Por anos, as companhias de internet tentaram desesperadamente atrair pessoas como Isaac González para usar seus serviços. Com 34 anos, casado, pai, ele é um respeitado líder de sua associação de bairro em Sacramento, na Califórnia. Autoridades e donos de empresas locais sabem quem ele é. Quando González debate questões locais, os vizinhos ouvem. E suas opiniões e recomendações são, segundo a Nextdoor, uma startup “social” de São Francisco, o segredo para expandir o alcance de sua rede e conseguir um bom faturamento, graças às empresas e aos fornecedores de serviços locais.
“Criar uma comunidade é realmente difícil”, disse numa entrevista Nirav Tolia, diretor executivo da startup. “A confiança é essencial, e deve ser autêntica.” Os investidores acham que a Nextdoor prepara uma surpresa. Em 4/3, ela anunciou que levantou US$ 110 milhões em capital de risco de investidores como a Redpoint Ventures e a Insight Venture Partners. O novo investimento confere à empresa criada há três anos e meio um valor de mercado de aproximadamente US$ 1,1 bilhão.
Os investidores acreditam que há mais dinheiro a ser captado de pequenas comunidades – do tamanho de um bairro. Muitas companhias de internet, inclusive a AOL, Google e Foursquare, já se instalaram neste mercado, com sucesso variado. Tolia e Sarah Leary, fundadores da Nextdoor, acreditam ter encontrado a resposta. O segredo está na comunidade. A Nextdoor construiu aos poucos uma rede de mais de 53 mil comunidades em todo o país, totalmente baseada nos bairros locais. A Nextdoor restringe as comunicações apenas às pessoas que vivem perto umas das outras; ao se associarem, os usuários devem confirmar sua identidade e endereço.
A Nextdoor é uma versão moderna, mais atraente de um serviço de listas de e-mails de uma comunidade, ou dos Yahoo Groups, os populares grupos de discussão. Os usuários podem postar notícias sobre o bairro, oferecer produtos para vender, pedir ajuda para encontrar bichinhos de estimação perdidos ou organizar uma festa de rua.
Utilidade pública
A Nextdoor colabora também com cerca de 650 agências de prefeituras que podem emitir alertas para toda a cidade a respeito, por exemplo, da paralisação de serviços de utilidade pública em determinadas áreas, alertas no caso de um crime ou dicas de prontidão em casos de emergência. A rede, segundo a Nextdoor, gera confiança entre os usuários, que colocarão mais informações nos comentários e – o que é mais importante para os resultados finais da companhia – em recomendações para serviços e negócios locais.
Dos cinco milhões de mensagens enviadas diariamente pela Nextdoor, disse Tolia, os usuários da rede enviam mais de um milhão recomendando serviços uns aos outros. Cerca de 80% destas postagens são discussões sobre provedoras de serviços e empresas locais. O objetivo, segundo a companhia, é começar a extrair dados destas conversações para gerar recomendações. As pessoas do serviço poderão então buscar, por exemplo, os melhores professores particulares locais, uma pessoa que faz qualquer serviço ou serviços de limpeza doméstica.
É aí que a Nextdoor enxerga oportunidades de negócios. A companhia está ainda testando modos de ganhar dinheiro com as recomendações. Ela pode usá-las para ajudar a vender anúncios a companhias que estão sendo recomendadas. Mas também está fazendo um experimento com serviços sob demanda, semelhantes a outras startups, como a Uber, o serviço de carona remunerada, ou a Instacart, que permite que usuários encomendem produtos de um supermercado online. Por exemplo, a Nextdoor poderia oferecer aos usuários a capacidade de solicitar os serviços de um encanador muito procurado ou um professor particular diretamente de sua rede, e depois ficar com uma parte da tarifa cobrada.
Segundo a companhia, esta estratégia poderá até revelar um mercado novo de pessoas que oferecem serviços locais – de passeadores de cachorros a babysitters – mas nunca puseram anúncios online antes. A rede é diferente das outras, inclusive do Facebook, que ganha dinheiro mostrando aos usuários anúncios sob medida para seus perfis pessoais, ou do Twitter, que oferece anúncios baseados no interesse pessoal do indivíduo.
“Quando as pessoas usam o Nextdoor, não estão procurando postar a foto de um gato, procuram serviços, tentam vender coisas”, disse Bill Gurley, sócio da empresa Benchmark, que investiu na Nextdoor. “O poder das redes sociais está no fato de que são fenômenos participativos”, disse David Sze, investidor da Greylock Partners e membro do conselho da Nextdoor. “Vocês fornecem este trabalho de utilidade social, e os usuários começam a falar de comércio e de serviços locais autônomos.”
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Mike Isaac, do The New York Times