A questão nuclear do Irã é assunto internacional ou nacional? É verdade que uma bomba nuclear iraniana não ameaçaria o Brasil, mas também é verdade que há 68 anos, quando o Brasil rompeu relações com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), não estávamos diretamente ameaçados. E, no entanto, fomos à Europa para lutar contra o nazi-fascismo – aliás, os únicos latino-americanos a fazê-lo.
Pouco importa se a nossa diplomacia desta vez soube usar as táticas apropriadas para abortar uma radicalização no Oriente Médio, o que importa é que o Brasil percebeu que o Irã com a bomba gera maiores perigos para a paz mundial do que a bomba indiana, norte-coreana ou mesmo paquistanesa.
Se, em 1994, o atual regime iraniano não teve escrúpulos em atuar no centro de Buenos Aires provocando a morte de 85 pessoas e ferimentos em mais de 200 – todos judeus – é fácil imaginar o que poderá fazer quando tiver acesso à tecnologia nuclear para varrer Israel do mapa conforme promete.
Dividendos políticos
Nossa mídia cobriu a jogada diplomática brasileira em Teerã de forma displicente, linear, pouco sutil, como faz com uma partida de futebol onde só os gols interessam. Por isso nossos especialistas em política mundial não conseguiram lembrar de que a presença brasileira nos grandes fóruns internacionais começou quando acabou a Segunda Guerra Mundial.
O brasileiro Oswaldo Aranha foi escolhido para presidir a ONU em 1947 justamente em função da sua atuação em 1941 e 1942, levando o país a afastar-se do Eixo e aderir à causa democrática.
Não há dúvidas de que o governo tiraria um grande proveito político se fosse bem sucedido em Teerã, mas isso não é proibido. O que causa espanto é a constatação de que nossa imprensa abriu mão da sofisticação e se satisfaz plenamente com o lugar-comum.