A imprensa brasileira até que começou a fazer um bom trabalho depois que a “crise hídrica” se tornou realidade reconhecida no início deste ano.
Mas, antes disso, como tem sido tradicional com problemas sociais previsíveis ou até de sazonalidade garantida (como as inundações a cada verão), ela falhou na prática do jornalismo “preventivo”.
Um dos grandes enigmas da atividade do jornalismo (em especial o impresso) na era digital é definir a sua missão. Por séculos, foi informar o que aconteceu.
Mas, com a ascensão dos meios eletrônicos e da internet, esse trabalho pelos meios tradicionais se tornou supérfluo. Dar manchete para notícia que todo mundo já conhece há horas deixou de fazer sentido.
Mas só quem tem recursos humanos e dispõe de processos para fazer jornalismo de qualidade é capaz de antever os problemas que depois os outros meios vão noticiar. Investir em prever é o que o “velho” jornalismo pode fazer de relevante para preservar-se.
Infelizmente, não foi isso que se viu na falta de água, apesar de todos os indícios da crise que se acumulavam e da existência de trabalhos de cientistas com avisos do que iria ocorrer.
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Carlos Eduardo Lins da Silva, livre-docente e doutor em comunicação pela USP, mestre em comunicação pela Michigan State University e editor da revista Política Externa