A palavra ombudsman é de origem sueca e significa representante do cidadão. No jornalismo, o termo é utilizado para indicar o profissional que tem como missão intermediar a comunicação entre o público e o veículo. O ombudsman é contratado para receber e analisar sugestões, críticas ou elogios dos leitores e deve agir de forma imparcial. Em jornais e revistas, o profissional possui uma coluna fixa e pode falar sobre qualquer assunto relativo ao posicionamento do veículo ou sobre as notícias publicadas.
O cargo de ombudsman de imprensa foi criado nos Estados Unidos na década de 1960. No Brasil, o primeiro veículo a adotar a função foi o jornal Folha de S.Paulo, em 1989. Atualmente, quem ocupa a função de ombudsman na Folha é a jornalista Suzana Singer. Formada pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Singer também cursou ciências sociais na USP.
A jornalista é a décima profissional a ocupar o cargo de ombudsman na Folha. Trabalha no jornal há 25 anos, desde 1987. Foi repórter e teve cargos de chefia nas editorias Educação, Ciência e Suplementos. Participou da criação do caderno Folhateen, do Guia da Folha e das seções Saúde e Folha Corrida. Em março de 2004 assumiu a função de Secretária de Redação da Folha de S.Paulo, onde ficou até janeiro de 2010, quando substituiu Carlos Eduardo Lins e Silva no cargo de ombudsman.
Em 26 de abril de 2012 a Folha renovou por mais um ano a função de Suzana Singer como ombudsman do jornal. Na época a Folha também anunciou uma ampliação de mandatos de um mesmo ombudsman de três para quatro anos. Permanece o regulamento definido pela Folha,segundo o qual é proibida a demissão do cargo durante o mandato e garante o contrato do profissional com a empresa por no mínimo seis meses após seu afastamento como ombudsman.
Suzana é filha do economista e professor Paul Singer, criador e titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), é irmã do cientista político André Singer, jornalista que foi porta-voz da Presidência da República no governo Lula (2003-2007) e da socióloga com pós-doutorado em Educação, diretora pedagógica da Associação Cidade Escola Aprendiz, Helena Singer.
Na entrevista realizada por Panorama Mercantil, a jornalista analisa o cenário da imprensa no Brasil, com destaque para dois momentos na entrevista. No primeiro ela diz que acredita que os veículos impressos vão resistir: “Talvez eles não tenham mais números de vendas tão grandes, mas continuarão atendendo uma elite”. Em outra parte da conversa, ela afirma categoricamente sobre o negócio da mídia: “Não sei que modelo econômico vingará, mas no momento faz todo o sentido cobrar por informação diferenciada”. Isso e muito mais você verá agora com exclusividade em nosso portal.
Existe alguma coisa que um ombudsman não pode criticar em seu jornal?
Suzana Singer – Não.
Grandes veículos de comunicação estão indo cada vez mais para o online, e o que todos tem dito é que os custos para se fazer um jornal impresso está ficando inviável. A senhora acredita que as publicações impressas irão sobreviver?
S. S. – Sim. Talvez elas não tenham mais números de vendas tão grandes, mas continuarão atendendo uma elite consumidora de mídia.
A palavra ombudsman significa representante do cidadão. Com a internet esse cidadão criou voz e às vezes, ele usa essa “voz” de uma forma um tanto quanto agressiva principalmente nos comentários das matérias. A senhora considera que esses comentários devem ser moderados em sites jornalísticos ou abertos, já que muitos dizem que moderação é um tipo de censura?
S. S. – Devem ser moderados. Da mesma forma que o jornal escolhe as cartas a serem publicadas, deve se selecionar os comentários online.
Por que a senhora considera que a mídia tem tanta dificuldade de discutir a própria mídia?
S. S. – O jornalismo contém uma alta dose de crítica, em todas as áreas, de economia a esportes. Só que os jornalistas não estão acostumados a serem questionados e nem criticados.
Como a senhora está vendo a qualidade da informação na era digital?
S. S. – Vivemos hoje um período de transição, em que muitas empresas precisam manter os dois modelos, impresso e internet, funcionando simultaneamente e sem elevar os custos. Ou seja, uma redação produz muito mais hoje do que no passado. Isso afeta a qualidade da informação.
Em uma entrevista, a senhora se mostrou um pouco cética com o chamado jornalismo colaborativo praticado hoje sobretudo na internet. Poderia nos apontar os principais erros desse novo modo de fazer jornalismo?
S. S. – O jornalismo colaborativo é um excelente instrumento de ajuda, mas não substitui o modelo tradicional. Veja o que aconteceu nos EUA, durante a cobertura dos atentados em Boston: Pessoas foram acusadas injustamente no afã de quem acharia o culpado antes. Não dá para fazer jornalismo com base apenas no voluntarismo.
Sabemos que o jornalismo de qualidade é caro. Como a senhora acredita que podemos ter a mesma qualidade na web, mas de uma forma que não faça afugentar os leitores, pois sabemos que poucas pessoas, gostam de pagar por uma informação no Brasil?
S. S. – Não sei que modelo econômico vingará, mas no momento faz todo o sentido cobrar por informação diferenciada, por algo que o internauta não encontrará de graça em outros sites.
Alguns jornalistas de esquerda acusam a Folha de S.Paulode ser um veículo que luta contra o Brasil já que ele não é imparcial atuando muitas vezes como um partido político. Muito provavelmente a senhora dever ler coisas a respeito. O que pensa sobre esse assunto tão falado principalmente nos veículos da chamada imprensa “progressista”?
S. S. – A Folha é muito crítica ao Governo Dilma, sem dúvida. O que as pessoas esquecem é que o jornal tem uma tradição de tratar duramente o Governo. Foi assim com FHC, Sarney e Collor.
Dentro da própria Folha, alguém já reclamou sobre o que a senhora escreveu como ombudsman?
S. S. – Apenas uma coluna minha, sobre crítica de teatro, foi respondida, em um outro artigo publicado no jornal. Não vejo problema nenhum nisso, é bom haver essa discussão.
“Se os jornais não forem capazes de oferecer mais qualidade aos seus leitores, apressarão o passo rumo a irrelevância”. A senhora disse isso exemplificando o estado atual do jornal O Estado de S.Paulo,que diminuiu de tamanho. Acredita que só a qualidade segurará os leitores dos impressos em tempos de informação chegando até por e-mails e telefones celulares?
S. S. – Se não for a qualidade, não imagino o que será, já que não dá para competir com a rapidez e o conforto do online. Faço apenas uma ressalva: O problema do tamanho do jornal não é só do “Estado”, mas de todos os jornais.
Alguns jornalistas que já trabalharam na chamada grande imprensa, dizem que não existe liberdade de imprensa no país, aliás existe, mas apenas para os donos dos veículos. Como vê essa afirmação?
S. S. – Não vejo sentido nessa crítica. Um repórter não pode escrever qualquer coisa em um jornal ou em uma revista, ele faz parte de uma redação, é pautado, seu texto é editado etc. Isso não significa que não há liberdade de expressão.
É evidente que em muitos casos, a mídia abusa do seu poder. A senhora acredita que a imprensa nacional deve ser autorregulada, ou acredita que os veículos podem se autorregular sem que uma lei seja sancionada?
S. S. – Para começar, as empresas de comunicação deveriam ter princípios editorais escritos e divulgados. Deveriam criar cargos de ombudsman ou de representantes de leitores e aprender a praticar a transparência e a prestação de contas.
Quais as principais desvantagens e vantagens de olhar o jornal em que se trabalha de uma forma imparcial?
S. S. – Não vejo desvantagens. Trata-se de um exercício diário.
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Eder Fonseca é jornalista