Nada mais gerador do sentimento de humildade na área intelectual que a edição de um livro, independentemente da tiragem. Ainda que sejam poucos os exemplares, o autor logo observa que não há número de leitores suficiente e que ninguém tem, por exemplo, quinhentos amigos dispostos a lhe adquirir livros. Ademais, quando a tiragem é pequena, o autor corre o risco de não conseguir divulgar o seu trabalho literário, caso a maioria dos compradores esteja inscrita na lista dos não leitores: compram o livro em nome da amizade e, em seguida, o atiram num canto qualquer, interrompendo a esperada progressão da obra.
Hoje, depois de ter passado tantos anos envolvido com publicação de artigo semanal em grande veículo de comunicação, tomamos cuidado para não permitir a vinculação de nosso nome a qualquer produto jornalístico comprometedor, tendencioso ou demasiadamente radical, o que pode ser observado com facilidade tanto nas edições impressas no papel quanto nas publicações virtuais. O que mais se vê por aí é gente reclamando de falta de democracia, mas destilando horrores contra o governo e autoridades constituídas, numa desenfreada promiscuidade, na qual a liberdade democrática se mistura à libertinagem, à desordem e à falta de compromisso coletivo.
Todos os profissionais que têm como ferramenta o uso da palavra podem contribuir para a elevação ou o rebaixamento do ser humano, dependendo do posicionamento e ótica que apresentam em suas redações. A busca da plena isenção é atributo inalcançável, porém, jamais se deve abandonar a sua procura, aceitando a notícia em si como um fator que dispensa retoques e colocações pessoais. Para isto, existem os artigos assinados e os editoriais, que mesmo destinados à missão de opinar não têm o direito de optar pela disseminação da discórdia social.
Qualidade reconhecida
Quando nos deparamos com pequenos jornais do interior desprovidos de cobertura das comunidades e das peculiaridades da gente que habita as cidades em que circulam, sentimos um baque em nossa insistente defesa dos jornais alternativos como órgãos de comunicação responsáveis pela promoção da união entre os cidadãos, que estreitam o seu relacionamento à medida que se conhecem. Inegavelmente, quando os pequenos jornais não se aproximam da comunidade a que servem, eles cometem o equívoco de acompanhar os chamados jornalões e, assim, não conseguem ser nem uma coisa nem outra.
Impossibilitado de exercer a liberdade de escolha, muitas vezes o chefe de Executivo interiorano fica refém do único jornal de que dispõe seu município. Se o jornal é seu aliado, a situação não deixa de ser ruim, pois geralmente a linha editorial do veículo alternativo de comunicação é atrelada às elites próximas das hostes de poder e, ao final das contas, tudo leva a crer que a publicação é oficial, tendo sempre como fonte os interesses da prefeitura. Em contraposição, se os proprietários do jornal se declaram inimigos da administração, o governante enfrenta uma série de desatinos tramados como se estivessem dentro das regras do jornalismo construtivo.
Dentro de conjuntura tão complexa, consideramos uma verdadeira sorte o fato de temos encontrado abrigo para os nossos comentários no jornal O TREM Itabirano, que cobre Itabira e região, no qual os artigos de opinião são a estrutura central da linha editorial, proporcionando ao veículo impresso alternativo uma qualidade notável e elogiada por figuras de relevo do reduto jornalístico, como é o caso de Lucas Mendes, que disse no prestigiado Manhattan Connection (GloboNews/Nova York): “O TREM Itabirano é um dos meus jornais favoritos, é um dos melhores jornais do Brasil”. Um elogio merecido, pois que inteiramente verdadeiro.
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Carlos Lúcio Gontijo é escritor e poeta