Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘NY Times’ troca comando da Redação

O jornal The New York Times anunciou ontem [quarta, 14/5] seu novo editor-executivo, Dean Baquet, 57. Ele substitui Jill Abramson, 60, a primeira mulher no cargo e que ficou no posto por apenas dois anos e meio.

A decisão foi considerada inesperada e o publisher do jornal, Arthur Sulzberger Jr., atribui a mudança a “um problema de gestão na Redação”, sem dar detalhes.

“Eu decidi escolher um novo líder para a nossa Redação porque acredito que uma nova liderança vai melhorar alguns aspectos de gestão”, afirmou Sulzberger. “Vocês vão entender que não há nada mais que eu queira falar sobre isso.”

Segundo reportagem no site do próprio The New York Times, a decisão foi recebida com surpresa pelos jornalistas. Bill Keller, antecessor de Abramson, ficou oito anos no cargo.

Rumores apontam problemas administrativos e uma má relação da executiva com o novo presidente da empresa, o britânico Mark Thompson, que assumiu o posto no fim de 2012.

A origem dos problemas de relacionamento entre o executivo, que veio da BBC, e Abramson seria o aumento dos poderes do britânico na Redação do jornal.

Reportagem do site de notícias Politico, do ano passado, afirma que o clima era tenso na publicação e Abramson era descrita (por funcionários e ex-empregados) como teimosa e arrogante.

Ainda segundo o site, em uma discussão dela com Baquet, o seu agora sucessor – e que na época, escolhido por ela, era secretário de Redação – deixou a sala da executiva, deu um soco na parede e deixou a sede do jornal.

Nascido em New Orleans, Baquet é o primeiro negro a ocupar o cargo. Antes de ser secretário de Redação, foi chefe do escritório de Washington e ganhou um prêmio Pulitzer, o maior do jornalismo americano, por uma série de reportagens sobre corrupção o em Chicago.

No mercado, o anúncio da troca ajudou a derrubar as ações da New York Times Company, que caíram 4,5%.

Busca por audiência

Na semana passada [retrasada], o jornal havia enviado a todos seus jornalistas um relatório sobre inovação, feito por uma força-tarefa liderada por um filho de Arthur Sulzberger Jr.

O relatório diz que o New York Times vai desenvolver times de análise e estratégia e que departamentos focados no leitor têm que estar mais próximos do setor de negócios do jornal.

O destaque do memorando é sobre a formação de audiência. Se antes, todo o trabalho era distribuir o jornal e ter certeza que ele chegasse à porta dos leitores (com todo o esforço do processo), hoje o jornal precisa “buscar” a audiência mais fragmentada, especialmente em celulares e tablets.

Entre as prioridades indicadas no estudo, estão promover as reportagens nas redes sociais, “reembalar” conteúdos para novas plataformas, saber otimizar reportagens para os mecanismos de busca e personalizar o conteúdo para o leitor.

Um livro recém-lançado também explora as transformações que o jornal passa na transição para uma plataforma digital. Em Making News at The New York Times [Fazer notícia no New York Times], a professora de comunicação Nikki Usher relata os quatro meses em que ficou dentro da Redação do jornal, acompanhando a produção das versões online e impressa.

Usher descobriu a mudança na hierarquia noticiosa e dos “fechamentos e atualizações permanentes”. Ela viu como um editor do site, lido por milhões de pessoas no mundo todo, publica reportagens de diferentes assuntos e seções sem nenhuma supervisão editorial além de seu próprio julgamento e olfato, com uma mentalidade de “publicar antes”.

“Um único editor escrevia as manchetes e os textos que acompanhavam esses assuntos – sem a companhia de pelo menos um revisor”, diz. “A cada dez minutos, um novo texto de blog aparece no site, reportagens mudam de lugar no site a cada 20 ou 30 minutos, e novas notícias são postadas tão logo chegam – em uma Redação de 1.100 jornalistas, o problema não era rotatividade.”

Para ela, a Redação precisou se habituar a leitores que esperam sempre uma página “nova” na internet e de mudança contínua de assuntos.

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Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo, em Washington