Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

É preciso se preparar para uma revolução da comunicação

Ano novo é sempre tempo de reflexão. Assim, começo a minha primeira coluna de 2015 com um tema que tem revolucionado a vida dos indivíduos, das empresas e da sociedade como um todo: a comunicação.

Basta olhar para o volume de dados acumulados, para a interferência dos smartphones na vida das pessoas, para as novas relações de consumo e para a velocidade da informação disseminada por meio da tecnologia e das redes sociais. Estamos o tempo todo escancarados em uma vitrine, e isso traz à sociedade uma necessária e inevitável mudança de comportamento. Nunca se foi capaz de verificar tão imediatamente a veracidade e a coerência dos discursos e atitudes alheios, por exemplo.

Em dezembro passado, o grupo RBS divulgou provavelmente o estudo mais impactante que vi sobre esse tema nos últimos anos. Com o objetivo de entender o novo contexto e as constantes mudanças pelas quais passa a comunicação, seu principal negócio, o grupo gaúcho (cujo trabalho acompanho bem de perto) realizou mais de 150 entrevistas com profissionais do Brasil e do exterior.

O resultado desse levantamento, chamado de The Communication (R)Evolution, é uma coletânea de depoimentos em vídeo, realizados pela cineasta Flavia Moraes, e uma amarração conceitual sobre a comunicação digital e as novas formas de produzir, distribuir e consumir informação. O estudo aponta as demandas que irão alterar o comportamento das pessoas, das lideranças e das empresas nos próximos anos.

Olhar para frente

O conteúdo foi organizado a partir de 11 premissas (o material está disponível no site www.thecommunicationrevolution.com.br), e três delas em especial me chamaram a atenção:

1. Seja Verdadeiro. O discurso sobre a necessidade de transparência não é novidade nas organizações, mas o que mudará no jogo nos próximos anos é o fato de que uma geração inteira terá embutida a capacidade de detectar mentiras – e isso certamente vai mudar, e muito, a nossa realidade social.

2. Seja Beta. O “Ser Beta” traz o mesmo conceito de um produto em fase de testes, um protótipo. Na prática, ele significa que nada mais deve ser considerado pronto: tudo estará em constante processo de transformação. E o bom disso é que, ao testar mais vezes o inacabado, aumenta-se a tolerância ao erro, o que leva a uma maior capacidade de inovação. Não será mais possível “casar-se” com a sua própria ideia.

3. Seja Útil. Essa premissa permeia qualquer outra e é, no fundo, aquela que mais me toca. Ser útil significa colocar-se à disposição da sociedade, ser cidadão. Ninguém mais terá feito algo de valor se não dividir com os outros. Estaríamos próximos de uma era de mais generosidade?

Há ainda um grande nó a ser desatado neste período de revolução digital em que estamos vivendo: ao mesmo tempo em que temos acesso a tantas informações, nos falta repertório para tratá-las. E isso pode ter consequências duras. A possibilidade de expressar uma opinião em tempo real sem se preparar para o impacto que isso pode causar pode levar a grandes rupturas. Definitivamente, as organizações não poderão mais continuar lendo esses eventos de forma tradicional.

Em um mercado de trabalho livre, acredito de fato que as pessoas e organizações competirão baseadas nesse conjunto de premissas. Sutilezas aparecerão: trabalharemos mais em equipe, mas a diferença é que agora os times não permanecerão juntos por muito tempo.

Na opinião do CEO do grupo RBS, Eduardo Melzer, as empresas bem-sucedidas serão aquelas que tiverem uma arquitetura aberta, onde tudo o que se faz passa pela troca, pela participação coletiva. De fato, adaptar-se a esse cenário será um grande desafio para as organizações e para as lideranças, ainda muito apegadas aos seus antigos modelos (exceto aquelas que já nasceram da tecnologia, claro). Essa maior visão do coletivo parece ser inevitável no mundo dos negócios.

Que em 2015 as empresas olhem para frente, se engajem e ajudem a fazer parte dessa revolução, em vez de serem atropeladas por ela.

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Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados