Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A Casa Branca na palma da mão

O repórter Bob Woodward, que nos anos 70 se notabilizou ao desvendar, junto com seu colega de Washington Post, Carl Bernstein, boa parte do caso Watergate, lançou um novo livro, Plan of Attack, em que investiga os preparativos do governo Bush para a invasão do Iraque, confirmando sua posição de jornalista com maior acesso aos altos escalões ligados ao presidente. O livro rapidamente alcançou o topo das listas de mais vendidos. Mas qual é o segredo de Woodward? Como, enquanto os colegas reclamam que os atuais ocupantes da Casa Branca são os mais esquivos de todos os tempos, ele conseguiu entrevistar mais de 75 pessoas importantes – entre elas o próprio Bush, o secretário de Estado Colin Powell e o secretário de Defesa Donald Rumsfeld – para compor sua reportagem? ‘Trabalho duro’, diz o experiente jornalista.

Mark Memmot e Danna Harman [USA Today, 26/4/04] matam a charada do sucesso de Woodward: os altos funcionários do governo preferem falar com ele a ficar de fora de suas reportagens. ‘Eles perceberam que eu iria escrever o livro de qualquer maneira’, conta o jornalista.

O repórter explica que começou falando com pessoas de posição mais baixa, para ir colecionando elementos para o livro. Depois, usou o material que já tinha juntado para conseguir as entrevistas mais difíceis. Chegou a enviar um memorando de 21 páginas com algumas de suas conclusões para a Casa Branca, para conseguir que a presidência se manifestasse. Sidney Blumenthal, ex-conselheiro de Bill Clinton, aponta que o livro anterior de Woodward, Bush at War, também contribuiu para a abertura por parte da cúpula do poder, porque naquela obra o presidente era mostrado de forma positiva. ‘Eles acreditaram que este seria extremamente positivo’.

Saldo de gols

As opiniões sobre Plan of Attack são diversas. Enquanto há críticos que o consideram pouco firme com relação ao governo, o apresentador de rádio conservador Rush Limbaugh o tachou de ‘ladainha anti-Bush e antiguerra’. Quanto aos outros jornalistas em Washington, alguns deles acham que o livro de Woodward só piorará a falta de acesso ao governo. ‘Uma vez que a Casa Branca contou sua história ao Bob, pensará que ela já foi contada e que não há necessidade de fazê-lo de novo’, diz Carl Cannon, presidente da Associação de Correspondentes na Casa Branca e repórter da revista National Journal. ‘Pessoalmente, acho que isso não seja do interesse do presidente, da mídia ou do país’. Woodward se defende: ‘Não posso ser culpado por entrar em lugares onde outros repórteres não entram’.