Paris Match completa 60 anos e festeja com um belo número especial, cuja madrinha é ‘a noivinha’ (la petite fiancée) da revista, Brigitte Bardot, uma respeitável senhora de 75 anos que inaugurou, em 1951, aos 16 anos, as 38 capas que lhe foram dedicadas. Ela era uma ilustre desconhecida e sua foto ilustrava uma matéria sobre um método de eterna juventude. Depois, aos 18 anos, ela conheceu um certo Roger Vadim, de 24 anos, que para casar-se com a filha de Monsieur Bardot teve que provar que tinha um salário. Vadim arranjou um emprego de repórter da revista, que se tornou uma segunda residência de Brigitte. Ela rememorou no especial as histórias que viveu na redação com seus amigos fotógrafos e jornalistas, que a chamavam de Bri.
Essas histórias de uma figurinha fácil da redação que se tornou um símbolo sexual mundial foram contadas pela musa da revista, que hoje usa bengala e não se deixou fotografar ao receber em Saint Tropez um velho amigo, o jornalista Christian Brincourt. O método da ‘eterna juventude’ não devia ser tão eficaz assim.
Falar dos 60 anos de Paris Match é falar de people, como os franceses chamam as celebridades. Simplesmente porque elas são o principal atrativo da revista, mesmo que nela possam ser lidas (e sobretudo vistas) boas reportagens. Match baseia seu sucesso no pressuposto de que o tema das reportagens tem que ser traduzido em grandes e belas fotos.
Processos freqüentes
A revista semanal francesa que já foi apontada, na década de 60, pelo proprietário da americana Life, Henry Luce, como ‘a melhor do mundo’, sempre privilegiou as imagens. ‘Não me venham falar de uma grande matéria sem imagens. Se você não tem fotos de seu maravilhoso texto, nem me proponha’ costumam responder aos jornalistas novatos os chefes de redação da revista.
Match abre amplos espaços às reportagens com fotos exclusivas de grandes fotógrafos, mas também dedica parte de seu conteúdo (e sobretudo suas capas) às celebridades da França e do mundo. Por isso, freqüentemente a revista é levada aos tribunais por celebridades que alegam ‘invasão de privacidade’ e pedem indenizações. O último processo foi ganho por Ségolène Royal, fotografada na Espanha com seu novo namorado e exibida numa capa de Match este ano.
Vestígios do nazismo
A família Grimaldi, que reina sobre o principado de Mônaco, é outra ‘cliente’ assídua de Paris Match. Foram tantas reportagens e tantos processos que a revista perdeu a conta. E perdeu mais: seus cofres foram esvaziados pelas inúmeras indenizações pagas por exigência da justiça francesa.
O número especial publica textos de escritores franceses nos quais cada um comenta sua visão de uma das seis décadas: os anos 50, 60, 70, 80, 90 e 2000. Mas uma das melhores histórias do número especial é a do papagaio Lora, morador do zôo de Munique, publicada no número 2 da revista, em 1949. A Alemanha não sabia o que fazer para apagar vestígios do nazismo que o papagaio de Munique tinha conservado. Quando alguém se aproximava, ele fazia sempre a mesma saudação: ‘Heil Hitler, kamerad’. Nos dias de grande movimentação, o diretor do zoológico tinha que mandar esconder Lora para evitar incidentes! Um dia, para alívio geral, Lora sucumbiu a uma doença.
No dia 26 de março, a revista colocou online seu site que pode ser consultado gratuitamente até setembro. Vale a pena ler (e ver) o especial.
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Jornalista