As notícias sobre o descarrilamento de um trem da companhia Amtrak, em 12 de maio, na Filadélfia (EUA), foram apenas o mais recente exemplo de como smartphones e mídias sociais expandiram as oportunidades para o público não somente consumir e compartilhar notícias locais, mas para participar da produção jornalística.
De fato, relatos de como os passageiros conseguiram sair de vagões tombados, assim como outras importantes notícias locais que viraram destaques nacionais – caso dos recentes protestos em Baltimore –, foram acompanhados de produção e circulação de grande quantidade de fotos e vídeos.
Mas, até que ponto esse público está diretamente engajado em ações de jornalismo? Um conjunto de casos analisados pelo Pew Research Center, divulgado em março passado, juntamente com pesquisas anteriores sobre o assunto, sugere que é uma parte pequena da população local, mas mensurável.
Nós questionamos moradores sobre ações tomadas para reunir, compartilhar e adicionar as notícias em suas comunidades. Em três cidades – Denver (Colorado), Macon (Górgia) e Sioux City (Iowa) –, verificou-se que os residentes eram mais propensos a compartilhar notícias do que a publicar ou apresentar a sua informação. Em Denver, 54% dos moradores tinham compartilhado uma notícia através de um canal digital (como e-mail ou mídia social) no ano passado, assim como 40% em Sioux City e 36% em Macon. Mas, não mais do que um em cada dez moradores de cada cidade tinha apresentado o seu próprio conteúdo local de notícias ao abrir uma mídia social ou site.
Pedimos também a um subconjunto menor de moradores – aqueles que dizem que recebem notícias locais em um site de rede social – sobre seus comportamentos de compartilhamento e postagens em mídias sociais. Aqui, um padrão semelhante surgiu: costuma frequentemente compartilhar ou repassar notícias, imagens ou vídeos locais (30% em Denver, 28% em Macon e 30% em Sioux City) o dobro dos moradores que postam fotos ou vídeos que eles mesmos fizeram de um local ou acontecimento (16% em Denver, 15% em Macon e 15% em Sioux City).
Outra pesquisa nacional realizada em 2014 constatou uma diferença semelhante: metade (50%) dos adultos norte-americanos que são usuários de redes sociais compartilha ou reposta notícias, vídeos ou imagens. Mas em número bem menor esses usuários postam fotos (14%) ou vídeos (12%) que eles próprios fizeram de um fato que pode ser notícia.
Caminho mais fácil
A constatação de que o ato de compartilhar é mais comum do que o de buscar notícias (ou seja, fazer jornalismo) não é algo totalmente inesperado ou novo. Uma pesquisa nacional, de 2011, sobre comportamentos em relação às notícias locais apontou que 25% dos adultos compartilham links para notícias locais existentes ou vídeos, enquanto apenas 5% contribuem com artigos originais, artigos de opinião, fotos ou vídeos sobre sua comunidade local online.
Sempre foi muito mais fácil compartilhar do que produzir reportagens originais. A questão é saber se os avanços na tecnologia móvel e o uso de aplicativos para transmissão de vídeos ao vivo, como Periscópio e Meerkat, poderiam estimular a produção de notícias e tornar mais fácil sua distribuição ao público. E, claro, saber se as testemunhas de determinado fato estão em condições de dispor de informações para contribuir para as notícias.
Mas, pelo menos em um aspecto fundamental o público desempenha claramente um grande papel no universo local de notícias. Em Macon, mais de um terço dos residentes locais (37%) contam com vizinhos e amigos para levantar notícias locais, mais ou menos o mesmo percentual que lê o jornal diário (36%). Em Denver, existe uma paridade semelhante. Em Sioux City, enquanto o jornal diário é usado por mais moradores, outros membros da comunidade, no entanto, o classificam como a terceira fonte de notícias locais.
Essas conclusões ainda ecoam a pesquisa de 2001 sobre noticiário local. A sondagem apontou que 55% dos adultos norte-americanos disseram receber notícias e informações locais oralmente pelo menos uma vez por semana.
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Jesse Holcomb, do Pew Research Center