O balanço que costumeiramente realizamos a cada final de ano nos faz constatar que as transformações no cenário midiático são profundas e irreversíveis. Não há como ignorá-las.
E não se trata de pessimismo! Considero-me um eterno otimista e, tenho certeza, vou morrer assim! As transformações que quero comentar neste texto não se alicerçam sobre pessimismo, mas sim sobre as novas perspectivas que, se bem aproveitadas, beneficiarão boas estratégias no mercado das mídias.
A primeira das transformações que já se fez notar, concretamente, desde o início deste século, é a intensa fragmentação da audiência, antes dedicada e cativa e que agora, com a proliferação dos inúmeros canais midiáticos (principalmente os digitais), virou foco na disputa da atenção do consumidor. Isso tem gerado certa desordem generalizada, afinal, o consumidor “médio” é exposto a muitos pontos de contato e infindáveis apelos das marcas. Tudo isso num mundo de paridade entre elas e de atenção muito reduzida. Parece mesmo um contrassenso: tanta informação disponível nos meios e tão pouca atenção por parte dos targets!
Os veículos, ditos massivos e tradicionais ou até digitais, mesmo incorporando, gradativamente, diversos avanços tecnológicos e investindo em inovações, acabam “ofertando” aos consumidores das mídias um poder sem precedentes para determinar O QUE ver, QUANDO ver e COMO ver. O que se transforma em solução e problema! Ao final de 2014 constatamos, pelas projeções de crescimento, que o primeiro lugar no consumo multitela não será mais da tevê, mas sim do celular. A tendência é, cada vez mais, as duas mídias trabalharem juntas. Já não importa mais o tamanho da tela ou o acompanhamento da grade de programação, mas a comodidade de poder consumir o conteúdo na hora mais “nobre” para a audiência. “On demand” passou, portanto, a ser a palavra de ordem.
Com isso não quero dizer que os meios ditos massivos ou tradicionais estão com seus dias contados, mas que o tempo presente também exige grandes mudanças e adaptações por parte deles. Tão somente porque muitos negócios que pareciam sólidos ruíram. Só para citar três breves exemplos: 1. Pessoas viviam de aluguéis de linhas telefônicas, era um verdadeiro “patrimônio” a posse de uma linha; 2. A frequência às locadoras era intensa e assistimos a proliferação delas em todos os bairros, transformando-as em um negócio bastante lucrativo como entretenimento; 3. As cooperativas de táxis viabilizavam que os motoristas tivessem trabalho e segurança e que os passageiros pudessem contratar o serviço com certa agilidade.
Hoje, as operadoras disputam “a tapas” um mercado que não apresenta mais razoável número de ingressantes, afinal todos têm celulares (o que também está promovendo a retirada dos orelhões por falta de uso) e uma linha telefônica nunca foi tão fácil de ser obtida; Serviços como o Netflix ou o Now têm contribuído, em larga escala, para o abandono das locadoras em troca da comodidade e redução de custos (olha o on demand aqui!); E os aplicativos para o serviços de táxi têm gerado escassez de pedidos para as tradicionais cooperativas. Ou seja, recordando a máxima de Karl Marx “tudo o que era sólido se desmancha no ar”.
Plataformas digitais
No início deste ano (2014) o Governo brasileiro divulgou uma pesquisa de consumo de mídia, realizada entre outubro e novembro de 2013, cobrindo todo o território brasileiro, intitulada de Pesquisa Brasileira de Mídia. Tal levantamento revelou que, entre os mais jovens, na faixa de 16 a 25 anos, a preferência pela tevê tende a cair a 70% e o interesse pela internet sobe a 25%, ficando o rádio com 4% e os demais meios com menções próximas de 0%. Como em outros países, a pesquisa enfatizou que devemos continuar assistindo também no Brasil a um crescimento na adesão aos meios digitais nos próximos anos. O relatório divulgado apontou que esses meios assumirão participações significativas na preferência da população. Até aqui nenhuma novidade.
Contudo, tais transformações no consumo dos meios trazem a reboque outros aspectos que devemos considerar quando analisamos o cenário em retrospectiva.
A meu ver o principal aspecto é que a convergência midiática não é mais “opcional”. As soluções devem ser totalmente cross midiáticas porque os brasileiros estão cada vez mais conectados e altamente estimulados para participarem interagindo e ajudando na cocriação de conteúdos novos e peculiares para o consumo de meios que antes eram, tradicionalmente, massivos e unidirecionais.
Por tudo isso, sem medo de parecer pessimista, para que não corram o risco de se “desmancharem” no ar, os meios devem continuar a investir na convergência com as plataformas digitais para angariar audiência e promover um relacionamento mais direto com o público, gerando a “agradável” sensação de aproximação, tão buscada nos dias de hoje pelos consumidores das mídias.
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Diego Oliveira, do Meio&Mensagem