No sábado (1/10), a Rádio CBN completou 20 anos. Na época em que foi criada, a ideia de uma rádio, sem música, era absurda; entretanto, a Central Brasileira de Notícias adotava o slogan que ilustrava o desafio de quebrar a hegemonia da música no rádio: “a rádio que toca notícia”.
Mariza Tavares, diretora nacional de jornalismo da CBN, admite que foram necessários alguns anos para que a proposta fosse aceita pelo mercado, mas funcionou. Atualmente, a CBN se destaca pelo pioneirismo e conta com importantes concorrentes.
Além de comemorar as duas décadas, Marisa anuncia, com exclusividade à Imprensa, o lançamento do Manual de Jornalismo da CBN e destaca que a emissora não pode ser mais chamada de rádio, mas sim de um veículo multimídia.
Quais os fatores de sucesso do formato CBN nesses últimos 20 anos?
Mariza Tavares– A CBN buscou, já na sua concepção, acertar um nicho de mercado que não existia no Brasil: uma rádio que não tocasse música. O slogan é tão forte: “a rádio que toca noticia”, que nunca pensamos em mudar. É claro que por ser pioneira ela demorou a acontecer oficialmente, foi aos poucos conquistando o público qualificado. Não digo qualificado no sentido de poder aquisitivo, mas em termos de busca por informação. Além disso, o fato de ter sido pioneira já foi um diferencial.
Quanto tempo ela levou para acontecer comercialmente?
M. T. –De 1991 até 1998, foi muita dificuldade, inclusive para apresentar ao mercado. As pessoas sempre demoram para degustar a novidades, mas a CBN acabou sendo aprovada de uma forma vencedora, tanto que hoje em dia vemos que é um mercado que está fervilhando: o de notícias all news.
E de que maneira vocês mantêm esse pioneirismo?
M. T. –A gente não perde de vista a busca por qualidade. Estamos o tempo todo construindo nossa história e o patrimônio que temos, que é a credibilidade. Um bem que levamos muito tempo para criar e que deve ser alimentado. Criar novos conteúdos, novos talentos, fazer experimentações, criamos programas, como o “Fim de Expediente”, “Caminhos Alternativos”, o próprio “Diva do Gikovate”. Resgatamos, com alguns deles, a ideia do auditório, que era tão cara para o rádio quando ele foi criado. Mais recentemente criamos o “Mix Brasil”, voltado para o público GLS. Então, estamos sempre experimentando novos formatos. O que está aflorando e que temos obrigação de levar. Além disso, perseguimos sempre o erro zero, sempre o melhor.
Nessas experimentações, você se utiliza da proximidade com o ouvinte também?
M. T. –A interação hoje é crucial. Todos nossos ancoras têm Twitter; os próprios repórteres são estimulados a usar as redes sociais… Eu tenho certeza que o rádio é um veiculo mais próximo dos ouvintes. Antigamente era a carta, o telefone, hoje é por celular, torpedo, mensagem etc. Naturalmente, os próprios âncoras já tinham esse canal de comunicação. Hoje em dia ampliamos muito.
Quando você chegou à CBN, em 2002, qual era seu desafio?
M. T. –Primeiro eu tinha que aprender rádio [risos]. Quando cheguei aqui tinha eleição presidencial, Copa do Mundo… O grande desafio era exatamente como estar antenada para manter essa chama viva e alimentá-la, que novidades poderíamos trazer, de que forma a CBN poderia estar mais próxima de sua audiência sendo uma referencia de bom jornalismo. Isso é um grande desafio até hoje.
Como funciona a interação com suas afiliadas hoje?
M. T. –Temos uma relação bastante transparente: toda proposta de afiliação que a gente recebe, em primeiro lugar, é oferecido pela afiliada da TV Globo naquela cidade; se ela não se interessa por rádio, a gente vai para uma segunda etapa. As regras são não podem ter nada que fuja do perfil da CBN ou que possa ir de encontro ao próprio código de ética que temos. O bom da afiliada é que conseguimos uma boa troca de conteúdo. É claro que algumas são mais atuantes, outras não. E em contrapartida eles também têm uma janela para aparecer em rede.
Fale um pouco sobre o manual que está sendo lançado no dia 10 de outubro?
M. T. –O projeto do manual está sendo acalentado há muito tempo, mas manuais de rádio só a Jovem Pan fez um, na década de 1970. Pela própria história da CBN era importante que tivesse seu manual, mas não dava para fazer em ano de eleição. Eu aproveitei para lançar em 2011 por ser uma data redonda, que comemora os 20 anos. O manual me tomou o final do ano passado e todo o primeiro semestre. É claro que tive contribuição de várias pessoas; foi um trabalho feito em grupo, e a ideia do manual é mostrar como a gente trabalha e quais são as regras que temos. Tem um capítulo de mídias sociais e internet. Hoje, nenhum jornalista pode separar mais sua vida particular da privada na rede social. Inclusive, eu apresento a CBN não como rádio, mas como uma plataforma multimídia.
Como vocês lidam com as críticas de favorecer um ou outro lado político?
M. T. –Nós somos acusados “entre aspas” por todos os partidos, e enquanto todos nos acusam, estamos felizes… Isso mostra que estamos em um bom caminho. Realmente é muito difícil agradar a todos, mas nosso objetivo é ser plural.
Com base na experiência que vocês têm do programa Notícia em Foco, você acha que o interesse saudável pelo jornalismo sem ser aquele das celebridades está crescendo?
M. T. –O jornalismo é um agente transformador e as próprias pessoas ao terem seus blogs repararam nisso. Acho que a mídia social valorizou o jornalismo como um todo e a maioria dos internautas descobriu que o poder da transformação é natural. Eu tenho 30 anos de jornalismo e acho que, nesses últimos anos, a profissão se valorizou; tem um pouco às vezes de celebridade, mas as pessoas perceberam que a notícia e muito importante.