Saturday, 07 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1304

2017: Sinal vermelho para o jornalismo

O que muitos já não acreditavam vai acontecer: 2016 chega ao fim. A duração deste ano chegou a virar motivo de ironia nas redes sociais. Isso devido aos meses conturbados em qualquer área que se queira abordar: política, futebol, religião e, por que não, a imprensa tupiniquim.

Longe de ter a intenção de esmiuçar cada evento que aconteceu no calendário vigente (até por não querer desenterrar tragédias já passadas), mas é válido comparar alguns fatos e observar as reações refletidas nas páginas dos jornais, nas telas dos teleprompter, ou dos laptops, além das ondas do rádio.

As notícias entre os colegas de profissão em meados do primeiro trimestre eram o espanto com a onda crescente de demissões, fechamento de redações inteiras e as notas de empresas de mídia decretando falência. Porém, o sentimento de solidariedade aos que perderam o pão de cada dia logo ficou em segundo plano com o passar dos meses. Isso porque, sem definir bem a causa e mensurar os efeitos, o corpo da imprensa foi dividido em trincheiras ideológicas.

A labuta de reportar o que acontece nas ruas e nos plenários à população ficou em paralelo com a opinião dos veículos de comunicação, e dos próprios jornalistas. Assim, matérias passaram a ter conotações cada vez mais de editoriais e artigos. E se um dia dormimos com uma presidenta, noutro acordamos com um presidente. Fato esse indigesto por parte da população e incompreendido por alguns midiáticos. A essa altura, poucos veiculavam informações… o que valia era a opinião na era dos espetáculos.

A veia passional entre os comunicadores ficara dilatada e deixamos o objeto da matéria de lado para classificar (e julgar) cada veículo. O dito popular de que “pau que dá em Chico, também dá em Francisco” motivou uma busca por justiça com as próprias mãos. Foram blogs, milhões de posts, fóruns, revistas e canais acusados de tomarem partido, e não poucas as vezes sequer foram ouvidos por já serem preterido após uma classificação de credo, cor ou legenda.

Telhado de vidro

O aconselhável “ouvir de tudo e reter o que é bom” foi substituído por “não dou audiência a mídia vendida”. De repente, manifestações contra a imprensa partiam dos próprios profissionais que já tinham abdicado de apenas fazer críticas construtivas. Aqueles que transmitiam passaram a ser notícia também.

Em março, a Globo News divulgou grampo de uma conversa do ex-presidente Lula com a presidenta na ocasião, Dilma Rousseff, que desestabilizou ainda mais uma gestão e um partido que estava indo por água abaixo. Na mesma época outro grampo mostrava Lula fazendo sugestão de pauta à revista Carta Capital. Este dezembro, a Carta Capital volta a ser news, e admite que Odebrecht fez um “adiantamento de publicidade” no valor total de R$ 3,5 milhões.

Não foram também poucas as vezes em que expressões contra a revista Veja, ou “Globo Golpista” foram viralizadas e exploradas por outros veículos (ainda mais em uma era digital). O que ganhou força em junho, quando o então presidente (ou ainda presidente?!) suspendeu patrocínio de R$ 11 milhões a blogs políticos, mantidos pela gestão anterior.

Em novembro, a rejeição à Rede Globo foi materializada na agressão que o repórter Caco Barcellos sofreu quando jogaram um cone em sua cabeça.

De concreto mesmo é que todos os veículos têm telhado de vidro, seja os considerados de direita, seja os considerados de esquerda – uma realidade indigesta para quem tem marketing baseado em imparcialidade e isenção.

Se começamos o ano lamentando a perda de emprego de colegas, terminamos lamentando a falta de credibilidade. O alerta aos profissionais em janeiro pode terminar com sinal vermelho ao Jornalismo.

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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista.