Em sua coluna de 3 de fevereiro na Columbia Journalism Review, Merrill Perlman, instrutora de jornalismo e ex-chefe do copidesque do New York Times, destacou um interessante problema de linguagem que tem surgido há anos cada vez que ela pede para um grupo de estudantes completar um exercício de checagem.
Os alunos – a maioria jornalistas profissionais em meio de carreira – devem checar um artigo sobre um acidente de avião e, mesmo não sendo parte do exercício, toda vez algum deles aponta que há duas palavras que eles não conhecem: “fuselagem” e “escora”.
No entanto, uma rápida pesquisa no banco de dados de notícias Nexis mostra que a palavra foi usada cerca de mil vezes em jornais dos EUA só no ano passado.
“Se muitos comunicadores não conhecem essas palavras, como podemos esperar que o nosso público as conheça?”, perguntou Perlman em sua coluna.
Segundo Perlman, que dá seminários de jornalismo para a NewsU do Poynter Institute, a meta de um jornalista é fornecer informações. Se a informação, porém, é entregue em expressões desconhecidas ou ambíguas, pode não atingir o público ou fazê-lo de uma forma que não era a pretendida. E isso pode ter amplas e até mesmo fatais consequências, por exemplo, se os jornalistas não conseguem comunicar de forma clara informações sobre riscos à saúde, diz Perlman.
Em uma entrevista feita por e-mail pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, Perlman explica por que os jornalistas devem usar um vocabulário amplamente conhecido para se comunicar e o que às vezes os impede de fazê-lo. Além disso, Perlman oferece algumas dicas para expressar a informação de forma clara, compreensível e adequada para um público-alvo.
Por que é importante que os jornalistas usem expressões claras e compreensíveis?
Merrill Perlman – O objetivo de um jornalista é comunicar informações. Se essa informação é comunicada em expressões que não são claras e compreensíveis, então as informações que o jornalista pretende transmitir são perdidas, e a comunicação falhou.
Que potenciais problemas podem ocorrer se um público não entende completamente uma notícia?
M.P. – O público pode não entender a importância de um evento – por exemplo, um espectador que não entende que uma matéria sobre um vazamento químico significa que a água não é segura para beber pode beber a água de qualquer maneira. Se o público não entende a história, as conseqüências podem incluir a propagação de rumores que assumem maior importância do que a notícia – por exemplo, um leitor que pensa que a matéria diz que a água é imprópria para beber, quando na verdade não o diz, e acaba espalhando o erro, criando pânico e confusão desnecessária.
Por que você acha os jornalistas usam palavras complicadas em vez de outras mais simples?
M.P. – Todo mundo quer parecer inteligente, e às vezes os jornalistas escolhem palavras complicadas para soar mais esperto. Outras vezes, o jornalista pode não entender uma palavra complicada dada por uma fonte e, com medo de parecer estúpido à fonte ou a um editor, apenas a repete em uma notícia ao invés de aprender o que significa.
Como saber se uma palavra realmente é de difícil compreensão para o meu público?
M.P. – A melhor maneira é conhecer o seu público. Quem é ele? O que sabe? Envolvê-lo em comentários e meios de comunicação social é uma maneira, falar com ele é outra. Os estudos de marketing são bons, se disponíveis. E se os seus colegas não conhecem a palavra, muitos na platéia não vão também.
Além de evitar palavras desconhecidas, que outras dicas um jornalista pode seguir para ajudar os leitores a compreenderem uma matéria? (Por exemplo, a estrutura da sentença, tamanho das frases e parágrafos)
M.P. – Isso é um curso inteiro! Mas, em geral, o jornalista deve tentar olhar para o que ele tem escrito do ponto de vista do público. Será que esqueceu de colocar algo no contexto? As frases dizem o que quero dizer? Há frases complicadas, ou ambíguas, ou sentenças fora do lugar? Um exemplo recente foi em um artigo sobre o julgamento de um homem acusado de atirar em um jovem em um posto de gasolina. Uma frase diz: “Três balas atingiram Davis, que morreu no local depois de passar uma tarde no shopping.” Parece que ele foi baleado, passou uma tarde no shopping, depois morreu. Não era o que se pretendia – “Ele estava no posto de gasolina, a caminho de casa após uma tarde no shopping, quando foi baleado três vezes e morreu no local.”
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Maria Hendrischke, do blog Jornalismo nas Americas