 a 15 anos se dá por mensagens escritas e quase 10% pelo compartilhamento de fotos ou vídeos.
Os britânicos também estão gastando menos tempo assistindo à televisão. O tempo caiu de quatro horas e dois minutos em 2011 para três horas e 52 minutos em 2013.
Pela primeira vez desde 2009, também houve uma queda no número de telespectadores de todas as faixas etárias. Entre os jovens, o número vem caindo desde 2010 por causa de serviços de transferência de vídeos como o Netflix, mas a surpresa se dá principalmente com a diminuição de telespectadores idosos.
A teoria do Ofcom é de que a popularização dos tablets ajudou as pessoas acima de 65 anos a se familiarizar com a tecnologia digital e as afastou da televisão.
As mudanças na forma como os britânicos de todas as idades se comunicam chegaram ao ponto em que um adulto típico já gasta mais tempo se comunicando ou consumindo mídia, oito horas e 41 minutos, do que dormindo, oito horas e 21 minutos.
******
Juliette Garside, do Guardian