Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A arte de ser conduzido

O governador José Serra tem seu passado de grande homem público, economista influente, intelectual sólido. E de ampla indecisão, ainda mais em temas que exijam definições políticas.

A indecisão deixou o campo aberto para os novos ideólogos da oposição: a mídia, isso, o Kamel, Otavinho, o Civita com toda aquela sofisticação política e analítica já conhecida. E o Estadão correndo atrás.

Aí eles descobrem a grande sacada: a menção de Lula a Judas e ao papel da imprensa. Manipula-se a declaração de Lula, para servir de bandeira oposicionista. Eureka! Genial! Descoberta a pedra filosofal a orientar daqui para frente a oposição. A ordem unida ecoa por todos os cantos. Ouve-se CNBB aqui, deputados ali, Fenaj acolá, repercutamos, repercutamos.

E o Serra – que pode ter muitos defeitos, mas morre de medo do ridículo – é obrigado a ir atrás.

Manchete jubilosa

Daí o Estadão – que vive correndo atrás do eixo Veja-Globo-Folha invertendo a frase símbolo de São Paulo (não conduzo, sou conduzido) –, chega resfolegante para a repercussão, cerca Serra daqui, cerca dali e arranca uma declaração bombástica:

‘`A entrevista mostra bem o que é o Lula. De ponta a ponta, na forma e no conteúdo´, disse o governador de SP’

Bela frase, que não quer dizer absolutamente nada.

Aí o repórter insiste sobre o tema Judas:

‘Questionado se concordava que uma aliança entre Jesus e Judas seria necessária para 2010, Serra respondeu: `Não sei. Quem fala com Cristo pode perguntar a ele´.’

Ou seja, para uma pergunta tola, uma resposta que não quer dizer nada.

Não falou nada, nada disse. Mas o Estadão solta a manchete exultante:

‘Serra ironiza presidente Lula sobre aliança entre Jesus e Judas’

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Jornalista