O objetivo de minhas aulas de “pensamento digital” é fazer com que os alunos saiam completamente informados sobre as mudanças que estão afetando o jornalismo. Aqui estão os principais tópicos e tendências que espero que eles dominem até o final do curso.
Em cada um destes tópicos, é importante pensar: o que isso significa? Por que é importante? Para onde isto irá nos levar? Adicionei um link ou dois para ajudá-lo a começar e fico feliz com comentários apontando o que falta nessa lista. Vamos a ela.
1. O compartilhamento como método de distribuição nas mídias sociais, já que as plataformas sociais, especialmente o Facebook, ocupam um grande espaço na relação com os usuários (ver: “O uso da notícia entre plataformas de mídias sociais”).
2. A mudançapara aplicativos e dispositivos móveis, que agora ocorre em uma velocidade impressionante (ver “Destravando receita e audiência em dispositivos móveis: novas ideias e boas práticas“).
3. Novos modelos de negócios para os veículos. Para além do método usual de gerar audiência para vender assinaturas e anúncios, incluindo:
** Captura de dados para anúncios direcionados e produtos personalizados.
** Venda de pesquisas e análises especializadas, seja por assinatura, como faz o GigaOm, ou por conversa, como o Techdirt.
** Eventos, aproveitando o poder convocatório do nome da empresa de notícias. (“Newsonomics do novo evento da Chattanooga Press“) (“A melhor estratégia para gerar renda por meio de eventos”)
** Publicidade nativa e modelo de agência, como fazem o Buzzfeed e a Vice (ver: “O BuzzFeed sabe o segredo?”).
**Modelos sem-fins lucrativos, como o ProPublica, Minn Post e Texas Tribune (ver: “Encontrando um ponto de apoio – Como iniciativas noticiosas sem fins lucrativos buscam sustentabilidade”).
** Financiamento coletivo (crowdfunding)e assinatura, como fazem Beacon, De Correspondent, The Guardian e Voice of San Diego.
** Faça sozinho. Iniciativas de uma única pessoa também podem funcionar.
4. Uso do Analytics na produção de notícias. Aprender com o comportamento da audiência, sem se tornar escravo dos números (ver: “Preferência da audiência e julgamento editorial: Um estudo sobre a influência da defasagem de tempo nos jornais online“).
5. Gerenciamento de “produto” das empresas de notícias. Integrar as equipes de tecnologia, editorial, empresarial e experiência de usuário (ver: ‘O condutor mestre’: Gerenciamento de produto em jornalismo).
6. Design interativo e melhoria da experiência do usuário por meio de uma ergonomia da notícia (ver: “Do jornalismo à experiência do usuário. Um caminho para, talvez, nunca mais retornar“).
7. Jornalismo de dados em todos os sentidos: coleta de dados, conexão com dados via API, visualização de dados, identificação de narrativas a partir dos dados, criação de banco de dados intuitivos a disposição da consulta do usuário, uso de sensores no trabalho noticioso (ver: A arte e a ciência do jornalismo de dados).
8. Melhorias contínuas nos sistemas de gerenciamento de conteúdo e, com elas, no fluxo de trabalho conforme uma cultura de engenharia se afirma em algumas novas empresas (ver: “Um olhar sobre Chorus, a plataforma de publicação da nova geração da Vox Media“) e (ver: Scoop: Um olhar sobre o CMS do New York Times).
9. Dados estruturados para obter mais valor da produção contínua de notícias (Ver: “Um motivo fundamental do porque sites jornalísticos devem mudar”) (ver: “Na Circa, não se trata apenas de fragmentar as notícias, mas de adicionar estrutura“).
10. Personalização dos produtos noticiosos. Por que enviar a todos a mesma reportagem? (“Como os sites noticiosos estão aumentando o engajamento com a personalização”)
11. Transparência e confiança, conforme o clássico “confie em nós, somos profissionais” dá lugar a “nos mostre seu trabalho” (“Caos online exige do jornalismo ações radicais para ganhar confiança”).
12. Conteúdo gerado pelo usuário (Open Journalism), incluindo a verificação de conteúdo gerado por usuário, jornalismo com articulação em rede, financiamento coletivo e mídias sociais como ferramenta de reportagem. As pessoas, anteriormente conhecidas como “audiência”, em uma colaboração frutífera com jornalistas ao longo de todo o arco de produção – da pauta ao trabalho finalizado (ver: Jornalismo aberto, do The Guardian).
13. Jornalismo robô e automatizado. Se as máquinas podem fazer um trabalho melhor e mais barato, os jornalistas humanos devem se mover mais para cima na cadeia de valor (ver: “A ciência de dados está levando o jornalismo robô para o mainstream”).
14. Criação de uma cultura ágil na Redação, de modo que adaptação, colaboração e experimentação não sejam algo tão difícil (ver: “Como levar agilidade à redação – o que os jornalistas tem a aprender com desenvolvedores de software“).
15. O modelo de franquia pessoal de notícias, que se baseia no acompanhamento individual de um jornalista (ver: 11 exemplos de recursos e detalhes do modelo de franquias pessoais no jornalismo digital).
16. Portais verticais e jornalismo de nicho. Fazer um bom trabalho e encontrar mercado para isso, conforme avança o processo de desagregação dos grandes meios generalistas (ver: “Essa vida vertical: Os modelos de mídia que admiro”).
17. O future do jornalismo contextual e explicativo, fornecendo o plano de fundo necessário para compreender as atualizações (ver: Um antídoto para a sobrecarga da web).
18. “Notícias como serviço”. Mais do que um produto que aparece na agenda da empresa de notícias, um serviço que ajude o usuário a fazer algo (ver: “Conteúdo x Serviço – O que há, agora, para as notícias?”).
19. Da escassez à abundância. Os jornalistas costumavam agregar valor publicando novidades. Agora eles podem servir aos usuários resgatando e organizando o melhor material a partir de um fluxo diário de conteúdo barato. Algo, por vezes, chamado de “curadoria”.
20. Apuração de fatos e controle de rumores. A imprensa costumava lidar com informações falsas simplesmente não as publicando. Agora existe uma obrigação direta em acompanhar e acusar histórias falsas (ver a iniciativa Emergent.info) (assinar o informativo semanal do Fact Checking Project).
21. “Não estamos no comando”. No passado, empresas de mídia produziam os noticiários e possuíam seus canais de distribuição. Agora novos e importantes atores (empresas com plataformas e governos), situam-se entre usuários e jornalistas. Trabalho jornalístico passa a circular em sites sem controle de editores. Aqueles que publicam notícias precisam estar aonde está o povo, ainda que muitos destes não saibam o que está sendo feito a estas pessoas. O público deve ser alertado quanto a isso (ver “Os jornalistas também precisam saber tudo sobre seu ambiente midiático“).
Veja também a resposta comentada a esta lista feita pelo professor de Comunicação de Massas da Louisiana State University Steve Buttry.
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Jay Rosen é professor de Jornalismo da New York University (NYU) e criador do blog Press Think, sobre crítica de mídia