Toda vez que alguém dá share em alguma notícia polêmica e isso aparece na minha timeline só penso em uma coisa: todo mundo devia aprender jornalismo. Toda vez que alguém confunde opinião com informação ou editorial com reportagem eu penso: ah, se todo curso universitário tivesse um pouco de jornalismo. Se toda escola tivesse um pouco de jornalismo. Se toda discussão no almoço de domingo tivesse um pouco de jornalismo… O quê? O mundo seria bem melhor. Se não melhor, bem menos ingênuo.
Compreender a mídia se tornou uma habilidade essencial para todos no século 21, já que grande parte da formação cultural e social que temos vem daquilo que consumimos nas redes sociais. A mídia já não é mais um dos influenciadores da nossa cultura. Com a evolução da tecnologia, a mídia se tornou a própria cultura. E é aí que mora o problema. Pois ainda temos uma produção jornalística centralizada, segmentada e hierárquica.
Afinal, quem você acha que chega ao topo da pirâmide das grandes redações (que estão cada vez menores, diga-se de passagem)? Gente branca e de classe média ou alta. Eu sei porque faço parte dessa minoria. E sei também que essa minoria pouco ou nada entende sobre o Brasil de verdade – fato é que, sempre que se refere a um projeto social, por exemplo, a mídia rotula de “população carente” as pessoas envolvidas (aliás, repórteres, #ficadica aqui pra vocês).
Você entende tudo isso quando dá share? Você entende que por trás do seu like tem gente defendendo um ponto de vista? Mostrando um recorte da realidade? Trazendo fontes que apoiam uma tese que eles estão querendo provar? Defendendo interesses de alguns em detrimento de outros?
Precisamos todos aprender jornalismo para compreender como é feito o jornalismo que chega até a gente. Pra gente deixar de ser ingênuo. Precisamos que a escola ensine o jovem a ler a mídia. A decodificar as mensagens que recebemos e que passamos e saber como elas formam a nossa cultura e impactam a sociedade em que vivemos.
Precisamos promover questionamentos relevantes para ajudar a indústria da informação a desconstruir modelos falidos e abrir espaço para um (ou muitos) novo(s) modelo(s). Precisamos apurar o olhar do consumidor para que ele possa enxergar o que está por trás da notícia. Hablitá-lo a produzir seu próprio conteúdo e reiventar formas de fazer e distribuir informação.
Foi por isso que criamos a Énois, em 2009. E foi pra fazer o ensino do jornalismo chegar em qualquer lugar, de graça, que lançamos agora a Escoladejornalismo.org. Ela é a primeira plataforma online voltada ao ensino do jornalismo no Brasil. O site, feito para o público jovem, oferece cursos com videoaulas simples, professores que admiramos, materiais de referência e um espaço para que os estudantes publiquem seus próprios trabalhos e pontos de vista.
Conseguimos construir esse espaço – que ainda está em fase beta – com uma ajuda imensa de gente que, como nós e nossos parceiros da 3FilmGroup, acredita que abrir a caixa preta do jornalismo vai empurrar o mundo para frente. Então vai lá, usa, abusa, critica e dá share (mas lê antes, né).
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Nina Weingrill é co-fundadora da Énois e da Escola de Jornalismo; Clique aqui e saiba como apoiar.