O novo plano educacional e a reforma do ministério, com todo o fuzuê em torno da indicação de Odílio Balbinotti para a Agricultura, foram dois dos assuntos econômicos mais importantes da semana passada, talvez os mais importantes. Ficaram fora, no entanto, das seções de Economia dos principais jornais pelo menos até domingo (18/3). Um dos temas foi tratado como essencialmente político; o outro, como pauta ‘de geral’ ou de uma editoria especializada e quase sempre sem contato com a área econômica da redação.
O Globo saiu na frente na cobertura política do caso Balbinotti. Destacou em manchete, já na quinta-feira (15/3), que havia processo no Supremo Tribunal Federal contra o indicado pelo PMDB para o Ministério da Agricultura. Outros jornais mencionaram o fato, no mesmo dia, mas puseram em primeiro plano o sucesso do PMDB na disputa de cargos.
A cobertura política centrou-se – até a desistência de Balbinotti, anunciada no sábado (17) – na trapalhada em que se meteram a cúpula peemedebista e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas a trapalhada, além de cômica, só é importante, objetivamente, porque revela uma concepção de governo.
Acomodação burocrática
O presidente da República disse, na semana passada, que não se pode brincar com educação e saúde. Conceda-se: ele não queria dizer que se possa brincar com os demais assuntos de governo. Mas, ainda assim, confessou sem querer que noutras áreas é admissível, digamos, uma certa flexibilidade. A aceitação quase totalmente passiva das indicações partidárias é uma prova disso.
Se a agricultura é uma dessas áreas, por que o governo vive brigando com americanos e europeus, em processos na Organização Mundial do Comércio, e ainda trata o assunto como questão central nas negociações da Rodada Doha? Ou se trata de esquizofrenia ou de algum outro desarranjo ainda insuspeitado. Se os jornais cobrissem a reforma ministerial, desde o começo, como assunto não só político, mas também econômico, o noticiário teria ido muito além das trapalhadas e da briga entre partidos pelos pedaços da pizza governamental.
As editorias de Economia também têm ficado longe, habitualmente, das questões educacionais. São forçadas, de vez em quando, a tratar do assunto. Não podem evitá-lo quanto apresentam, por exemplo, comparações internacionais de competitividade. Mas o mais comum é desconhecerem o tema, até por acomodação burocrática. Se há uma seção para cuidar dessas pautas, para que criar confusão na área?
Mais curiosidade
Essa divisão burocrática de tarefas produz conseqüências cômicas. Enquanto tramita no Congresso, o projeto de orçamento é coberto pela editoria Política. Depois de aprovado, entra na pauta de Economia. Com essa acomodação, o novo plano educacional, melhor que todo o resto do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), acabou ficando fora das páginas econômicas, embora uma de suas principais novidades – a adoção do sistema de metas e de avaliações – tenha sido ressaltada em boa matéria do jornal Valor no começo da semana passada.
Os assuntos ‘tipicamente econômicos’, como a turbulência nas bolsas de todo o mundo e nova tentativa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de interferir na política de juros, foram tratados com o devido realce e com suficiente clareza. Faltou garra, no entanto, no tratamento do relatório do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apresentado numa coletiva por seu presidente, Demian Fiocca. Todas as matérias acabaram ressaltando o que ele apresentou como importante.
Com um tiquinho mais de curiosidade, a moçada dos jornais poderia ter notado que os indicadores de financiamentos para o setor elétrico eram muito ruins. Num momento em que se discute o risco de apagão por volta de 2010, valeria a pena ter dado alguma atenção aquele detalhe.
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Jornalista