Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Quem (des)organiza a opinião pública?

A corrupção na Petrobras e a cobertura de outros fatos pela imprensa nas últimas semanas – greve dos caminhoneiros, aumento da energia elétrica, combustível e até o confisco da poupança – têm trazido uma verdadeira desinformação à sociedade, principalmente às pessoas que não têm acesso à internet e dependem do noticiário da mídia tradicional – jornal, revista, rádio e TV. Para melhor compreender o porquê esse cenário de desorganização e de incertezas nas notícias, convém recorrer ao clássico Opinião Pública, do jornalista Walter Lippmann, escrito em 1922 e editado no Brasil em 2008. Dois tópicos na obra são fundamentais para esta discussão: a organização da opinião pública e a verdade versus a sinalização dos fatos.

Primeiro devemos ter claro: não confundir notícia com verdade, embora a objetividade jornalística dê a mesma resposta para as duas questões. Lippmann esclarece que cabe à verdade jogar luz sobre os fatos escondidos, relacioná-los com outros a fim de produzir uma imagem da realidade que permita às pessoas agirem e se autogovernarem, enquanto o jornalismo cumpre simplesmente a função de sinalizar os eventos. Essa diferença fica clara na reportagem especial da revista Veja, no título “Onde há fumaça… há fogo?” A partir daí enumera uma série de dados ao longo de 10 páginas para sinalizar e justificar a tese de que a credibilidade do governo Dilma acabou.

Para estender ainda mais o cenário negativo a revista enxerta à reportagem o fato do juiz do Rio de Janeiro andar com o Porsche apreendido pela Justiça e também as intrigas entre o PT e o PMDB. Palavras como desastroso, desconfiança e catastrófico são usadas para relatar a notícia. A estratégia aqui parece ser a mesma da propaganda, que restringe a compreensão dos eventos a fim de melhor adequá-los aos propósitos. Ou seja, a notícia é endereçada para aprofundar e vender o clima de crise no país.

Imprensa cria tensão

Lippmann diz que para dar conta da difícil missão de organizar com competência e inteligência a opinião pública, cabe ao governo formar equipes multidisciplinares capazes de fornecer informações relevantes para a tomada de decisões. Caso contrário, o papel de organizar e esclarecer a opinião pública ficam exclusivamente na mão da imprensa, que muitas vezes só quer atender os interesse da sua classe e vender aos anunciantes, e não servir com informações privilegiadas e relevantes os indivíduos.

Ao servir sempre mais do mesmo, a imprensa está criando uma tensão cada vez maior entre a sociedade e o governo, sem iluminar e contextualizar os fatos para esclarecê-los. Essa lógica leva a concluir que não interessa à população saber desde quando ocorre a corrupção na estatal e o verdadeiro motivo da origem do protesto dos caminhoneiros, muito menos esclarecer os boatos sobre o confisco do dinheiro do cidadão.

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Elstor Hanzen é jornalista