Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novo dono quer mais inovação no ‘Post’

Jeffrey P. Bezos, o novo dono do jornal The Washington Post, diz não ter as respostas para o que está enfraquecendo o setor de jornais ou para a organização noticiosa financeiramente encrencada que ele decidiu comprar. Mas afirma que está ansioso para começar a fazer perguntas e realizar experimentos na busca de uma nova “era de ouro” para o jornal.

Em sua primeira entrevista desde que a compra do Washington Post por US$ 250 milhões foi anunciada, no início de agosto, Bezos afirmou que sua abordagem para o negócio será parecida com a filosofia que guiou a construção da Amazon.com de uma empresa startup, em 1995, a um colosso da internet com US$ 61 bilhões em vendas, no ano passado.

“Tivemos três grandes ideias na Amazon que mantivemos por 18 anos: ponha o consumidor em primeiro lugar, seja criativo e seja paciente”, disse. “Se você substituir ‘consumidor’ por ‘leitor’, essa abordagem pode ser bem-sucedida no Post.”

Bezos, 49 anos, falou por telefone de Seattle na sexta-feira, quatro dias antes de sua primeira visita à redação, marcada para hoje. O negócio, que chocou o meio noticioso, deve ser concluído em outubro.

Bezos disse que sua principal contribuição ao negócio será oferecer seu “ponto de vista” em discussões com a liderança do jornal sobre como a publicação deve evoluir. Disse também que fornecerá suporte financeiro durante um período prolongado no qual a administração poderá experimentar para encontrar uma fórmula lucrativa de fornecer notícias.

Durante a visita ao jornal, Bezos pretende se encontrar com a editora-chefe do Post, Katharine Weymouth, e dirigentes de alto escalão das operações editoriais e comerciais do jornal.

Com base em seus comentários na entrevista de sexta-feira, parece improvável que Bezos tome qualquer decisão ou faça declarações importantes de forma imediata.

O Post é a estreia de Bezos no mundo editorial e será operado como uma empresa autônoma, independente da Amazon. O empresário acompanhará o negócio à distância, pois continuará vivendo em Seattle, onde fica o quartel-general da Amazon, e não deixará os cargos de presidente e presidente do conselho da empresa de e-commerce.

Bezos é um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna de US$ 24 bilhões. Seus bolsos recheados, conhecimento tecnológico e reputação como um pensador estratégico no longo prazo estavam entre os atributos que o presidente executivo da Post Co., Donald E. Graham, citou ao lhe vender o jornal após 80 anos sob o controle da família Graham.

Graham e Katherine Weymouth, sua sobrinha, colocaram discretamente a empresa à venda no início deste ano após concluir que o jornal precisaria de um dono capaz de fazer um investimento sustentado nele.

Nova ordem

“É importante que o Post não apenas sobreviva, mas que cresça”, disse Bezos. “O Post ainda tem um grande produto, só que dentro de uma empresa em dificuldades.”

Na entrevista, o dono da Amazon ressaltou que não tinha soluções imediatas para os jornais em geral e para o Post, que é castigado pela competição com a internet, que enfraqueceu sua receita publicitária e reduziu o público do jornal impresso.

Bezos sabe que o investimento no jornal terá de ser de longo prazo. O empresário diz que será preciso experimentar e estar disposto a repensar estratégias. “(O jornal) despeja energia, investimento, suor e dólares na descoberta de matérias investigativas. E aí um bando de sites da web resume esse (trabalho) em cerca de quatro minutos e os leitores podem acessar essas noticias de graça. Uma questão é: como ganhar dinheiro neste tipo de ambiente? Se não puder, é difícil pôr os recursos necessário nisso.”

Bezos relata que sempre teve um “caso de amor” com a palavra escrita – tanto que, além de vender livros, hoje a Amazon também os publica. A internet e o lançamento do e-reader Kindle da Amazon o convenceram de que a palavra não precisa necessariamente estar no papel.

Depois de analisar por meses a compra do jornal, Bezos chegou à conclusão de que poderia colaborar em seu ressurgimento. Ele diz ter a oferecer ferramentas que o jornal precisa: “Investimento de longo prazo, alguma habilidade com tecnologia e internet, foco no leitor e vontade de experimentar.” 

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Paul Farhi, do Washington Post