Encerrada a Copa do Mundo na África do Sul, os olhares se voltam para o Brasil, onde o mundo do futebol é abalado por mais um crime hediondo.
Tanto a perspectiva de um evento dessa envergadura quanto a gravidade dos acontecimentos que envolvem o comportamento de jogadores de futebol, ídolos de milhões de jovens e crianças, merecem um jornalismo mais qualificado.
Começa a se tornar evidente que a cobertura do esporte mais popular do País precisa receber uns ajustes. Precisa oferecer muito mais do que os comentários sobre táticas e jogadas ensaiadas e observar também o entorno dos gramados, os aspectos econômicos e sociais do jogo.
As grandes verbas movimentadas para a realização da Copa obrigam a falar de economia e de transparência nos negócios públicos. O crime que tem como protagonista o goleiro Bruno, do Flamento, obriga a abordar a questão social.
Quanto ao episódio que tem como vítima a jovem Eliza Samudio, o Globo é o primeiro dos grandes jornais a dar destaque para a questão da violência contra a mulher. Com chamada na primeira página, o jornal carioca publicou, no domingo (11/7), ampla reportagem relatando que o Brasil está em 12º lugar no ranking dos crimes contra mulheres.
Campeonato da truculência
Uma mulher é morta a cada doze horas no Brasil e as denúncias por atos violentos contra mulheres cresceram 65% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2009. O Estado do Rio de Janeiro tem dez das trinta cidades em que ocorrem mais agressões contra mulheres, o que poderia ser visto como um indicador de covardia e intolerância.
Como se vê, uma reportagem em apenas um jornal, durante mais de dez dias de intensa cobertura sobre um caso tão estarrecedor, é pouco diante da banalidade em que se transformou a violência de gênero. A reportagem do Globo revela, entre outras coisas, que o Brasil tem uma legislação protetora mas não possui estrutura para abrigar as vítimas.
Além disso, muitos relatos indicam que mesmo nas delegacias especializadas as vítimas são destratadas pelos policiais e atendentes e muitas vezes constrangidas diante de seus próprios agressores. A convicção machista é de que, se a mulher apanhou, foi porque aprontou alguma.
A Copa de 2014 vem aí, mas o campeonato que o Brasil precisa vencer de fato é o da civilidade contra a truculência.
Leia também
Um Brasil de Brunos e Elizas — L.M.C.