O atual momento de transição pelo qual passa a indústria jornalística, com o avanço das plataformas digitais, esteve em discussão no Encontro Mercado Leitor 2013, que aconteceu nos dias 22 e 23 de outubro, em Campinas (SP). O evento foi organizado pela ANJ – Associação Nacional de Jornais e contou com a coordenação de Verônica Barros, diretora do Comitê Mercado Leitor da ANJ, o qual tem como principal objetivo ajudar as empresas jornalísticas associadas a encontrar caminhos para aumentar a venda dos jornais e fortalecer as suas marcas.
O seminário reuniu profissionais de marketing e venda, além de diretores responsáveis pela solução do grande desafio: como manter e ampliar o público leitor em um segmento que sofre a concorrência cada vez maior da mídia eletrônica. Os palestrantes mostraram que o aprimoramento editorial e a oferta de um produto ágil e interativo são compromissos inadiáveis para quem pretende sobreviver no setor.
Na abertura, o presidente da ANJ, Carlos Lindenberg Neto, destacou a importância do estudo de novos caminhos para obtenção de receita, na medida em que se mostrou equivocada a premissa de que os investimentos publicitários na mídia digital se tornariam parte importante da receita dos jornais. “As receitas publicitárias nas mídias digitais, oriundas da internet, mostraram-se insuficientes para que os jornais sustentem o seu negócio. Hoje, ficou evidente que um dos caminhos nas mídias digitais é seguir investindo naquilo que temos de mais precioso – informação com credibilidade – e cobrar por esse conteúdo”, insistiu.
Segundo Lindenberg Neto, o meio impresso seguirá como o carro-chefe das empresas jornalísticas ainda por um longo período, sendo impossível prever quanto tempo isso significa. Ao mesmo tempo, o meio digital crescerá, como já vem crescendo, em importância. “Neste cenário, o grande desafio é prosseguir vendendo jornal no meio impresso da forma mais competente e inovadora possível, mas ao mesmo tempo conquistar leitores pagantes também no digital, onde está o nosso futuro,” enfatizou.
Os exemplos de empresas que atuam em outros segmentos também foram mostrados aos presentes, como forma de estimular novas maneiras de conquistar leitores e mantê-los fiéis. É o caso do Magazine Luiza, grande rede de lojas de varejo do país. Rogério Bruxellas, diretor de Marketing do Magazine Luiza, enfatizou a importância de se reter o consumidor. Ele citou o case Cliente Ouro, uma maneira criada pelo Magazine Luiza para estimular as vendas por meio de promoções feitas a clientes com bom histórico de compras, que passam a receber atendimento diferenciado. Graças ao Dia de Ouro, realizado quatro vezes por ano, as vendas nessas datas especiais alcançaram o montante de R$ 63 milhões em 2012, a partir de um investimento de R$ 2 milhões.
Neste momento de transformação, os jornais precisam se adequar às exigências do próprio leitor. Os executivos convidados reforçaram a ideia de que a prestação de serviço diferenciado vai definir qual fatia do mercado será ocupada pelos empreendedores. Diego Quevedo, diretor de Operações da Net, afirmou que os jornais, a exemplo do The Times of India, precisam “energizar, empoderar e entreter”. A seu ver, o leitor precisa encarar o jornal como um produto básico diário e ter a certeza de que a publicação trata de assuntos importantes e de seu interesse. Para ele, a credibilidade – o maior patrimônio das empresas jornalísticas – é o grande trunfo para a fidelização dos leitores. “O jornal precisa estabelecer, claramente, que produto vai colocar na banca ou na internet e entender as necessidades do seu leitor”, afirmou.
Quevedo disse, ainda, que “fechar o conteúdo informativo é uma atitude corajosa numa época em que há um mar de informações”. Para ele, essa atitude demonstra a confiança dos jornais na qualidade do seu conteúdo e na necessidade que o leitor tem de obter informações de fontes confiáveis. A Net, desde 2004, apresenta um crescimento de 20% ao ano. Grande parte do seu sucesso e expansão deve-se aos combos, pacotes que reúnem diversas modalidades de produtos e serviços. Extremamente flexíveis, os combos se adéquam às necessidades e poder aquisitivo do consumidor, sendo comercializados, em sua maioria (74%), por empresas terceirizadas. Segundo Quevedo, a Net quer reforçar e aumentar ainda mais a sua imagem como a melhor solução em multisserviços.
Outra grande empresa presente no evento foi O Boticário, fundada em Curitiba em 1977 e que se tornou líder de vendas num segmento que faz do Brasil o segundo consumidor do mercado mundial da beleza. Osvaldo Moscon, diretor de Desenvolvimento de Canais e Franchising de O Boticário, disse que o grande segredo dessa franquia é sempre ouvir o consumidor para entender os seus novos hábitos e desejos. “Os produtos Boticário que mais vendem são os mais caros, pois o consumidor, mesmo das classes ascendentes, é exigente e quer qualidade e valor agregado”, explicou. A busca por inovação, por parte dos clientes, faz com que as lojas franqueadas de todo o Brasil tenham algo novo em sua vitrine a cada 20 dias. Segundo Moscon, a grande estratégia de O Boticário é o aprimoramento da relação estabelecida com o cliente. Os franqueados sempre devem valorizar sua equipe de funcionários e aprender a ouvir queixas e pedir opiniões. Isso porque só quem está em contato direto com o consumidor é que pode apontar as deficiências da linha de produção. O funcionário comprometido, é o principal patrimônio da empresa que pretende crescer, afirma Moscon.
Promoções atraem leitores
Durante o Encontro Mercado Leitor 2013, os palestrantes insistiram em dizer que os jornais não devem ter receio de partir para promoções, pois esta é uma estratégia válida para atrair e fidelizar leitores. Uma delas é o Programa de Fidelidade Dotz, adotada pelo Jornal do Commercio e outros jornais do país. O Dotz funciona como uma moeda que pode ser trocada por produtos e serviços. O assinante pode ser premiado com um determinado número de Dotz ao renovar a assinatura, ao adquirir um produto exclusivo ou realizar seu pagamento em dia. A Dotz, empresa que controla programas de fidelização, prevê faturar R$ 350 milhões até o final de 2013.Em outubro deste ano, registrou 10 milhões de clientes (consumidores ativos),conta com 450 empresas parceiras no varejo, tem 9,75 milhões de resgates realizados anualmente e está presente em mais de 7,3 mil pontos de venda no país.
Fábio Alguim, Gerente Regional da Dotz para o interior de São Paulo, explicou que, basicamente, há três modalidades de programas de fidelização: o programa próprio; o modelo de coalizão (adotado pelo Dotz) e o de participação em programas de terceiros. O programa próprio, entre outras, tem as seguintes vantagens: permite o rastreamento e recompensa de comportamento individual; tangibiliza a promessa da marca; cria valor além do custo real; e estabelece um relacionamento de continuidade. Porém, tem alto custo de operação e manutenção; o risco fica todo para a empresa; tem dados limitados ao negócio e é pouco relevante para classes B-, C, D e E. Já o programa de coalizão, que compartilha o relacionamento com outros, tem grande potencial para criar valor (modelo que mais cresce no mundo); é ótimo veículo de aquisição de clientes; permite despesas compartilhadas, e o alinhamento com marcas de ponta pode alavancar a do participante. Porém, é difícil para implantar; é menos flexível; e haverá várias outras marcas competindo por fidelidade.
Graças à adoção do Programa de Fidelidade Dotz, muitos parceiros conseguiram incrementar suas vendas. É o caso da rede de lanchonetes Bob’s, que realizou mais de 150 mil trocas nos seus pontos de venda em 2012,com mais de 5,5% de vendas incrementais e 559% de ROI.
Outro case mostrado foi o da rede Angeloni, fundada há 55 anos em Santa Catarina e que atualmente conta com 27 supermercados,24 farmácias e 8 postos de combustível, com um total de 10.500 funcionários.
A rede tinha um programa próprio de fidelização lançado há 15 anos, com 1,2 milhão de associados. Devido à necessidade de revitalizar o modelo, decidiu adotar o programa de coalizão Dotz, com o objetivo de ampliar o leque de parcerias e acelerar o tempo de resgate, bem como o acesso a informações sobre comportamento do cliente. Os principais desafios foram tornar a coalizão Dotz conhecida em Santa Catarina e Paraná, ampliar os canais e opções de troca e fazer a atualização cadastral dos membros. Após 45 dias do lançamento, o programa de fidelização Angeloni/Dotz já apresentava cerca de 500.000 clientes ativos no período; penetração de 74% nas vendas com Dotz e 15.000 novos clientes no Clube Angeloni (vindos da coalizão) e 20.500 clientes realizando trocas (40% superior à troca média do mesmo período dos 2 anos anteriores).
Mudanças importantes
Dois especialistas em vendas deram importantes dicas e conselhos aos participantes do Encontro Mercado Leitor 2013.Um deles foi o professor e palestrante Andre Ortiz, que insistiu na tese de que ninguém nasce vendedor e o ofício pode ser aprendido, pois se trata de um conjunto de técnicas, ferramentas e cognições aliadas ao conhecimento. Muitas vezes, o profissional de vendas fracassa em sua missão por falta de conhecimento; por não acreditar no cliente; por empurrar produtos; e por não ter sido treinado o suficiente. Segundo ele, boa parte dos vendedores do mercado tem poucas habilidades de comunicação verbal e escrita, chefia fraca e desestimulante, e recebem treinamento inadequado.
Ortiz explicou que há um mito de que o cliente, especialmente o mais antigo, se torna fiel. “Isso não acontece. O cliente quer ser mimado e encantado o tempo todo. É o cliente que nos escolhe e para isso tem de estar satisfeito com a qualidade do atendimento. Quando isso não acontece, vai procurar quem o trate melhor e com mais atenções”, enfatizou.
O especialista explicou que, hoje, os vendedores têm de atender a várias gerações de clientes, cada uma com as suas características e especificidades. Para chegar até eles é preciso utilizar canais híbridos de comunicação, alinhados de maneira a falar a mesma linguagem. Neste novo contexto, é preciso estar atentos a mudanças: hoje, o consumidor tem o comportamento de showroomer. Ou seja, encara as lojas apenas como um showroom. Quando vê um produto em exposição, pega o celular, procura reviews do produto, pesquisa os menores preços, posta uma foto dele no Facebook e pede a opinião dos amigos. Tudo isso dentro da loja, na frente do vendedor. Aqui no Brasil,mais de 14% do faturamento do online já vêm de showroomers, ou seja, de pessoas que foram até a loja e acabaram comprando o mesmo produto em outro lugar. Os empresários devem agir rápido na integração do online com o offline pelo mobile, uma vez que esse comportamento do consumidor só tende a aumentar, pois 6% de todas as buscas na net relacionadas a comércio no Brasil já se originam de aparelhos móveis.
“No caso dos jornais, isso fica ainda mais difícil, pois é preciso vender conceitos invisíveis como confiança e credibilidade. Por isso, o treinamento dos seus vendedores tem de ser específico e adequado. Também é muito importante ouvir o cliente e saber como ele deseja ser atendido. A partir daí é necessário criar deferentes estratégias de atendimento, conforme os diversos tipos de clientes”, ensinou Ortiz.
Ao falar sobre o mesmo tema, o escritor e publicitário André Torreta também enfatizou a necessidade de as empresas jornalísticas entenderem o comportamento e as peculiaridades do novo consumidor. Segundo ele, o grau de analfabetismo funcional ainda é muito grande no Brasil, onde 72% da população ainda são capazes de ler, mas não entendem o que está escrito. Ou seja, não são capazes de decodificar a informação.
Com a ascensão da nova classe média, milhões de pessoas viraram consumidores. A questão é que, daqui a alguns anos, o país terá a segunda geração da nova classe média como consumidores. Isso significa mais jovens, negros e mulheres com maior formação escolar e poder de decisão sobre o consumo de bens e serviços. Nesse novo contexto, o jornal tem de ser pensado, cada vez mais, como um produto. Por isso, é preciso deixar de lado o preconceito de estimular a sua venda por meio de promoções.
Além disso, terá de haver um redesenho da circulação, pois a nova classe C também está se familiarizando com as novas tecnologias de acesso online.
Relatório de mídia
O avanço da tecnologia está fazendo com que as pessoas mudem a maneira de consumir informações ao longo do dia. Os aparelhos móveis e a internet já estão no cotidiano da população brasileira. Durante o dia, no horário de trabalho, os leitores preferem receber informações curtas de leitura rápida. Já no início da manhã e começo da noite, dedicam um tempo maior à leitura de textos mais consistentes.
Em sua palestra Ampliando o Valor de Marcas Multiplataformas, Pedro Silva, presidente do IVC, explicou que, para entender o mecanismo de acesso às informações jornalísticas em diferentes plataformas (ou seja, o consumo de mídia ao longo de 24 horas), é preciso ter acesso a métricas que demonstrem em detalhes essa crescente audiência. No exterior, publishers do Canadá e dos Estados Unidos estão bastante entusiasmados com a adoção dos Relatórios Consolidados de Mídia (CMR). O documento reúne em uma única mostra todas as informações relacionadas à audiência, seja no impresso, digital, website, mobile, social media e, até mesmo, newsletters.
O jornal The Economist já está utilizando um relatório de mídia consolidado, o qual explica em detalhes de que maneira os diversos produtos desse jornal são consumidos nas diferentes mídias, inclusive nos dias da semana versus finais de semana. Esse conjunto de informações permite que haja uma conexão direta entre a estratégia digital e de marca, a partir de uma visão unificada. Dessa forma, muda significativamente a conversa sobre penetração e alcance dos veículos. Segundo Pedro Silva, o CMR é uma poderosa ferramenta para que publishers superem o grande desafio atual, que é mostrar sua real força por meio da validação efetiva da audiência dos novos canais.
Exemplos de sucessos
Promoções são um importante instrumento para impulsionar a venda avulsa. Durante o Encontro Mercado Leitor 2013, três jornais – Diário do Pará (PA), Correio* (BA) e Daqui (GO) – e um do exterior, El Tiempo (Colômbia),mostraram como obtiveram excelentes resultados no aumento da circulação por meio desse tipo de ação de marketing.
Em 2011, o Correio* lançou em Salvador a Compre Correio*, ganhe CD.A promoção, afirma Welter Arduini, gerente de Mercado Leitor e Logística do Correio*, foi uma das principais estratégias, para alavancar a circulação por meio de parcerias com bandas famosas.
Os resultados obtidos foram excepcionais: nas primeiras 10 edições, em 9 meses, foram vendidos 1.292.378 exemplares de jornais acompanhados de CDs, com um aumento de 121% nas vendas. Esse crescimento ocorreu em um momento crítico, coincidindo com aumento de preço de capa do jornal e anulando impactos negativos nas vendas. Os artistas parceiros, por sua vez, declararam um aumento médio de 20 a 25% na bilheteria dos shows. Outro fator positivo foi os CDs terem sido adquiridos também por leitores não habituais do jornal, funcionando como elemento de degustação e deixando um resíduo significativo.
No momento em que os jornais experimentam o avanço das plataformas digitais e passam a produzir conteúdo também para a mídia eletrônica, é fundamental procurar caminhos para reinventar a edição impressa, na medida em que a maior parte da receita das empresas jornalísticas ainda vem desse produto. Jader Barbalho Filho, Diretor Presidente do Diário do Pará, mostrou como exemplo a ação Projeto Histórico a Era de Ferro. O Diário do Pará ofereceu, em 12 edições, maquetes de edifícios históricos do centro de Belém, para serem recortadas e montadas. A ação foi um sucesso: a tiragem cresceu 25% e a redução de encalhe foi de 7%.
Outras estratégias adotadas pelo Diário do Pará para aumentar a sua circulação foram o lançamento do Guia de Profissões; a série de reportagens e ações comemorativas dos 30 anos do Diário; a revista D Semanal, e a série Dr. Responde. Graças a essas ações, o Diário do Pará conseguiu uma façanha inédita na premiação do INMA Awards 2013: o jornal levou 11 medalhas, sendo cinco primeiros lugares na categoria de veículos com circulação inferior a 75 mil exemplares.
Criativa também foi a maneira como o Diário do Pará estimulou o leitor a comprar a edição histórica da tradicional festa de Belém, o Círio de Nazaré: um caderno com fotos do evento em três dimensões e um óculos de brinde encartado na edição especial de 50 mil exemplares, que se esgotou nas bancas. “Apesar da revolução digital e surgimento de novas mídias e competidores, o nosso foco está no produto impresso. Fazemos pesquisas qualitativas e nosso conteúdo, em como as principais estratégias, tem foco regional. Investimos em bons jornalistas e procuramos criar vínculos com a sociedade e com anunciantes”, afirma Jader Barbalho Filho.
Por sua vez, o jornal Daqui, da Organização Jaime Câmara, de Goiás, é exemplo de jornal popular altamente promocionado. Lançado em 2007, com preço de capa de R$ 0,50, é vendido em bancas e pontos estratégicos de Goiânia e também no estado do Tocantins. Nele, predomina o conteúdo esportivo e ênfase nos assuntos locais, com destaque para temas policiais, mas sem sensacionalismo e violência. Há também grande ênfase em serviços. “Ter um jornal âncora como O Popular, no grupo, é importante para fechar o custo do Daqui. A redação tem apenas seis pessoas exclusivas que usam o material produzido pelo jornal premium com as devidas adaptações para a linguagem popular,”, explica Cristiane Nogueira, Coordenadora Comercial de Assinaturas do Grupo Jaime Câmara. O Daqui não tem classificados, mas no noticiário há muita propaganda de varejo. O sucesso do jornal originou a Rádio Daqui, destinada ao mesmo público.
Até agora, o Daqui conta com 126.509 participações em nove concursos culturais; 21.580.000 cupons entregues em oito sorteios; e 2.717.000 brindes entregues em 33 promoções do tipo Juntou Trocou. Porém, para conquistar e satisfazer o leitor, é preciso criar um vínculo de confiança que não pode ser rompido. O jornal deve cumprir o que promete e entregar o produto no prazo combinado. Para isso, é crucial que as parcerias sejam com fornecedores que garantam a entrega como estipulado.
O Daqui passou por essa experiência, em março, quando teve queda nas vendas e um sério problema com os leitores, que cobravam produtos chineses que não foram entregues, devido a um problema de atraso na remessa. Mas as vendas voltaram a crescer quando trocaram de fornecedor e os produtos passaram a ser entregues nos prazos prometidos. Dados do IVC mostram que a circulação em janeiro de 2013 era de 167.4540 exemplares, número que caiu para 126.804 em julho, devido ao atraso na entrega dos brindes. Quando tudo se regularizou, a circulação voltou a subir, em agosto, com 212.956 exemplares, e 207.408, em setembro.
Por sua vez, o jornal colombiano El Tiempo usa a curiosa estratégia de oferecer produtos voltados à mídia digital, como tablets, para estimular a venda da edição impressa. Segundo Luis Gabriel Castillo, Gerente de Marketing Corporativo do El Tiempo, para comprar o tablet Simply, pelo preço equivalente de R$ 205,00,os leitores deveriam obter uma cartela encartada em edições do El Tiempo ou em edições do jornal gratuito DN, do grupo Casa Editorial El Tiempo. O passo seguinte era fazer uma reserva do tablet por telefone ou pelo site do El Tiempo e colecionar 20 cupons publicados no El Tiempo, no Diario Mio ou na Revista Sete Dias. Feito isso, o tablet poderia ser adquirido pelo preço promocional. Os assinantes membros do clube Vivamos El Tiempo tiveram a vantagem de receber as cartelas e os cupons em casa.
A campanha exigiu investimento de US$ 1 milhão, porém, proporcionou um aumento de 21% nas circulação do El Tiempo, durante a sua vigência. Os bons resultados estimularam uma segunda promoção, na qual os leitores fizeram 45.650 trocas, contra as 28.000 da anterior. Outra promoção foi a parceria com o supermercado Carrefour. Vinte cupons mais 15 dólares davam direito de fazer compras nas lojas da rede no valor total de até 75 dólares. Nesse caso, a grande vantagem é que não há limitação de estoque e mais leitores podem participar.
Em 2014, o El Tiempo fará promoções tais como: tablets com desenhos infantis (cartoon network tablets); fones de ouvido Sony com temas da Copa do Mundo; edredons; bicicletas dobráveis; e carrinhos de compra.
Logística é a chave
Criada em 2009, a DGB, holding de logística e distribuição do Grupo Abril, reúne seis empresas atuantes no setor: Dinap, Entrega Fácil, FC, Magazine Express, Treelog e Total Express.Com cerca de 2.500 funcionários e rede de distribuição presente em todo o Brasil, a DGB tem um portfólio de produtos e serviços que inclui entrega de revistas, encomendas de pequeno porte, atuação comercial nos pontos de venda em diferentes níveis e suporte de trade marketing.
Sérgio Ferreira, gerente de Trade Marketing da DGB, lembra que a logística é chave num país como o Brasil. O tema de sua palestra foi Estratégias de Relacionamento com Pontes de Venda. Uma das estratégias é a Distribuição Lógica, onde é elaborado o melhor cenário de distribuição, com o objetivo de maximizar o resultado de vendas com o menor encalhe. Na distribuição física, a empresa explora sua capilaridade com força comercial e ações promocionais.
A DGB atua nos seus pontos de venda conforme o tipo de canal de venda. No caso de revistarias e livrarias, por exemplo, o mix é negociado e a gestão é feita por categoria. No grande varejo, o mix é seletivo, a negociação é centralizada e o nível do estoque é baixo. Em bancas, o mix contempla ampla variedade de publicações, com um custo de servir baixo. Já nos pontos alternativos (padarias, farmácias, lojas de conveniência) o mix é reduzido, e o nível de serviço é médio.
Para estreitar e fortalecer o relacionamento com o ponto de venda são feitos treinamentos, campanhas de incentivo e encontro de negócios, bem como o pagamento por performance, conforme as metas atingidas. Além disso, a Dinap reforça a ligação por meio de estratégias de marketing, como a Revista do Distribuidor, a qual faz parte do seu site, com informações exclusivas para os distribuidores. A publicação online pode ser acessada mediante login e senha individuais. Outro material exclusivo é o boletim quinzenal Últimas Novidades, com 26 mil exemplares, dirigido a jornaleiros e distribuidores.
Clube não é questão de preço
Proporcionar vantagens adicionais aos assinantes que se tornam membros de um clube é uma estratégia de que muitos jornais lançam mão para fidelizá-los. Porém, neste momento de transição para o digital, com a venda de assinaturas também para essa plataforma, os clubes começam a ganhar uma nova roupagem e a se transformar numa efetiva ferramenta de negócios. É o caso do Clube Sou + Rio, lançado há dois meses pelo jornal O Globo, que por sua vez se inspirou no modelo de sucesso do jornal argentino La Nación, o Club La Nación.
Bianca Dramali, Gerente de Estratégias de Relacionamento da Infoglobo, explicou que o Club a Nación está dando bons resultados porque partiu de ideias inovadoras e originais. Entre elas, destacam-se: conquista do cliente pelo valor percebido do clube e não pelo preço da assinatura; fazer parte do dia a dia do cliente, assim como a informação que ele consome; é uma ferramenta efetiva de gestão do ciclo de vida do cliente (aquisição, retenção, relacionamento); a economia gerada pela prática comercial sem desconto na venda de assinaturas pode ajudar a subsidiar as ações do clube. Os principais resultados que o Club La Nación alcançou foram os seguintes: crescimento da circulação (20% em três anos); aumento da participação de assinaturas aos domingos (36,3% em três anos); atração de novos compradores ( 37% em 2009 x 42% em 2010); incremento no uso de benefícios (60% em 2009 x 63% em 2010).
Em 2012, o jornal O Globo, ao reavaliar a sua estratégia de relacionamento, decidiu reformular seu clube de assinantes, criando outro modelo visando maior engajamento dos clientes com a marca. Neste caso, o Clube Sou + Rio tinha, como principais objetivos, estender o conceito de cliente (quem tem relacionamento com a marca pode ser sócio); tratar clientes como sócios (membership); reconhecer a lealdade dos clientes engajados, e incentivar a mudança de comportamento dos demais clientes. Também ganhou destaque a premiação dos sócios com base na interação: quanto mais usa os produtos e serviços, mais ganha; enriquecer conhecimento do cliente – CRM; geração de leads e Up e Cross Sell (rentabilidade da carteira de clientes).
Os sócios do clube antigo, ao se cadastrarem no novo clube, ganham 10 vantagens (moeda do clube) como crédito inicial. Assinantes de qualquer modalidade de assinatura sempre terão mais oportunidades de acumular mais pontos do que os demais participantes. Mas os internautas e leitores de banca passam a poder também participar e usufruir de benefícios que os incentivarão a mudar de comportamento, aumentando o seu relacionamento com a marca para que ganhem cada vez mais. Ou seja, o objetivo é que não assinantes possam se interessar em passar a ser assinantes.
Bianca Dramali explicou que quando o sócio navega pelo site de o Globo, acumula vantagens que podem ser trocadas por recompensas. Quando paga a sua assinatura em dia, quando faz aniversário ou quando indica um amigo, também são diversas oportunidades de eventos que geram pontos. É possível, aumentar a pontuação com o uso efetivo do produto, como o download da edição digital (Globo a mais), contribuir com a coluna eu-repórter, postar comentários no site e fazer uso de serviços. Uma novidade do novo clube é o aplicativo para iOS e Android. Nele, o sócio pode buscar parceiros e ofertas, fazer resgates, acessar seu saldo e fazer dowload da carteirinha.
Segundo Bianca, as principais dificuldades têm sido migrar os sócios do antigo para o novo clube, já que precisam se cadastrar novamente. Mas o Club Sou + Rio já conta com quase 10.000 sócios, sendo que 20% não assinantes. “Em breve faremos uma primeira abordagem de venda para esses prospects e esperamos obter bons resultados”, adiantou.
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Milton Correia Jr., do Jornal ANJ