Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

20 anos de aprendizado

Se pudesse definir minha impressão de Alberto Dines, simplicidade seria a primeira palavra, aliada a uma profunda capacidade de falar e discutir sobre qualquer tema, com propriedade e uma erudição ímpar. Isso me impressionou desde o primeiro contato. Apesar da fama de um dos jornalistas mais brilhantes de sua época, quem conheceu e conviveu com Alberto Dines de cara percebia a facilidade de se familiarizar com as pessoas e conduzir uma conversa. Na verdade, era uma verdadeira aula.

Ouvia, com a humildade de um novato na profissão. Ele conhecia não só a história do Brasil, a história da imprensa, mas o jornalismo na sua acepção mais completa, tanto do Brasil quanto do exterior. Era fascinante quando se empolgava e discutia os rumos do jornalismo e até do próprio país.

Quando, em 1994, nós da Assessoria de Imprensa do Banco do Brasil tivemos a ideia de fazer um Seminário de Comunicação que trouxesse palestrantes e professores de renome, para fazer uma reciclagem do pessoal da comunicação, pedimos a colaboração do Dines e do professor Carlos Chaparro.

Dines foi um dos primeiros a ser convidado para falar no Seminário. Mas queríamos mais. E ele aceitou prontamente nos ajudar na organização, mediação e condução dos Seminários de Comunicação Banco do Brasil, a partir de 1995. Junto com o professor Chaparro, foram pessoas que fizeram a diferença para o sucesso daquele evento e dos desdobramentos dessa iniciativa.

Era para ser apenas mais um Seminário. Concluído, pela excelência e receptividade das palestras, percebemos que o conteúdo deveria ser preservado. Gravamos todas as palestras, com a intenção de, no momento oportuno, se surgisse, publicar ou pelo menos deixar à disposição dos interessados todo aquele conteúdo inestimável. O Banco do Brasil abraçou a ideia de repetir o Seminário anualmente. Em 1995, junto com o Labjor – Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas, organizamos a 2ª edição do Seminário, com uma temática diferente. Dines à frente.

Logo depois, juntamos o conteúdo dos dois seminários e aproveitamos para editar o livro “Jornalismo Brasileiro: no caminho das transformações”, com a íntegra das palestras ou de artigos dos autores, sobre o tema exposto nos dois seminários. O sucesso dessa publicação, distribuída gratuitamente a bibliotecas e aos cursos de comunicação pelo país, foi tanto, que em pouco tempo a edição estava esgotada. O prefácio do livro foi de Alberto Dines, falando sobre “Tendências no Jornalismo Brasileiro”. A íntegra do conteúdo foi, então, colocada à disposição na Internet.

Assim começou uma história de parceria que duraria cerca de 20 anos, tendo, ano a ano (com algumas alternâncias), sido realizadas 19 edições do Seminário de Comunicação Banco do Brasil, começando em Brasília, mas também indo para São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, alguns com a parceria da Previ. Era um evento gratuito, inclusive para convidados do governo. Cada ano, uma temática específica nas palestras, talk shows ou painéis, sempre com o conteúdo posteriormente editado e impresso. Acabou gerando uma coleção de temas, com artigos dos principais nomes do Jornalismo e da Comunicação Empresarial do Brasil.

Quando, anos mais tarde, em 2011, na edição das palestras do XV Seminário, com o tema “A importância social da comunicação”, Alberto Dines fez a Introdução que chamou de “A ponte entre o mundo interior e o mundo à nossa volta“. Nesse artigo, ele recordou como esse Seminário havia se tornado uma referência na discussão dos rumos da comunicação no Brasil. Disse ele: “João José Forni, então Gerente Executivo de Imprensa do banco, não pretendia apenas introduzir um evento anual de confraternização e motivação para os comunicadores da casa. Sua intenção era montar um sistema de espelhos capaz de refletir as tendências e os confrontos do mundo exterior, trazendo-os para o universo da instituição. Queria, ao mesmo tempo, identificar pessoas e projetos que mereciam ser estimulados, amplificados e multiplicados. Um sistema viário de mão dupla, autenticamente midiático — essa foi a ideia que estava subjacente à criação dos seminários de comunicação.”

Dines se empolgava com todo o projeto que fosse um desafio e, ao mesmo tempo, um estímulo ao desenvolvimento cultural das pessoas, principalmente os da comunicação. A idade não era empecilho para ele participar de debates, palestras, escrever artigos, com uma capacidade incrível de produção. Mas o que me fascinava na conversa com esse profissional era a vasta cultura geral e o profundo conhecimento de Brasil que ele possuía. Cada minuto em contato com ele, era extremamente precioso, pela experiência e a vontade de debater temas políticos e culturais.

Uma pena que tenhamos perdido esse capital humano e intelectual. Quando penso nisso, percebo a perda que foi não ter despendido mais tempo conversando com esse profissional da comunicação no sentido mais amplo da palavra. A contribuição que ele deu ao País, ao ensino e à prática do Jornalismo, e nos transmitiu no Banco do Brasil, para transformarmos a comunicação muito mais do que numa simples assessoria, foi decisiva.

Tenho absoluta convicção de que, se algum sucesso tivemos da década de 1990 em diante, nas ações de marketing e no relacionamento com o público interno e a imprensa, reconhecidos pelo mercado, devemos muito à instigante provocação dessa figura humana e provocadora que foi Alberto Dines.

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João José Forni é jornalista e consultor de comunicação. Foi por muitos anos chefe da Comunicação do Banco do Brasil. Autor do livro “Gestão de Crises e Comunicação – O que Gestores e Profissionais de Comunicação precisam saber para enfrentar crises corporativas“.