Caio Túlio Costa, nasceu na cidade mineira de Alfenas em 1954. Jornalista, professor, doutor em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP, executivo na área de comunicação digital e Visiting Research Fellow na Columbia University Graduate School of Journalism, em Nova York. Caio
Túlio trabalhou durante 21 anos no jornal Folha de S. Paulo onde foi editor, secretário de redação, correspondente na Europa, baseado em Paris, diretor de revistas e pioneiro nos investimentos do jornal em internet. Ainda na Folha, foi escolhido o primeiro ombudsman da imprensa brasileira. Em maio de 2006 assumiu o cargo de presidente do Internet Group, braço de internet da Brasil Telecom, que controlava os portais e provedores iG, iBest e BrTurbo. Deixou o iG em janeiro de 2009 depois que a empresa foi adquirida pela Oi.
Para o Panorama Mercantil, o jornalista afirma que a data mais provável para o fim dos jornais impressos é 2044.
O senhor acredita que 2027 seja mesmo a data da morte dos jornais impressos?
Caio Túlio Costa – Absolutamente não. A data mais provável é 2044.
Muitos jornalistas dizem que a função do jornal hoje é mais analítica. Mas se uma empresa online fizer esse papel com qualidade e competência, qual será a saída para o impresso sobreviver?
C.T.C – O jornalismo se faz em qualquer meio de comunicação, seja online ou offline, eletrônico ou impresso. Uma das funções do jornalismo, além de noticiar, é mesmo analisar, comentar, ilustrar, didatizar, vulgarizar (no bom sentido). Isto pode ser feito em qualquer suporte. O jornal impresso não precisa, necessariamente, sobreviver. O que precisa e vai sobreviver, porque a sociedade necessita desta mediação, é o jornalismo. Um jornalismo independente, abrangente, crítico em relação aos centros de poder – políticos ou econômicos. Não importa qual suporte o abrigue.
Por que a mídia tem tanta dificuldade de debater a própria mídia e seus excessos?
C.T.C – Tem mesmo? Esta entrevista não está fazendo isso? O seu site não é mídia? Você já viu o Observatório da Imprensa? A Folha não tem ombudsman para analisar seus excessos? Por que esta generalização? – pergunto eu.
Como um dos criadores do UOL, o maior portal do Brasil, acredita que será a internet depois da web 2.0?
C.T.C – Considero limitadora a definição de web 2.0. O meio digital vai continuar crescendo e criando inúmeras oportunidades de publicação e de interação. Basta ficar atento e acompanhar a evolução tecnológica, seja como consumidor passivo seja como desenvolvedor – mas disposto a investir. Qualquer empresa, instituição ou indivíduo que estiver atento, focado e disposto a investir, tem tudo para se dar bem no meio digital.
Na França, todos que acompanham a mídia de uma forma geral, sabem que o jornal Le Mondeé de centro-esquerda e o Le Figaroé conservador. Por que, no Brasil, os grandes veículos ainda tem tanta dificuldade de falar que tem um lado, sobretudo um lado político?
C.T.C – No Brasil todos leitores sabem que a Folha é mais liberal, que o Estadão é conservador, que a Veja é conservadora, que a Carta Capital é de esquerda. Não procede a sua dúvida.
Qual seria o limite do jornalista na busca de informações, ou desde que essa busca seja legal, não existe limites?
C.T.C – Escrevi um livro inteiro para tentar dar conta disso, o Ética, Jornalismo e Nova Mídia – Uma moral provisória. Receio não ter dado conta. Os limites são os limites morais, e eles deveriam ser muito mais fortes do que os legais.
Muito se tem falado nos últimos anos, sobre o controle social da mídia. Como enxerga esse tema?
C.T.C – Acho que já existe este controle. Um jornal, uma revista, uma rádio ou um canal de TV estão sempre sob controle social. Quando alguém deixa de comprar um jornal ou muda o canal de TV está realizando este controle, está tirando o mandato que deu ao veículo para informá-lo. O que se tentou, ou se tenta fazer no Brasil, é o controle ideológico da mídia, o que é inaceitável e contrário à liberdade de expressão.
Existe liberdade de imprensa no país, ou isso é um privilégio apenas dos donos dos veículos de comunicação?
C.T.C – Este seu site de entrevistas é uma resposta para isso. Você não tem liberdade de imprensa para entrevistar e publicar o que acha relevante? Se não houvesse liberdade de imprensa isso seria possível? É claro que existe plena liberdade de imprensa no Brasil e a proliferação de sites, blogs e posts nas redes sociais são provas contínuas disso. Há exceções? Há juízes que censuram a imprensa? Previamente até? Há. Mas há mecanismos jurídicos para contestar isto e ser contestado.
O que deve ser feito para que tenhamos uma imprensa alternativa pujante no país?
C.T.C – É só ter quem tenha vontade de fazê-la. Há fenômenos midiáticos – como o Mídia NINJA, por exemplo – que se encaixam numa ideia de modelo alternativo. A web é um celeiro para isso. Basta querer fazer. Tem muito blogueiro alternativo por aí.
Muitos profissionais diplomados criticam veementemente e até desmerecem quem não tem um diploma de jornalismo. Afinal, o jornalista precisa ter diploma para exercer a sua atividade?
C.T.C – Não necessariamente. Mas se tiver um diploma universitário, qualquer um, vai estar – teoricamente – mais preparado do que quem não o tem. O jornalismo é um ofício e, enquanto tal, quanto mais preparada estiver a pessoa para exercer este ofício, melhor.
A jornalista Suzana Singer nos disse que o jornalismo colaborativo não substituirá o tradicional. O senhor concorda com ela, ou acredita em algo que possa juntar essas duas formas de comunicação?
C.T.C – Falsa questão. O jornalismo passa por transformações. Não há oposição nestes dois pontos. Nem necessariamente eles precisam andar juntos.
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Eder Fonseca é jornalista, diretor-executivo do Panorama Mercantil