Desde 1998, todos os anos em que há eleição presidencial no Brasil, os grandes jornais anunciam ambiciosos projetos editoriais para a cobertura das campanhas. Em 2006, até mesmo os diários do interior paulista, organizados em torno da Associação Paulista de Jornais, contrataram consultores e tentaram organizar a publicação em conjunto de notícias, entrevistas e análises, com a proposta de oferecer uma cobertura mais equilibrada da disputa.
Nenhuma dessas experiências resultou em um jornalismo mais equilibrado, mesmo porque, na própria escolha dos consultores e analistas predominavam as preferências dos controladores da imprensa.
Neste ano, renovam-se as promessas de proporcionar aos leitores uma cobertura distanciada e inovadora, mas o que se vê na prática ainda é o predomínio da vontade do dono.
A imprensa invariavelmente se associa aos candidatos, partidos e coligações que, segundo seu viés muito próprio, parecem mais conservadores. Considere-se aqui a expressão ‘conservador’ para aqueles que não representam risco aparente de mudança no sistema político e econômico.
Assim, até mesmo a candidata Marina Silva pode ser vista como conservadora, se a imprensa julgar que seu discurso ambientalista não é denso e abrangente o suficiente para alterar o status quo.
Sem comparações
Tem esse sentido a ampla reportagem da revista Época desta semana, na qual a revista do Grupo Globo tenta provar que o Estado brasileiro é controlado por sindicalistas.
O trabalho de pesquisa, recheado de opiniões de especialistas, procura demonstrar que o atual governo inchou a máquina administrativa e a entregou a seus aliados das centrais sindicais.
A reportagem tem um viés claramente ideológico, no sentido em que condena, sem maiores discussões, o que a revista considera como poder excessivo do Estado. Mas não oferece comparações com outros governos, com relação ao orçamento ou mesmo ao Produto Interno Bruto ou ao tamanho da economia.
Soa como mais uma peça de campanha eleitoral do que como jornalismo.