O The Washington Post quer se tornar um fornecedor de softwares para outras empresas de notícias, com o objetivo de desenvolver novas fontes de receitas e aumentar sua visibilidade como companhia de tecnologia.
O jornal americano, que acelerou a busca por receitas digitais desde que foi comprado pelo CEO da Amazon Jeff Bezos por US$ 250 milhões em 2013, tem sido procurado para licenciar o software que desenvolveu para alimentar seu site. Os clientes poderão incluir a recémlançada rede americana de jornais locais e regionais, que dá livre acesso aos produtos digitais do The Washington Post.
Jornais de alunos das universidades de Columbia, Yale e Maryland já usam o software de gerenciamento de conteúdo desenvolvido pelo Post como teste. O licenciamento do programa seria o passo seguinte nos esforços do jornal para gerar lucros com a área digital, uma vez que as operações impressas estão encolhendo.
O Post vem nadando contra uma correnteza forte. A agência Standard & Poor’s (S&P) estimou em setembro que os jornais e revistas dos Estados Unidos verão seus lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caírem de 5% a 9% até o fim de 2015. A receita com propaganda impressa deverá registrar novas quedas, segundo a S&P e “as estratégias digitais sozinhas não conseguirão conter a queda geral do Ebitda para as editoras de jornais, que terão de aumentar os preços das assinaturas e nas bancas para tentar estabilizar as receitas”.
“No curto e médio prazo, os negócios impressos fornecerão o dinheiro, até que as operações digitais possam se sustentar sozinhas”, diz Steve Hill, presidente do Washington Post. “No longo prazo, a batalha será digital. Estamos adotando o ponto de vista de longo prazo de Jeff Bezos”, acrescenta.
Acertar o passo
Bezos vem investindo no Post. Ele contratou 100 funcionários para a área editorial e lançou blogs e produtos digitais que incluem um aplicativo no tablet Fire, da Amazon, que oferece edições matutinas e noturnas. A empresa não divulga informações financeiras, mas executivos apontam para o crescimento do tráfego como evidência de que a estratégia está funcionando. Os visitantes únicos aumentaram 62% para 45,8 milhões em novembro, em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo a ComScore.
Mas é o lado tecnológico do negócio que dá os sinais mais claros da influência do fundador da Amazon. O Post contratou 20 engenheiros em 2014 e agora emprega 225, divididos entre desenvolvedores que trabalham em suas iniciativas digitais e em funções mais tradicionais de Tecnologia da Informação (TI) em sua unidade de impressão e nas áreas de recursos humanos, vendas e anúncios.
Shailesh Prakash, diretor de TI do jornal, diz que “tomou emprestada uma página da Amazon” para desenvolver um software que atenda as necessidades do Post e possa ser aberto para outros usuários. A Amazon Web Services, que fornece computação na nuvem para clientes que vão da CIA ao Netflix, tornouse a divisão que mais cresce na varejista online.
Martin Baron, o editor do Post, uniuse aos executivos da área comercial para descrever a companhia como “uma organização mais voltada para a tecnologia” desde que ela foi comprada por Bezos. O fundador da Amazon tem dito que quer “dar espaço” para o Post experimentar, livre da pressão por resultados. Mas a tarefa ainda é criar um modelo sustentado para a produção e venda de jornalismo.
“Somos uma empresa. Ele não nos comprou para fazer caridade”, disse Baron. “Experiências não são realizadas para sempre. O que se espera é que acertemos o passo. Já fizemos isso em termos de tráfego. Espero que isso também venha a significar dólares em algum ponto.”
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Shannon Bond, do Financial Times, em Nova York