Uma equipe comandada por Martin Scorsese filmou cada detalhe da festa de 50 anos da New York Review of Books, uma das mais prestigiosas revistas de resenhas e reportagens do planeta, na terça-feira (5/2), em Nova York.
Mas o elenco, do palco à plateia, parecia muito mais saído de um antigo filme de Woody Allen. Entre centenas de tweeds, gola rolê e óculos de armação grossa, um quem-é-quem de grandes autores e colaboradores habituais da revista passou pelo palco do teatro Town Hall, com seus 1.500 lugares lotados.
Joan Didion leu trechos de sua reportagem de 1991 sobre o estupro da “corredora do Central Park”, crime que chocou a cidade em 1989, quando quatro negros e um hispânico foram presos injustamente.
Michael Chabon leu um conto inédito e bem-humorado sobre seus inícios como escritor. Daniel Mendelsohn leu uma crítica inédita (e demolidora) do filme A Hora Mais Escura – atenta às transformações culturais, a revista também traz resenhas aprofundadas de cinema e, ultimamente, sobre seriados de televisão, como “Homeland” e “Mad Men”.
Mark Danner leu dois textos sobre o presidente Obama. O primeiro foi publicado durante a campanha de 2008, sobre o sucesso de Obama em uma feira rural onde todas as senhoras locais queriam cozinhar tortas de batata-doce ao então candidato.
O outro texto é sobre os drones, as naves não tripuladas que matam “inimigos de Estado”, revelando o desencanto da esquerda americana com sua política externa (a New York Review of Books foi chamada de “publicação-chefe dos radicais chiques” pelo escritor e jornalista Tom Wolfe nos anos 1970).
No Brasil, a publicação serviu de inspiração para o caderno “Ilustríssima”, da Folha, e para a revista piauí.
Scorsese não confirmou se fará um documentário sobre a revista, da qual é fã.
Declínio da crítica
Cada convidado recebeu uma versão fac-símile da primeira edição da revista, de fevereiro de 1963, chamada pela New Yorker de “melhor edição de estreia de qualquer revista na história”.
Nessa primeira edição, havia textos de W. H. Auden, Norman Mailer, Gore Vidal e Susan Sontag, entre outros, todos escrevendo de graça em um mutirão organizado pelos editores Robert B. Silvers e Barbara Epstein e a escritora Elizabeth Hardwick, que tiveram a ideia da revista durante a greve dos gráficos nova-iorquinos que paralisou a impressão de sete jornais da cidade.
Graças à greve, a NYRB seria a única publicação onde editores poderiam anunciar. Os 100 mil exemplares de estreia se esgotaram rapidamente.
Na festa, Silvers, 83, relembrou o início da publicação. Em 1959, quando ainda era editor da revista Harpers, ele publicou um texto de Elizabeth Hardwick chamado “O Declínio da Crítica Literária”, que inspirou o grupo fundador. “Cinquenta anos depois, continuamos a lutar contra esse declínio”, brincou.
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[Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo em Nova York]