Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A difícil realidade das mídias locais nos EUA

O Manassas News & Messenger era um jornal diário da região metropolitana de Washington com circulação de 10 mil exemplares. Em seus 143 anos de existência, sobreviveu a diversas guerras e recessões. Mas com a Internet foi diferente.

Seis meses após ser comprado pelo BH Media Group, do bilionário Warren Buffett, as operações do jornal foram consideradas inviáveis em 2012.

A morte do News & Messenger conta a história de um amplo movimento no interior da indústria jornalística. Mesmo em regiões desenvolvidas, está cada vez mais difícil vender o noticiário local, especialmente online.

Isso não acontece por desinteresse do público (notícias locais costumam constar como prioritárias nas pesquisas de opinião), mas porque a economia digital prioriza sites com relevância nacional ou internacional. Quanto mais amplo o público, maior o valor dos anúncios.

Uma consequência disso: há anos cai o número de jornalistas empregados em redações. E mais: os maiores investimentos em notícias digitais foram para start-ups que visam a um público amplo, ignorando as notícias locais.

Ao redor

A erosão do jornalismo local pode ser vista em um relatório do Pew Research Center. Segundo a organização, o jornalismo digital continua a crescer, mas os maiores ganhos aconteceram em sites com foco nacional. Sozinhos, 30 sites nacionais e internacionais são responsáveis por 60% dos empregos criados pelo jornalismo digital nos últimos 5 anos.

A lenta deterioração do jornalismo local está sendo causa de alarme há alguns anos. Em 2009, a Fundação Knight já alertava para uma crise dentre “as instituições de jornalismo local que tradicionalmente servem à democracia”.

Se existe alguma boa notícia nessa crise, é a de que centenas de jornalistas agora exploram a brecha deixada pela decadência do jornalismo tradicional, criando sites de notícias hiperlocais por todo os Estados Unidos.

Esses empreendimentos não são um substituto perfeito para os antigos jornais, mas muitos estão cobrindo as comunidades de um jeito que os veículos tradicionais não conseguiam, diz Jan Schaffer, diretora executiva de uma organização de pesquisa e financiamento de empresários de mídia.

No entanto, a maior parte desses sites é financeiramente precária. “Eu não acho realista esperar grandes lucros vindos desse negócio”, disse Jan. “Sempre será pouco lucrativo. Mas o mesmo acontece com o comércio local”.

Até mesmo as grandes empresas estão com dificuldades de lucrar com o noticiário local. Jornais como o Washington Post e o The New York Times abandonaram seus projetos hiperlocais. O Patch, grande empreendimento da AOL de sites hiperlocais, demitiu centenas de funcionários e foi vendido no começo do ano.

Apesar disso, emissoras de TV e alguns jornais pequenos continuam relativamente lucrativos, mas não tanto quanto antes da Internet. Um executivo do grupo de mídia de Warren Buffet, que comprou o News & Messenger e outros 62 pequenos jornais em 2012, disse recentemente que há pequenas quedas em suas operações, mas nada alarmante.

Entretanto, nada disso traz conforto para os antigos leitores do extinto News & Messenger. O prefeito da cidade de Manassas diz que o jornal não foi muito bem substituído pelos blogs e jornais semanais. “Quando você perde um jornal local, você perde a habilidade de saber o que está acontecendo ao seu redor. Escuto as pessoas falando isso sempre. Elas não sabem mais o que elas costumavam saber”.

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Paul Farhi, do Washington Post