Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mudar para continuar

Se os grandes grupos de comunicação – que, além dos recursos financeiros, também contam com a expertise de profissionais especializados –, estão suando a camisa para encontrar soluções que rentabilizam suas operações diante da nova configuração de mercado trazida pela internet, na mídia regional das pequenas e médias cidades essa situação é ainda mais delicada. As dificuldades foram constatadas pelo mapeamento feito por estudantes que colheram informações operacionais de empresas jornalísticas em várias regiões do País, escolhidas por critérios econômicos, sociais e também levando em conta a existência de jornais de relevância para a cidade.

Todas essas informações serviram para formatar o projeto Grande Pequena Imprensa, criado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), entidade ligada ao Observatório da Imprensa. A ideia inicial é de Alberto Dines, diretor do Observatório, e de Carlos Eduardo Lins da Silva, presidente do veículo, a partir da constatação de que é preciso desenvolver iniciativas específicas para garantir a sobrevivência do jornalismo regional e comunitário.

O projeto, que já vinha sendo desenvolvido há cerca de três anos e foi lançado em 2014, visa principalmente capacitar os gestores desses veículos para que tenham condições técnicas de tornar a operação mais eficiente e rentável. A consultoria, explica o coordenador de conteúdo do projeto, Celestino Vivian, é ampla e abrange as principais áreas de uma empresa jornalística, começando pela redação, passando comercial, departamento de marketing e publicidade, pela área financeira e administrativa, incluindo também desde tecnologia da informação até logística e circulação. Neste primeiro ano de implementação do projeto, cinco veículos, escolhidos entre os 22 que participaram no ano passado de seminário realizado pelo Projor, estão recebendo gratuitamente a consultoria.

Os veículos selecionados foram: O Imparcial (Presidente Prudente/SP), Folha da Região (Araçatuba/SP), Comércio do Jahu (Jaú/SP), O Debate (Macaé/RJ) e Jornal do Povo (Três Lagoas/MS). Celestino sublinha que, no processo de escolha, foram priorizadas cidades que estavam se expandindo economicamente, puxadas notadamente por alguma atividade específica, como cana-de-açúcar em São Paulo, petróleo na camada do pré-sal em São Paulo e Rio de Janeiro e soja no Mato Grosso.

Pela perspectiva do projeto, para que os veículos regionais e comunitários sobrevivam a esta fase de transição, sem perder sua relevância e características principais, é necessário que seus gestores estejam preparados para lidar com essa nova dinâmica do mercado. “Todos têm à frente o desafio de se reinventar”, argumenta. Tanto o desenvolvimento do projeto como as ações que envolvem sua execução contam com a parceria do GIP – Gestão de Interesse Público, Pesquisa e Consultoria, além do apoio financeiro da Fundação Ford, Organização Odebrecht e Google.

Os recursos necessários para a realização das atividades são doados pelos apoiadores. “É essa verba que possibilitou o contato com os veículos das diversas regiões, a realização do seminário no ano passado e, agora, o trabalho de três consultores junto aos cinco jornais selecionados para receber apoio técnico”, explica Vivian. Em breve, com o selo Grande Pequena Imprensa, que está sendo desenvolvido, será criada uma seção especial para o projeto no portal do Observatório da Imprensa.

O número de jornais inscritos para a etapa de 2015 já totaliza pelo menos duas dezenas. Mas a viabilização da edição do ano que vem ainda depende da concretização de patrocínios. “Infelizmente, dispomos de poucos recursos. Para alcançarmos uma escala maior de apoio aos jornais estamos em busca de mais financiadores que compreendam a importância deste projeto para o desenvolvimento do Brasil”, reforça o coordenador.

Era de transição

Boa parte dos diários e/ou semanários de pequenas e médias cidades carece de um plano de negócios capaz de assegurar a viabilidade operacional e financeira da empresa. “Enfrentam também dificuldades para equilibrar suas contas, não sabem como lidar com a perda de leitores e anunciantes e como se reposicionar no universo digital”, enumera Vivian. Da mesma forma, alguns veículos ainda estão migrando de uma administração familiar para uma gestão profissional. “A carência de mão de obra especializada para enfrentar esse período de mudanças é um desafio no meio jornalístico como um todo, e no interior a situação é ainda mais grave”, frisa.

O momento também é controverso porque, para Vivian, ao mesmo tempo em que as mudanças geram inseguranças, também criam oportunidades. Nessa nova configuração do mercado, hoje uma das premissas das empresas jornalísticas é desenvolver produtos eu possam ser disponibilizados em todas as plataformas de comunicação. “A nova relação com leitores, ouvintes, telespectadores, internautas e mercado publicitário passa a ser o grande objetivo estratégico das empresas jornalísticas, sejam grandes, médias ou pequenas”, destaca Vivian, ressaltando que o sentimento de insegurança afeta mais as empresas menores, porque têm menos recursos para buscar conhecimento e pessoal especializado para operar neste novo cenário.

Nessa empreitada de melhorar a viabilidade dos jornais regionais, o coordenador de conteúdo do projeto assinala que ainda há a barreira tecnológica. Muitas cidades do interior ainda têm infraestrutura em tecnologia deficitária, o que dificulta a ampliação da acessibilidade pela internet e prejudica a qualidade do serviço oferecido. “A infraestrutura de telecomunicações e internet nas cidades que visitamos é precária e representa um desafio adicional para a inserção desses veículos no mercado digital”, avisa.

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Welliton Moraes, do Meio & Mensagem