Recentemente, nos protestos contra a morte de um garoto negro pela polícia na cidade de Ferguson, nos Estados Unidos, houve uma mudança visível na forma como os jornalistas tratam a mídia cidadã em zonas de conflito.
O jornalismo cidadão, gerado principalmente através das redes sociais, já é determinante na cobertura de protestos desde 2011, mas sempre como uma mídia alternativa e distinta da cobertura da grande mídia. Em Ferguson, no entanto, houve uma mudança no papel do cidadão para a cobertura dos protestos.
Não à toa, o jornalista do “The New York Times” David Carr descreveu a criação da hashtag #Ferguson, no Twitter, como inestimável. Com essa hashtag, os cidadãos de Ferguson conseguiram criar um canal de comunicação alimentado por todos aqueles que portavam smartphones.
Realmente, desde 2011, cada vez mais pessoas confiam nestas formas de mídia alternativa e cidadã para se informar, seja na América, na Síria ou no Egito. Segundo Mathew Ingram, do site GigaOm, esse jornalismo dirigido pelos cidadãos preenche uma lacuna deixada pela mídia tradicional, que está incapaz ou sem vontade de cobrir zonas de protestos e revolta.
Entretanto, o que conecta a cobertura alternativa dos protestos na Ucrânia, Egito e na cidade de Ferguson não é simplesmente o cidadão com acesso às mídias sociais, mas sim a capacidade de pessoas historicamente excluídas finalmente conseguirem se fazer ouvir.
Neste novo ambiente midiático, existe para a mídia local uma grande oportunidade de se tornar muito mais fundamental, ao ser capaz de agregar essa vontade popular de participar da cobertura jornalística.
As redações que se comprometem a produzir em conjunto com suas comunidades podem cumprir um importante papel. Jornais que implantam projetos em escolas de Ensino Médio podem não só equipar toda uma geração com a capacidade de entender e fazer jornalismo, como também tornar o trabalho da imprensa mais transparente e criar uma relação de confiança desde cedo.
Assim, as redações locais podem se tornar laboratórios de jornalismo participativo. “Quanto mais pessoas participarem da imprensa, mais forte ela será”, disse o professor de jornalismo Jay Rosen. E a imprensa precisa se fortalecer mais do que nunca. Com a crise que assola os jornais impressos, incentivar os cidadãos a participar da mídia deveria ser o maior interesse do setor.
Muitos criticaram recentemente a ausência de transparência e investigação na polícia da cidade de Ferguson. “Ninguém sabe se mais transparência poderia ter evitado toda a violência policial”, disse o jornalista John Robinson, “Mas informação é poder. Quando a informação não é compartilhada, isso sinaliza que não há confiança entre quem a retém e quem é forçosamente alienado”.