O Itaú Cultural analisou durante os últimos meses a produção dos cadernos de cultura dos principais jornais diários brasileiros para entender os pontos de interesse da mídia neste campo. A investigação se concentrou nas matérias de capa dos suplementos para verificar as escolhas editoriais que regem hoje a cobertura de cultura no país. No total foram analisadas 10.306 edições de 20 suplementos dos 13 diários de maior tiragem nas principais capitais do país, no período de janeiro de 2011 a fevereiro de 2013.
Segundo o levantamento, conduzido pelo Observatório Itaú Cultural, plataforma do Instituto para debates e acompanhamento de políticas públicas na área da cultura, a música é hoje o assunto preferido dos principais jornais brasileiros, respondendo por 26,59% – ou 2.740 das matérias publicadas nas capas de seus cadernos culturais.
As pautas de audiovisual (cinema e vídeo) apareceram na segunda posição na preferência dos editores, ocupando a capa dos cadernos em 1.869 edições (18,14% do total), seguidas por literatura (incluindo poesia, prosa, ficção, ensaio e crítica), com 1.505 capas (14,60%); artes visuais e/ou arte e tecnologia, com 1027 inserções (9,97%), e teatro, com 756 registros (7,34%).
Políticas culturais em segundo plano
A pesquisa revelou também quais os temas culturais que estão em segundo plano na preferência dos editores. Dança, moda, arquitetura, festas populares e design, entre outras manifestações, ocupam posição escandalosamente secundária na cobertura das primeiras páginas dos cadernos.
O mesmo acontece com as questões de política cultural. Mesmo diante do debate acirrado em torno dos incentivos fiscais para a economia da cultura e do surgimento de novos modelos de financiamento e produção, a discussão sobre as diretrizes de política pública para a área não têm conquistado relevância editorial. O debate em torno do tema, incluindo a análise de leis, gestão, polêmicas e economia da cultura, foi objeto de capa de caderno em apenas 382 oportunidades – ou 3,71% do total das edições analisadas.
A pesquisa mapeou o trabalho dos principais jornais de todas as regiões do país. Na região Norte foram analisados A Crítica (AM) e O Liberal (PA). No Nordeste, A Tarde (BA), Diário do Nordeste (CE) e Jornal do Commercio (PE). No Centro-Oeste, o levantamento investigou a tendência editorial de O Popular (GO) e do Correio Braziliense (DF). Na região Sudeste, os jornais analisados foram O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo (SP), O Globo (RJ) e Estado de Minas (MG); e na Sul, Gazeta do Povo (PR) e Zero Hora (RS). Alguns dos periódicos monitorados, como Estadão, Folha e O Globo, têm mais de um caderno do gênero – ou tinham na ocasião da pesquisa.
O levantamento do Itaú Cultural procurou avaliar também a abordagem dos veículos e os ganchos que impulsionaram a cobertura. Neste recorte, a predominância se deu para as matérias ancoradas em agenda ou eventos. Em 46,70% das ocorrências, as capas dos cadernos de cultura se pautaram por exposições, seminários, encontros e outros itens da programação.
A análise e repercussão de políticas culturais específicas (leis, diretrizes, definições de governo, entre outras ocorrências do gênero) ocuparam apenas a quinta posição no critério de abordagem (4,14%).
Conheça os detalhes da pesquisa:
>> http://novo.itaucultural.org.br/revista/relatorio-caderno-de-cultura-itau-cultural/
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Eduardo Saron é diretor do Itaú Cultural