No livro Manual do Foca: guia de sobrevivência para jornalistas, de Thais de Mendonça Jorge, a autora lembra que o jornal O Globo estampou, certa vez, a seguinte frase em suas páginas: “Se alguém… morreu, fugiu, casou-se, divorciou-se, partiu da cidade, deu um desfalque, foi vítima de um incêndio, teve uma criança, quebrou a perna, deu uma festa, vendeu uma fazenda, deu à luz a gêmeos, teve reumatismo, ficou rico, roubou uma vaca, roubou a mulher do vizinho, suicidou-se, caiu de um aeroplano, comprou um automóvel, fugiu com um belo homem… Isto é notícia. Telefone para a redação”.
Evidentemente, muitos destes acontecimentos não ganhariam veiculação dentro do conceito pós-moderno de notícia. Ainda assim, eles seguem a lógica do inesperado, do diferente. Fatos que não dão nas vistas todos os dias. Mas afinal, o que pode virar notícia? Em se tratando de jornalismo, os critérios de noticiabilidade variam de autor para autor. Cabe ao profissional escolher seus preferidos, avaliando se um acontecimento tem força para despertar o interesse do público. Nas ruas, interagindo com as pessoas, a intuição do repórter pesa demais para a composição do noticiário.
Nesse sentido, o assessor de imprensa é uma figura que ainda possui dificuldade de caracterização no ramo da comunicação. É jornalista? É relações públicas? O profissional que assim se autoproclama precisa de diploma para desenvolver seu trabalho? Qual carga horária o assessor deve respeitar? Em países como Estados Unidos, França e Portugal, já há respostas para inúmeras perguntas como essas. No Brasil, contudo, quem desempenha tal função fica num limbo pelo qual ora é regido pelos códigos jornalísticos, ora dos RPs.
Em assessoria, um bom relacionamento com a imprensa passa, em primeiro lugar, pelo caráter do profissional. Quem vê o jornalista da grande mídia como um mero canal para a divulgação de incontáveis releases, seguramente está fadado ao insucesso na área. Jornalista de veículo é esperto, matreiro. Não cai nas graças de qualquer informação, por mais que ela pareça satisfatória. A prática assim os fez.
Agentes de imprensa ou assessores?
Antes de Ivy Lee, o pai desse serviço especializado chamado assessoria de imprensa, havia uma figura que se equilibrava em uma linha tênue entre a informação jornalística e a total falta de ética. Os antigos “agentes de imprensa” (press agents), não tinham pudores em vender todo tipo de notícia, por mais espalhafatosa que fosse. Recebiam uma procuração de empresas no sentido de ver estampadas nos jornais, a qualquer custo, informações relacionadas a elas. Mentir e sofismar era expediente comum.
Embora os métodos tenham evoluído, é de se reconhecer que, atualmente, muitos assessores de imprensa permanecem regidos por essa lógica. Veem a mídia de massa como um mero trampolim para seus objetivos. No fundo, o relacionamento que criam com repórteres, editores, produtores é apenas uma fachada para sua intenção principal: usar a imprensa, ganhar dinheiro em cima das publicações espontâneas, evitando gastar recursos com os anúncios.
Quem contata o veículo para vender conteúdo laudatório, não tem vida longa. As pessoas não desejam saber quão maravilhosa uma corporação é, ou como é inteligente esta ou aquela personalidade. Ao público interessa isso, sim, quando publicado de forma contextualizada. “Forçar a barra” – pressionar o jornalista, às vezes – é digno de escárnio e condenação. Ademais, a informação sempre prevalece. Se ela estiver atrelada a figuras privadas que possam se beneficiar com tamanha repercussão, então o assessor fez um bom trabalho. De outro modo, as redações ganham um inimigo.
As assessorias de imprensa são compostas por profissionais de comunicação, não lobistas. Lembre-se disso.
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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo