A grande imprensa localizada na capital está longe da Grande São Paulo, apesar de estar a poucos quilômetros do que ocorre ao redor da cidade. Moradores dos 38 municípios vizinhos que compõem a região metropolitana se veem pouco ou nada retratados nas coberturas, salvo em reportagens que envolvem o noticiário policial. Perdem, com isso, a chance de se aproximar e dialogar mais com um público que também tem influência no cenário paulistano.
Os quase 9 milhões de habitantes nestes municípios são melhor informados, pela imprensa paulistana, de um problema no Parque do Ibirapuera do que se há outros parques para serem visitados perto de onde vivem. Do mesmo modo, é mais comum ter informações de problemas na saúde de quem mora na capital, do que sobre o que ocorre na rede dos hospitais municipais. E muito, muito mais fácil ter notícias sobre o prefeito paulistano e zero sobre os mandatários de uma dessas administrações que acabam também influenciando o viver na metrópolis.
Claro que, inevitavelmente, a maior cidade do Brasil terá sempre mais destaque. Mas é necessário ver além desse limite. Nos últimos 20 anos, enquanto se discute a densidade demográfica em São Paulo, com questões sobre o número de moradores em áreas de risco, houve um boom de 47% no número de habitantes no restante da região metropolitana, ante 20% na capital paulista, segundo o IBGE. Na soma total, de 4,8 milhões de novos moradores no período, 2,8 mi são de municípios fora de São Paulo.
Em Cotia, por exemplo, eram 116 mil residentes em 1993, hoje são 220 mil, quase o dobro. Em Santana de Parnaíba, o salto foi de 40 mil para 121 mil. Caieiras, Mairiporã, Arujá, Pirapora do Bom Jesus e Vargem Grande Paulista, também tiveram ao menos o dobro de novos habitantes. Mas onde e como essas pessoas estão vivendo e onde trabalham? As prefeituras conseguiram se adequar a essa alta? Onde estão ocorrendo os novos empreendimentos imobiliários? De que forma? Há licenciamento ambiental eficaz? Verificar este avanço populacional é importante, pois algumas cidades já conseguem gerar empregos para sua demanda, enquanto outras ainda têm um número elevado de pessoas que precisam transitar entre os municípios e a capital.
Informação veloz
E a mobilidade urbana? Enquanto, pela manhã, sabemos metro a metro o congestionamento das marginais dos rios Tietê e Pinheiros, não temos ideia de como e por onde andar dentro dos municípios ou em percursos intermunicipais. É algo para refletir, pois são cidades que tiveram uma alta de 127% no número de veículos entre 2003 e 2013, saltando de 1,9 milhão para 4,3 milhões de automóveis. Evidente que o número de 7 milhões na capital é extremo, mas representa crescimento menor, de 59% no período, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
Se os congestionamentos são complicados na capital, imagine em locais com menos vias, caso não tenham sido feitos investimentos em infraestrutura. São espaços em que havia 1 carro para cada 6 moradores, e hoje, 1 para cada 2. Em Itaquaquecetuba, Francisco Morato e Juquitiba, por exemplo, são quase quatro vezes mais automóveis em dez anos, enquanto Franco da Rocha, Ferraz de Vasconcelos, Embu das Artes, Taboão da Serra e São Lourenço da Serra triplicaram sua frota. Em São Caetano do Sul, são 136 mil veículos para 156 mil habitantes – quase 1 por 1. Logo, há veículos suficientes para extrapolar suas cidades de origem e travar o trânsito entre municípios vizinhos.
Um dos fatos que mais marcam a falta de atenção da imprensa a estas cidades são as eleições municipais. Em 2012, pela primeira vez alguns municípios da Grande SP tiveram debates transmitidos por algumas redes de televisão, um avanço. No entanto, os eleitores de Guarulhos, segunda maior cidade do estado, ainda assistem a propaganda eleitoral gratuita com os candidatos de São Paulo. Em vez de assistir e ouvir as propostas de Luiz Marinho (PT), prefeito eleito em São Bernardo do Campo, e de seus adversários, os são-bernadenses viram Fernando Haddad (PT) contra José Serra (PSDB).
Há municípios em que candidatos tiveram seus registros impugnados e a população depositou sua confiança neles –fruto, também, da falta de informação. Em Osasco, 149 mil votos em Celso Giglio (PSDB) foram anulados. Em Jandira, 8 mil sufrágios em Paulo Bururu (PT) não foram contabilizados. Em Santana de Parnaíba, o município pode ter a terceira eleição, por problemas nos registros das candidaturas, enquanto Cajamar segue com futuro incerto pela cassação do prefeito e dos opositores pela justiça eleitoral.
Também há boas notícias pela região metropolitana que são negligenciadas ou simplesmente, ignoradas.
Há mais negócios sendo firmados nessas cidades. Os dados do Produto Interno Bruto Municipal, do IBGE, das 38 cidades indicam o crescimento. Entre 2007 e 2011, o PIB de Itapevi saltou 236%, de 1,9 bilhão para R$ 6,4 bi. Em Embu das Artes, foram 108%, de R$ 2,5 bilhões para R$ 5,2 bi. Na capital paulista, a alta foi de 47%. –24 cidades tiveram avanço superior. O que essas cidades fizeram para alcançar crescimentos tão robustos? Quais são as oportunidades? Essas perguntas poderiam ser respondidas em boas reportagens, se houvesse interesse em sair do rumo de mostrar apenas as tragédias da Grande SP.
Com a velocidade da informação e com tantas possibilidades abertas com a internet, quem buscar meios de se integrar a essa massa que vive ao redor da capital sairá na frente, encontrará outro e maior público leitor, e que quer, sim, saber o que acontece na maior cidade do Brasil, mas que necessita conhecer mais sobre a Grande São Paulo, onde mora.
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Paulo Talarico é jornalista, correspondente de Osasco no Blog Mural (www.folha.com/mural)