Foi uma semana cheia de más notícias sobre a economia brasileira. Os fatos eram interligados, mas grandes jornais, como de costume, deixaram para o leitor o trabalho de juntar coisa com coisa. O rosário começou na segunda-feira (9/6): economistas do mercado financeiro haviam reduzido de 1,5% para 1,44% a projeção de crescimento econômico neste ano e de 1,85% para 1,8% a estimativa para 2015. Inflação ainda alta, consumo em queda, mais demissões na indústria e perspectiva de menor investimento industrial foram noticiados nos dias seguintes. Relatórios do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional apontaram de novo entraves ao crescimento brasileiro e recomendaram reformas. Ainda sobrou novidade ruim para a edição de sábado (14/6). Em abril, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) foi apenas 0,12% maior que em março e 0,67% menor que em abril de 2013.
Esse indicador funciona, para o BC e para o mercado, como antecipação, imperfeita mas útil, dos números do produto interno bruto (PIB), divulgados a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Depois de vários índices parciais de abril, maio e até de junho, esse dado reforçou a avaliação de um segundo trimestre muito ruim para a produção industrial e, de modo geral, para o emprego e para os negócios. No primeiro trimestre o PIB cresceu só 0,2%, segundo a primeira estimativa oficial. Nos últimos dias, economistas do setor privado especularam sobre um resultado próximo de zero, ou até negativo, no período de abril a junho.
Memória sem uso
Mais uma vez, na segunda semana de junho, os jornais foram editados como se as notícias da conjuntura fossem descontínuas. Alguns jornais publicaram todas, tratando-as, no entanto, como fatos isolados. Outros menosprezaram e deixaram de publicar algumas novidades, como se fossem inúteis ou de escasso interesse. Uma exceção foi o noticiário sobre as vendas do varejo em abril.
O tratamento foi mais amplo, nesse caso, porque algumas fontes decidiram – com perdão da palavra – contextualizar a informação. Para começar, o pessoal do IBGE apontou os danos causados pela inflação ao poder de compra dos consumidores. Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina do Banco Goldman Sachs, interpretou os dados do comércio como um sinal de estagflação, mistura de inflação alta com baixo crescimento econômico. Houve quem chamasse a atenção para a hipótese, segundo a linguagem da imprensa, de “PIB negativo”, uma forma torta de mencionar uma queda da produção. A consultoria LCA, citada em outra reportagem, mencionou “as condições ainda deterioradas do mercado de trabalho e a elevação dos preços”.
Nas seções de notícia, os jornais continuam, de modo geral, na dependência das fontes para juntar e articular os dados. De vez em quando algum colunista faz o serviço e oferece ao leitor um quadro organizado, fazendo as ligações ignoradas nas matérias principais. Só um jornal, O Globo, na edição de sábado (14), tentou traduzir em fatos conjunturais o IBC-Br de abril: “Os números do BC mostram, no entanto, que o atual cenário de inflação elevada, queda no consumo das famílias e fraco desempenho da indústria e do comércio ainda prejudica o crescimento”. Não é necessária muita ousadia para traduzir nesses termos a variação mensal de apenas 0,12%. Afinal, todo o noticiário sobre os últimos dois meses mostrou esses problemas.
Todos os grandes jornais publicaram os novos dados do BC. No mesmo dia, no entanto, nem todos citaram a nova sondagem da Fundação Getúlio Vargas sobre os planos de investimento industrial. Seria uma informação importante para a avaliação das perspectivas. Do primeiro para o segundo trimestre, segundo a pesquisa, diminuiu a porcentagem de empresas com plano de maior investimento – ou mesmo de qualquer investimento – nos doze meses seguintes.
Ao divulgar os últimos dados do PIB, o IBGE já havia mostrado uma queda do investimento produtivo no primeiro trimestre. Qualquer redator com a memória mais ou menos em ordem poderia enriquecer o material com esse dado. Mas o arquivo da memória tem sido usado muito raramente na produção do texto final do noticiário.