Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As 10 tendências do jornalismo em 2014

Talvez o depoimento mais contundente, e significativo, nas 116 páginas do relatório “Tendências em Redações”, editado pelo Fórum Mundial de Editores (WEF), seja o da editora-chefe do escritório do The Guardian nos EUA, Janine Gibson, que liderou a cobertura do jornal durante as trepidantes semanas do affair Snowden e está de volta a Londres para assumir a edição digital do diário.

– Jornalistas são como as proverbiais baratas depois da guerra nuclear – eles vão encontrar um caminho, nós acharemos um caminho! – diz Janine em entrevista para o relatório, editado a cada ano com uma análise do que está acontecendo ou vai acontecer nas redações.

A compilação das 10 tendências de 2014 comprova que o jornalismo é mesmo resiliente e capaz de sobreviver a qualquer apocalipse, mas não sem uma boa dose de sobressaltos e de adaptações na travessia para o novo mundo. Vamos às tendências:

1. Proteção ao jornalismo na era da vigilância. Traumatizados pela ação dos serviços de segurança na apuração do caso Snowden, jornalistas estão adotando medidas similares às dos espiões e evitam ao máximo expor suas conversações, especialmente online e por telefone.

2. Mobile. Definido como “um alvo móvel” que ainda está por ser atingido pelas redações. No Financial Times, 62% do tráfego já vêm de smarthopnes e tablets. “Mobile first” é a expressão do ano, mas alguns analistas acreditam que a próxima onda será “plataformas agnósticas” – informação em tudo, complementarmente.

3. Verificação. Não acredite em tudo o que lê, especialmente se vier das redes sociais. O jornalismo profissional se volta para checar e confrontar o que está circulando – e iluminar a verdade. Seremos cada vez mais certificadores de informação.

4. Métricas. Redações se movem cada vez mais pelas análises de audiên­cias, valorizadas agora pelo nível de engajamento – o tempo permanecido nos conteúdos e suas características.

5. Vídeo. Ok, assunto batido, mas já não se fala mais em vídeo como área à parte. Vídeo passa a fazer parte da narrativa trivial do jornal, além de ser uma forma consistente de gerar novas receitas.

6. Mulheres no comando. Maioria em muitas redações, as mulhe­res ainda são minoria nas cabeças das redações. Mas, apesar de saídas rumo­rosas dos comandos do The New York Times e do Le Monde, mulheres estão chegando ao primeiro posto em núme­ros crescentes, inclusive no mundo em desenvolvimento.

7. Jornalismo colaborativo. Crescem as formas autônomas de sites investigativos, que atuam de forma independente mas que também divul­gam seus conteúdos nos veículos con­vencionais. A América Latina já tem uma rede deles.

8. Megamatérias. Grandes repor­tagens, com design excepcional e tex­tos de tirar o fôlego. O velho e bom jor­nalismo em profundidade, expandido e enriquecido pelo mundo digital, separa as crianças dos homens no novo mundo da comunicação.

9. Publicidade nativa. Considerada o grande desafio para a integridade dos veículos, é uma ten­dência em alta, com a criação de áreas próprias de produção de conteúdo patrocinado. Cresce também a disposi­ção dos melhores veículos de deixar claro o que é publicidade.

10. O novo editor. Em síntese, é aquele que não apenas distingue a boa e a má notícia e lidera pessoas, mas também conhece tecnologia e se preocupa com o lado business da informação.

>> A íntegra do relatório pode ser baixada em PDF aqui. Para sócios da WAN-IFRA, é grátis. Para não-sócios, custa 150 euros.

[Nota do OI: Uma versão integral, no Scribd, pode ser lida aqui (em inglês).]

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Marcelo Rech é diretor executivo de Jornalismo do Grupo RBS e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores