O primeiro sinal de que eram para valer os Princípios Editoriais das Organizações Globo, divulgados há três semanas por Fátima Bernardes e William Bonner no Jornal Nacional, foi dado pelos mesmos, três dias depois. Em chamada do JN, à tarde, ela anunciou, entre os atingidos por uma operação da Polícia Federal, alguém que não havia sido preso, na verdade. No telejornal, depois, ele abriu a reportagem se desculpando com a vítima. Dos Princípios Editoriais: “Os erros devem ser corrigidos, sem subterfúgios e com destaque.”
Um segundo sinal foi dado no Fantástico, no último domingo (28/8), em reportagem sobre a “indústria de trabalhos escolares”. Um dos envolvidos deu entrevista e depois voltou atrás. “Mas o Fantástico decidiu que a conversa deveria ser mostrada”, anunciou o programa, “de acordo com os Princípios Editoriais das Organizações Globo.”
Dos Princípios Editoriais: “Concedida uma entrevista exclusiva, uma fonte pode pedir alterações, acréscimos ou supressões, mas o jornalista julgará se o pedido se justifica. Haverá vezes em que o jornalista não concordará com a mudança, sendo, nestes casos, necessário registrar que a mudança foi solicitada, mas não aceita.”
Documento enfatiza “a isenção”
Ainda é cedo para saber se o longo documento, quase um manual, abre uma nova fase do jornalismo global. Mas já parece estender sua influência sobre uma área marcada por interesse comercial, a cobertura esportiva. Em julho, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, aliado tradicional, disse, em entrevista à revista piauí, não se importar com denúncias da Record: “Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão.” “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo. Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”
Um mês e meio depois, já com os Princípios Editoriais na mão, o JN produziu uma longa reportagem sobre a investigação de uma “fraude na contratação de amistoso da seleção”, ressaltando uma imagem de Teixeira.
O documento enfatiza, entre os atributos da informação de qualidade, “a isenção”. Sua elaboração foi “um projeto conduzido diretamente pelos acionistas”, informam as Organizações Globo. Ele “tem como objetivo deixar claros quais são os princípios” para os telespectadores, leitores e outros consumidores. “Além dos nossos próprios profissionais.”
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[Nelson de Sá é articulista da Folha]