Como se não fosse suficiente o escândalo e a possibilidade de desgaste da imagem de Lula no exterior, a decisão de cancelar o visto de Larry Rohter parece ter tido efeito ventilador. Espalhou-se pela mídia mundial e despertou a reação de grupos de defesa da liberdade de imprensa, como Repórteres Sem Fronteiras, Comitê para Proteção de Jornalistas, Federação Internacional de Jornalistas, entre outras, inclusive brasileiras, que falaram que o gesto é antidemocrático e lembra os tempos mais negros da ditadura militar no Brasil. Em entrevista a Claudia Pires [Reuters, 11/5], Verônica Goyzueta, chefe da Associação de Correspondentes Estrangeiros de São Paulo, afirmou que a expulsão de Rohter deveria preocupar todos os jornalistas no Brasil. ‘É um caso de censura e perseguição em um governo democrático, formado por pessoas que sofreram perseguição no passado’, disse.
A decisão foi anunciada pelo ministro da Justiça em 11/5, dois dias após a publicação da reportagem. Segundo ele, o artigo do New York Times ‘ofendeu a honra do presidente’.
Em reportagem que saiu em vários jornais e sítios noticiosos pelo mundo, Vivian Sequera [AP, 11/5] afirmou que o artigo causou forte reação entre os brasileiros, mesmo os de oposição e críticos usuais. Pouco antes de anunciar a cassação do visto, Lula disse aos repórteres que ‘o artigo não merece uma resposta, mas sim uma ação’.
Em 12/5, o Times publicou um artigo em que cita o editor-executivo do jornal, Bill Keller: ‘se o país pretende expulsar um jornalista por escrever um artigo que ofendeu o presidente, isso levantaria sérias questões sobre o compromisso proferido do Brasil com a liberdade de expressão’.
De sua parte, Roberto Abdenur, embaixador do Brasil em Washington, enviou uma carta no dia 10/5 à redação do Times, a qual foi publicada no dia seguinte. Dirigindo-se ao editor do jornal, expressou sua ‘perplexidade e indignação’ em relação ao famigerado artigo. O ministro Guido Mantega afirmou que a reportagem visava a enfraquecer o governo Lula, considerado uma ameaça aos interesses comerciais dos EUA. Os comentários gerais dos defensores de Lula, segundo a AFP [11/5], foi de que as acusações do Times são uma grande salada de preconceito, desinformação e má-fé. A BBC [12/5] informou, ainda, que alguns políticos chegaram a afirmar que Rohter inventou a história enquanto bebia, ele próprio, sua cerveja.