Após mais de um ano desde o escândalo que abalou seu império jornalístico na Grã-Bretanha, Rupert Murdoch renunciou ao cargo de diretor numa série de empresas que controlam títulos como o tabloide The Sun e os jornais The Times e The Sunday Times.
A decisão alimenta novas especulações sobre a possibilidade de que o magnata esteja planejando a venda dos jornais, que foram um importante degrau de ascensão durante as décadas em que ele construiu seu império global de mídia.
Uma porta-voz da empresa disse no sábado que Murdoch, de 81 anos, fundador da News Corp., renunciou na semana passada à direção do NI Group, Times Newspaper Holdings e Newscorp Investments na Grã-Bretanha. As empresas são subsidiárias da News Corp., empresa de US$ 53 bilhões com sede em Nova York, cujos bens incluem o Wall Street Journal, as emissoras de televisão Fox Broadcasting e o estúdio de cinema 20th Century Fox.
Aparentemente ansioso para acalmar os ânimos de milhares de funcionários dos jornais britânicos, que receberam um e-mail confirmando a saída de Murdoch no sábado, a empresa ofereceu garantias de que Murdoch e sua família não tinham planos imediatos de romper seu vínculo com os jornais.
Os jornais britânicos foram centrais para a construção da fortuna de Murdoch nos anos após a expansão de seus investimentos em mídia para além de seu país natal, a Austrália, e antes de ele expandir seu império com empreendimentos muito mais rentáveis nos Estados Unidos.
Por mais que tenham sido constantes as especulações segundo as quais ele tentaria vender os jornais após a conclusão de dezenas de processos pendentes envolvendo os casos de instalação de escutas ilegais, o e-mail disse que ele pretendia continuar na presidência das empresas de jornalismo, de acordo com um funcionário que não quis ser identificado.
“Na semana passada, o sr. Murdoch renunciou à sua posição numa série de conselhos, muitos deles pertencentes às subsidiárias menores, tanto na Grã-Bretanha quanto nos EUA”, disse no sábado uma fonte da News International, subsidiária britânica de jornalismo da News Corp., que não quis se identificar.
A fonte descreveu a renúncia de Murdoch nas diretorias britânicas como “nada além de um exercício de faxina corporativa” antecedendo a reestruturação anunciada no mês passado, que dividirá a News Corp. em duas: uma empresa consistirá na divisão de jornais e outros produtos impressos, enquanto a outra será proprietária dos empreendimentos televisivos e cinematográficos, muito mais rentáveis.
Ainda assim, a decisão marca uma virada notável. No último mês de fevereiro, Murdoch deixou de frequentar a cerimônia do Oscar e foi a Londres pessoalmente para supervisionar a edição de estreia da versão dominical do Sun, enfatizando, em memorando, seu “apoio decidido” aos funcionários.
Reputação
Os jornais britânicos, com os quais Murdoch teve um intenso envolvimento pessoal desde que transferiu a sede de seus escritórios da Austrália para Londres nos anos 60, tiveram sua reputação arruinada no último ano pelas revelações de numerosos casos de quebra de sigilo telefônico e outras práticas ilegais, como oferta de subornos a funcionários públicos, cometidas pela redação, especialmente no Sun e no News of the World, tabloide de 168 anos e um dos mais rentáveis do país.
Por causa do escândalo, Murdoch fechou o News of the World em meados do ano passado. Além disso, foram detidas desde então cerca de 50 pessoas ligadas ao caso, principalmente executivos, editores e repórteres dos jornais de Murdoch, por suspeita de envolvimento em atividades criminosas.