Na cobertura de guerra, o repórter não precisa se arriscar como um soldado. Os drones com câmeras podem se aproximar mais do confronto
A utilização de drones na cobertura jornalística marcou o primeiro dia de debates do encontro de editores de jornais da Global Editors Network (GEN), que ocorreu entre os dias 19 a 21 deste mês, em Paris.
Os drones, palavra que em inglês significa zangão, são os veículos aéreos não tripulados (vant), que, se utilizados com câmaras ou filmadoras, constituem mais uma ferramenta para o jornalismo.
A BBC, a ABC News e outros grupos de mídia já têm usado os drones, mesmo que não haja uma legislação específica sobre o tema nos países em que atuam.
O grupo L'Express, da França, fez uma experiência de três meses de cobertura com drones equipados com filmadora. Para contornar o custo da experiência, os jornalistas da empresa contaram com a parceria de uma fabricante de drones, a Parrot, que durante o encontro em Paris vendeu o equipamento ao preço de 300 euros, na versão básica, com autonomia de 15 minutos e com peso inferior a 500 gramas.
Os jornalistas do L'Express contam que a Parrot cedeu dez unidades para a experiência, mas que ao menos quatro foram perdidas, por falta de perícia no manuseio. Com humor, Raphael Labbé, um deles, contou que um drone caiu no Sena quando tentava fazer a cobertura de uma manifestação, pois o aparelho dependia de conexão wi-fi e se afastou demais da base. A sua exposição no evento do GEN se chamava “Drone it”.
Vantagens ecológicas
Guy Pelham e Nicholas Pinks, da BBC, disseram que a palavra drone assusta os ingleses e que grande parte do trabalho para a adesão a essa ferramenta passa por convencer a opinião pública da sua utilidade.
Em geral, as regras para a utilização de veículos aéreos não tripulados fazem distinção em função do tamanho e do peso das engenhocas.
Em alguns países, como na Austrália, há a expectativa de que os aparelhos que pesem menos de dois quilos sejam liberados pela legislação, podendo voar sem qualquer tipo de licença. A Austrália atualmente exige autorização para uso do equipamento, que pode custar até U$ 8.000.
Mas, mesmo que sem licença alguma, é claro que a utilização do drone sempre gera responsabilidade, pois um acidente pode causar grande estrago, com danos inclusive à reputação da empresa que o provocou.
Há drones para todos os gostos e mais de um milhão deles voando por aí. Desde aqueles de uso militar, como tem sido notícia nos EUA, com autonomia de 24 horas e que podem custar milhares de dólares, como os da Parrot e alguns outros que pesam menos de 50 gramas, bem pequenos, com um design similar ao de um inseto.
Alguns podem ser pilotados por uma só pessoa e outros necessitam de uma equipe com pessoas de diferentes especializações.
Os jornalistas apontam algumas vantagens na utilização dos drones, a primeira delas relativa à segurança. Mark Corcoran, que narrou as experiências da Australian Broadcasting Corp com os drones, afirma que, na cobertura de uma guerra, por exemplo, não é necessário que jornalistas corram os mesmos riscos que os soldados.
Os drones com câmeras ou filmadoras podem se aproximar mais dos eventos, poupando os repórteres. Ele mesmo, que esteve em zonas de combate, defende que a segurança dos jornalistas talvez seja a maior vantagem da utilização dos drones.
Mas há também vantagens ecológicas, se comparados a helicópteros, e também de custo e flexibilidade. A Fox Sports, por exemplo, contou que tem autorização para ficar a cinco metros dos jogadores, o que é um privilégio para algumas práticas esportivas.
Boa práticas
As implicações da utilização dos drones são diversas. Vão desde as mais óbvias, como a questão da privacidade e a proteção de dados, até a que envolve a discussão das liberdades civis e da utilização do espaço aéreo.
As legislações americana e inglesa limitam a aproximação de um drone de uma pessoa a 500 metros de distância e a 400 pés (122 m) de altura, o que, a julgar por notícias publicadas, parece não ser muito respeitado.
De qualquer modo, a disseminação do uso dos drones para fins jornalísticos já faz com que algumas redações pensem em adotar um código de melhores práticas para a sua utilização.
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Taís Gasparian, 54, advogada, mestre pela Faculdade de Direito da USP, é sócia do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian Advogados