Muitos de vocês talvez não tenham percebido, mas estamos vivendo dentro de uma bolha informativa que é causa e consequência da polarização e radicalização de opiniões no contexto sócio-político atual. Esta bolha se forma quase que naturalmente durante a nossa convivência social na família, no trabalho, sindicato, partido ou clube, quando estamos cercados por pessoas que compartilham opiniões ou percepções semelhantes às nossas. As opiniões comuns tendem a se consolidar e em consequência aumenta a nossa distância em relação ao ambiente externo.
O desdobramento, quase inevitável, é o isolamento, o que gera também um aumento dos conflitos e divergências com outros grupos discordantes. O conflito provoca o aprofundamento e radicalização das opiniões compartilhadas porque o grupo começa a situar-se numa posição de confronto com os que não têm as mesmas opiniões e percepções. Este processo é alimentado pelas informações produzidas pela imprensa, e mais recentemente também pelas redes sociais na internet.
Quando as pessoas recebem apenas um tipo de informação fornecida pela mídia, elas tendem a desenvolver percepções e opiniões cada vez mais radicais porque se sentem incompreendidas pelas demais e também porque tem suas convicções reforçadas por argumentos, dados e fatos obtidos junto a indivíduos que compartilham o mesmo posicionamento. Isto ocorre tanto dentro como fora das redações, dando origem a um fenômeno conhecido entre os sociólogos e comunicólogos como “bolha informativa”.
A bolha serve como caldo de cultivo para o desenvolvimento de posições extremadas e irrealistas que se formam sem muitas vezes que as pessoas envolvidas tomem consciência. O único antidoto conhecido até o momento para o fenômeno da polarização cognitiva é a diversificação informativa, por meio da qual percepções e opiniões diferentes são confrontadas, possibilitando o surgimento de um mínimo de consenso entre posições antagônicas.
Daí o papel fundamental da imprensa na promoção da diversificação informativa, um processo complicado porque nos obriga a dar atenção a fatos, eventos, pessoas e processos com os quais temos discordâncias. É um aprendizado complexo porque mexe com a forma pela qual escolhemos amigos, parceiros e interlocutores. Aceitar e entender o que não gostamos ou rejeitamos não é fácil, e a prova está na tendência universal à formação de grupos sociais mais ou menos homogêneos. Hoje a diversidade é mais uma exceção do que uma regra no convívio social.
O processo industrial e mercantil que garante a sobrevivência de empresas jornalísticas é movido pela logica da concentração e uniformização responsável pela eficiência produtiva, pela remuneração de funcionários e acionistas. Isto gera uma contradição e um conflito entre a lógica empresarial e a lógica da informação, como insumo básico para a formação de opiniões e tomada de posições que influenciarão o equilíbrio das relações sociais em comunidades humanas.
A diversidade informativa é um dos maiores desafios do jornalismo contemporâneo não só porque contraria um conjunto de comportamentos e valores estabelecidos há muito tempo como também porque a avalancha informativa gerada pela internet tornou tudo muito mais complexo e relativo. A quantidade enorme de dados e informações publicadas diariamente na internet confunde as pessoas que num instinto de sobrevivência informativa passam a se aglutinar em nichos sociais que multiplicam as bolhas.
Trata-se de um grande paradoxo. A diversidade de percepções e opiniões cresce exponencialmente na internet, mas ao mesmo tempo as pessoas se refugiam em guetos informativos porque não conseguem lidar com a diversidade. É neste ambiente que trabalharão os jornalistas da era digital, sobre os quais recai uma tarefa quase impossível. Evitar a multiplicação de bolhas informativas e ao mesmo tempo viver dentro delas.