Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma em cada 4 notícias no Twitter é falsa

Quase um quarto de tudo o que é publicado no Twitter, uma das poucas redes sociais que permitem pesquisa sem restrições de seu conteúdo, é falso.

É o que aponta estudo da Escola de Computação Interativa, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta, nos EUA. Divulgado por publicações como “New Scientist” e “Adweek”, o estudo é resultado de um projeto encabeçado por Tanushree Mitra, pesquisadora indiana ligada à Georgia Tech.

Todos os dados do levantamento foram liberados para acesso público, com o objetivo de estimular debate e aprimoramento. A liberação visa também permitir novas conclusões, para além do único resultado destacado agora –o de que “alarmantes 23,46% da corrente global de tuítes não têm credibilidade” como informação.

Zumbi

Uma das sugestões para novos estudos, a partir dos dados coletados, é relativa ao maior “hoax” (trote) de notícia identificado pelo levantamento, nos três meses pesquisados em 2014: o chamado “apocalipse zumbi do ebola”, que surgiu em site de paródia jornalística e chegou a ecoar pelo noticiário regular.

O site “Huzlers”, de conteúdo semelhante a “The Onion” e o brasileiro “Sensacionalista”, publicou como “notícia de última hora” que uma “Vítima de ebola se levanta dos mortos na África” tomada pelo “medo de apocalipse zumbi”. Mesmo sendo claramente uma piada, acabou iniciando uma “inundação” de desinformação.

A “Newsweek” ecoou usando imagens da rede ABC, que mostravam um homem que se pensava morto –por outra doença– tendo sinais de vida na Libéria. Entre os enunciados usados pela revista, por exemplo, em seu perfil no Twitter: “Vídeo de ‘zumbi’ do ebola voltando à vida minutos antes da cremação é aterrorizante”.

Estrutura linguística

“Um pesquisador de saúde poderia investigar como se difundem as teorias populares sobre uma nova doença, como o ebola”, sugere Mitra. “Esses boatos têm uma estrutura, linguística, temporal ou outra? O banco de dados foi projetado para ajudar a responder perguntas como essa.”

Intitulado Credbank, o projeto abrange dados reunidos por “computação de máquina” e avaliações feitas depois por “julgamento humano”.

“A mídia social ganhou proeminência como fonte de informação, mas persistem os questionamentos sobre a sua capacidade para espalhar boatos e desinformação”, justifica Mitra no estudo, em que detalha como chegou ao banco de dados de 60 milhões de tuítes, a partir de mais de 1 bilhão coletados.

Procurado, o Twitter respondeu que “não comenta estudos de terceiros”.

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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo